A venda de créitos de carbono já está aumentando a rentabilidade de muitas empresas brasileiras. Trata-se de uma boa oportunidade de aprimorar negócios e faturar mais. A matéria abaixo é do Valor Econômico:
CRÉDITOS DE CARBONO JÁ ENGORDAM O CAIXA DE GRUPOS BRASILEIROS
A pequena Raudi, uma empresa paranaense ligada ao setor sucroalcooleiro, vai receber nos próximos cinco anos 1 milhão de euros com a venda de créditos de carbono a um grande banco em Londres. Na Bahia, a Penha Papéis e Celulose estima obter 2,1 milhões de euros de um banco alemão com o mesmo tipo de operação. Em São Paulo, a expectativa gira em torno do primeiro leilão do mundo de créditos de carbono: a Prefeitura colocará à venda o volume expressivo de 808.450 toneladas de CO2 equivalente gerados pelo Aterro Bandeirantes. A expectativa, no caso, é de embolsar no mínimo 9 milhões de euros.
Embora ainda pouco conhecidos no país, os créditos de carbono já são uma realidade e começam a ser uma fonte de receita extra para as empresas brasileiras. Além das indústrias, são beneficiadas consultorias e bancos do país.
O Brasil possui hoje 61 empresas com créditos já emitidos pela ONU - isto é, efetivamente recebendo dinheiro. Em volume, representam 11,3 milhões de toneladas de CO 2 equivalente - cada tonelada equivale a um crédito - que deixam de ser jogados no ar. Outra centena de projetos brasileiros pleiteia o registro e aguarda o aval da autoridade internacional.
Por serem contratos estudados caso a caso, sob regras de mercado, especialistas não arriscam prever o volume de aportes que já entraram no país. Mas é possível estimar. A grosso modo, tomando-se como base o preço médio de 2006, de 8 euros, chega-se ao valor aproximado de 90,4 milhões de euros (R$ 240 milhões).
"Para projetos bons ou já registrados oferecemos preços altamente competitivos", diz Phillip Hauser, gerente de originação da consultoria EcoSecurities, peso-pesado do mercado com 55 projetos brasileiros aprovados na ONU.
O valor econômico criado para encorajar empresas e países industrializados a minimizarem seu impacto no ambiente propiciou um novo nicho de mercado nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Um deles é o das consultorias, cuja participação é crucial para tirar do papel os projetos de carbono, chamados de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).
Segundo levantamento mais recente da ONU, 37 consultorias trabalham com esses projetos no Brasil. Muitas nasceram nos últimos quatro anos, na esteira do Protocolo de Kyoto. Outras simplesmente ampliaram o escopo de seus negócios, entrando no mundo do MDL.
Na maioria dos casos, são essas consultorias que arcam com riscos e custos de até US$ 200 mil necessários para todas as fases do projeto - elaboração, validação, aprovação, registro e verificação. Em troca, recebem os créditos futuros gerados nos projetos, negociados a um preço fixo, que serão revendidos a europeus e japoneses, obrigados pelo Protocolo de Kyoto a reduzir suas emissões de gases.
"Por assumir os riscos [cerca de 40% dos custos são investidos antes mesmo de se saber se o projeto sairá ou não], as consultorias conseguem reduzir o preço da tonelada de carbono que receberá no futuro", diz Hauser, da EcoSecurities. Segundo ele, a compra de créditos de um projeto que nem saiu do papel - sem garantia de entrega - pode ser de 7 euros por tonelada. A revenda chega a até 14,00 euros.
A margem é possível porque a EcoSecurities trabalha com um portfólio de mais de 400 projetos no mundo. "Compramos créditos de muitos pequenos projetos a preço garantido e vendemos grandes volumes dos chamados créditos secundários, gerados pelo conjunto de projetos, que já não têm mais riscos e limitações de projetos individuais", diz Hauser. No Brasil, os projetos mais atraentes são nos setores de co-geração, suinocultura e aterros sanitários.
De forma tímida mas gradual, os bancos também começam a avançar sobre este mercado. O mais agressivo é o ABN Amro Real, que conta com o estímulo - e uma carteira de potenciais compradores - da matriz e filiais na Europa.
Entre os bancos brasileiros, o Unibanco anunciou neste mês uma linha de financiamento com o JBIC (Banco do Japão para Cooperação Internacional) de US$ 50 milhões, só para projetos de MDL.
