É impressionante o que as épocas de crise fazem com a criatividade das pessoas. A atual crise mundial está fazendo com que o Brasil volte a pensar em trocar commodities agrícolas, prática muito comum nos anos 1980.
As duas reportagens abaixo, de autoria de Roberto Tenório, foram publicadas na Gazeta Mercantil de hoje e comentam sobre a possível troca de carne suína por trigo da Rússia e a prática adotada no passado:
As duas reportagens abaixo, de autoria de Roberto Tenório, foram publicadas na Gazeta Mercantil de hoje e comentam sobre a possível troca de carne suína por trigo da Rússia e a prática adotada no passado:
Governo avalia escambo de carne suína por trigo da Rússia
Representantes dos produtores de Santa Catarina estão articulando com o Governo Federal a proposta de escambo entre o trigo russo e a carne suína brasileira para diminuir a pressão interna. A estratégia é pegar carona na quebra da produção de trigo argentino, principal fornecedor do Brasil e usar como moeda de troca pelo menos 50 mil toneladas de carne. A Rússia consome quase 50% da carne suína brasileira e é um dos maiores produtores mundiais de trigo. A troca também seria favorável aos russos, que viram suas divisas com petróleo e gás recuarem brutalmente nos últimos meses por causa da queda das commodities, reduzindo seu potencial de compra. No entanto, empresários do setor moageiro alertam que a troca pode ser desfavorável, pois além de ser inadequado para panificação - que é de longe o mais consumido -, o trigo russo pode saturar a oferta no mercado interno e derrubar mais os preços em plena safra.
Um dos articuladores da medida, o deputado federal (PSDB-SC) e presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, Valdir Colatto, calcula que as 50 mil toneladas de carne suína equivalem a R$ 150 milhões. Ele explica que a transação será realizada diretamente entre as empresas. "As cooperativas de Santa Catarina possuem condições de moer parte desse trigo e utilizar na produção de carnes. O que sobrar pode ser armazenado e negociado com algum moinho que se interessar", explica. Ele ressaltou que o suinocultor catarinense é o que enfrenta mais problemas com a queda nos embarques. "É uma medida momentânea".
Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, explica que o trigo russo é considerado de baixa qualidade e mais utilizado na produção de biscoito. Ele explica que o mercado brasileiro consome muito o tipo para panificação. "Do ponto de vista econômico, é mais adequado comprar o trigo do Canadá. Mas a proposta de troca precisa ser levada em consideração". Segundo informou, a commodity russa não sairia por menos de US$ 280 a tonelada. Já o trigo canadense chegaria por US$ 270 a tonelada tomando como base as cotações de terça-feira.
Troca entre produtos foi recurso estratégico nos anos 1980
A troca de produtos brasileiros no mercado internacional já foi utilizado como estratégia em outros momentos de crise. Entre 1983 e 1988, a Volkswagen utilizou 170 mil modelos Passat como moeda de troca por petróleo, que atingiu picos históricos no período. À época, o Brasil tinha que enviar um navio para buscar o produto na região, que estava no auge da guerra Irã - Iraque. O produto foi bem recebido no país árabe e acabou ganhando o apelido de Brasili.
O deputado federal (PSDB-SC) e presidente da Fernte Parlamentar Agropecuária, Valdir Colatto, revela que a opção também foi utilizada no início dos anos 1990. "Na situação, a carne também foi trocada pelo trigo". Nesse período, o País enfrentou uma grave escassez do produto provocada pela retirada do subsídio governamental e abertura do mercado. Segundo informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção recuou de 5,4 milhões de toneladas em 1990 para 3,3 milhões de toneladas em 1991.
"A proposta não foi nossa, mas se isso ocorrer (a troca) será muito bom para o setor", avaliou Rubens Valentini, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (Abcs). Segundo informou, os três últimos meses de 2008 tiveram um volume total exportado equivalente a metade de um mês normal. "A partir disso começou a sobra mercadoria por aqui".
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