Maurik Jehee, superintendente para vendas de créditos de carbono do ABN Real, explica que o banco busca dois tipos de operações. A intermediação - compra e venda de créditos - e á estruturação financeira do negócio, considerada mais interessante devido ao retorno alto. "Em geral, o spread entre compra de créditos e venda varia de 0,10 a 0,20 euros por tonelada", diz Jehee. "Mas ganhamos mais com a antecipação", afirma. Em 2007, o ABN fechou sete operações de intermediação de créditos, equivalentes a 383 mil toneladas de CO2.
Em projetos de estruturação, foram desembolsados R$ 41,9 milhões, seja em pagamento com o crédito em garantia ou antecipado. "Nós cobramos o cliente por assumir os riscos de mercado e performance", diz ele. "O prazo médio dessas operações é de 2,5 anos, com 2% ao ano do saldo devedor".
"Não há dúvida de que o crédito de carbono é um business. Na pauta de exportações brasileiras, já há 30 referências a créditos de carbono", afirma Marco Antonio Fujihara, da Totum Sustentabilitas.
O sinal mais emblemático disso, diz Fujihara, está no fato de o Brasil ter se tornado o primeiro país da América Latina, e um dos poucos do mundo, a fechar o primeiro contrato de comercialização de carbono que vigorará após 2012 - fim do período de compromisso de Kyoto, que determina que países industrializados cortem suas emissões de gases do efeito estufa em 5% frente aos níveis de 1990.
Apesar do mercado que se avista, a receita exterior não chega a ser significativa para as empresas brasileiras, donas dos projetos. Isso porque geram, em sua grande maioria, volumes pequenos de carbono. Na China, onde se queima muito combustível fóssil, um projeto de MDL emite em média 70 mil toneladas de CO2 por ano. No Brasil, que tem matriz energética limpa, são 30 mil toneladas.
"Os créditos de carbono são apenas a cereja do bolo", diz Shigueo Watanabe, da consultoria Geoklock, lembrando que não são o "core business" da empresa. Os créditos são, acima de tudo, uma tentativa de minimizar os danos do homem ao meio ambiente (Valor, 11/9/07)
CRÉDITOS DE CARBONO JÁ ENGORDAM O CAIXA DE GRUPOS BRASILEIROS
A pequena Raudi, uma empresa paranaense ligada ao setor sucroalcooleiro, vai receber nos próximos cinco anos 1 milhão de euros com a venda de créditos de carbono a um grande banco em Londres. Na Bahia, a Penha Papéis e Celulose estima obter 2,1 milhões de euros de um banco alemão com o mesmo tipo de operação. Em São Paulo, a expectativa gira em torno do primeiro leilão do mundo de créditos de carbono: a Prefeitura colocará à venda o volume expressivo de 808.450 toneladas de CO2 equivalente gerados pelo Aterro Bandeirantes. A expectativa, no caso, é de embolsar no mínimo 9 milhões de euros.
Embora ainda pouco conhecidos no país, os créditos de carbono já são uma realidade e começam a ser uma fonte de receita extra para as empresas brasileiras. Além das indústrias, são beneficiadas consultorias e bancos do país.
O Brasil possui hoje 61 empresas com créditos já emitidos pela ONU - isto é, efetivamente recebendo dinheiro. Em volume, representam 11,3 milhões de toneladas de CO 2 equivalente - cada tonelada equivale a um crédito - que deixam de ser jogados no ar. Outra centena de projetos brasileiros pleiteia o registro e aguarda o aval da autoridade internacional.
Por serem contratos estudados caso a caso, sob regras de mercado, especialistas não arriscam prever o volume de aportes que já entraram no país. Mas é possível estimar. A grosso modo, tomando-se como base o preço médio de 2006, de 8 euros, chega-se ao valor aproximado de 90,4 milhões de euros (R$ 240 milhões).
"Para projetos bons ou já registrados oferecemos preços altamente competitivos", diz Phillip Hauser, gerente de originação da consultoria EcoSecurities, peso-pesado do mercado com 55 projetos brasileiros aprovados na ONU.
O valor econômico criado para encorajar empresas e países industrializados a minimizarem seu impacto no ambiente propiciou um novo nicho de mercado nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Um deles é o das consultorias, cuja participação é crucial para tirar do papel os projetos de carbono, chamados de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).
Segundo levantamento mais recente da ONU, 37 consultorias trabalham com esses projetos no Brasil. Muitas nasceram nos últimos quatro anos, na esteira do Protocolo de Kyoto. Outras simplesmente ampliaram o escopo de seus negócios, entrando no mundo do MDL.
Na maioria dos casos, são essas consultorias que arcam com riscos e custos de até US$ 200 mil necessários para todas as fases do projeto - elaboração, validação, aprovação, registro e verificação. Em troca, recebem os créditos futuros gerados nos projetos, negociados a um preço fixo, que serão revendidos a europeus e japoneses, obrigados pelo Protocolo de Kyoto a reduzir suas emissões de gases.
"Por assumir os riscos [cerca de 40% dos custos são investidos antes mesmo de se saber se o projeto sairá ou não], as consultorias conseguem reduzir o preço da tonelada de carbono que receberá no futuro", diz Hauser, da EcoSecurities. Segundo ele, a compra de créditos de um projeto que nem saiu do papel - sem garantia de entrega - pode ser de 7 euros por tonelada. A revenda chega a até 14,00 euros.
A margem é possível porque a EcoSecurities trabalha com um portfólio de mais de 400 projetos no mundo. "Compramos créditos de muitos pequenos projetos a preço garantido e vendemos grandes volumes dos chamados créditos secundários, gerados pelo conjunto de projetos, que já não têm mais riscos e limitações de projetos individuais", diz Hauser. No Brasil, os projetos mais atraentes são nos setores de co-geração, suinocultura e aterros sanitários.
De forma tímida mas gradual, os bancos também começam a avançar sobre este mercado. O mais agressivo é o ABN Amro Real, que conta com o estímulo - e uma carteira de potenciais compradores - da matriz e filiais na Europa.
Entre os bancos brasileiros, o Unibanco anunciou neste mês uma linha de financiamento com o JBIC (Banco do Japão para Cooperação Internacional) de US$ 50 milhões, só para projetos de MDL.
Maurik Jehee, superintendente para vendas de créditos de carbono do ABN Real, explica que o banco busca dois tipos de operações. A intermediação - compra e venda de créditos - e á estruturação financeira do negócio, considerada mais interessante devido ao retorno alto. "Em geral, o spread entre compra de créditos e venda varia de 0,10 a 0,20 euros por tonelada", diz Jehee. "Mas ganhamos mais com a antecipação", afirma. Em 2007, o ABN fechou sete operações de intermediação de créditos, equivalentes a 383 mil toneladas de CO2.
Em projetos de estruturação, foram desembolsados R$ 41,9 milhões, seja em pagamento com o crédito em garantia ou antecipado. "Nós cobramos o cliente por assumir os riscos de mercado e performance", diz ele. "O prazo médio dessas operações é de 2,5 anos, com 2% ao ano do saldo devedor".
"Não há dúvida de que o crédito de carbono é um business. Na pauta de exportações brasileiras, já há 30 referências a créditos de carbono", afirma Marco Antonio Fujihara, da Totum Sustentabilitas.
O sinal mais emblemático disso, diz Fujihara, está no fato de o Brasil ter se tornado o primeiro país da América Latina, e um dos poucos do mundo, a fechar o primeiro contrato de comercialização de carbono que vigorará após 2012 - fim do período de compromisso de Kyoto, que determina que países industrializados cortem suas emissões de gases do efeito estufa em 5% frente aos níveis de 1990.
Apesar do mercado que se avista, a receita exterior não chega a ser significativa para as empresas brasileiras, donas dos projetos. Isso porque geram, em sua grande maioria, volumes pequenos de carbono. Na China, onde se queima muito combustível fóssil, um projeto de MDL emite em média 70 mil toneladas de CO2 por ano. No Brasil, que tem matriz energética limpa, são 30 mil toneladas.
"Os créditos de carbono são apenas a cereja do bolo", diz Shigueo Watanabe, da consultoria Geoklock, lembrando que não são o "core business" da empresa. Os créditos são, acima de tudo, uma tentativa de minimizar os danos do homem ao meio ambiente (Valor, 11/9/07)
Nenhum comentário:
Postar um comentário