terça-feira, julho 31, 2007

Os produtores de cana também querem compartilhar dos ganhos da Bolsa de Valores

A onda de IPOs do setor canavieiro e seus consequentes ganhos nos valores das ações, fez com que algumas pessoas começem a questionar o atual modelo de pagamento de cana aos fornecedores no estado de São Paulo (CONSECANA), que leva em conta os valores de mercado de açúcar e álcool.

A reportagem abaixo, publicada na Gazeta Mercantil de 27 de julho, levanta esta questão:

MODELO CONSECANA: LAVOURA NÃO RECEBE POR GANHO DE USINA EM BOLSA

Modelo Consecana é imperfeito porque deixa de captar a vantagem no mercado futuro. As usinas de açúcar do Paraná receberam em junho 13% mais pelo açúcar exportado que as indústrias de São Paulo, segundo o indicador Açúcar de Mercado Externo (AME) do Conselho dos Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool (Consecana) dos dois estados. Mas, analistas acreditam que, dificilmente, as usinas paulistas negociaram com desvantagem. A questão é que o modelo Consecana não capta os ganhos que o setor obtém na fixação em Bolsa e, por isso, essa diferença não é repassada ao plantador de cana-de-açúcar de São Paulo.

O consultor de gerenciamento de risco, da FCStone, Mário Silveira, avalia que as usinas paulistas são mais tradicionais no uso de mecanismos de gerenciamento de risco e, por isso, é difícil que tenham feito contratos mais desvantajosos. Assim, a hipótese levantada por ele é a de que os usineiros de São Paulo podem ter fixado na Bolsa de Nova Iorque (Nybot) diretamente e a um determinado valor e, meses depois, com a queda nos preços, ter fechado os contratos no mercado físico a um preço menor. "Pode ter ocorrido uma fixação na Nybot no momento em que o mercado estava, por exemplo, a 13 centavos de dólar por libra-peso; com a queda nos meses seguintes, ter havido o fechamento do contrato internamento em 11 centavos", exemplifica o consultor. Ele esclarece que a diferença - 2 centavos de dólar por libra-peso - representa o ganho no mercado futuro e que trata-se de uma operação legal. "Se o preço tivesse subido, elas não teriam ganhado nada, apenas protegido o valor do produto contra oscilações".

O diretor de Comércio Internacional de Açúcar da tradding CristalServ, Cesar Frossard, explica que a maior parte das usinas de açúcar comercializam a produção no mercado futuro. Ele estima que entre 80% e 90% da açúcar de exportação da safra 2007/08 - que termina em março de 2008 - já está com preços fixados no mercado internacional e com bons preços, bem acima do nível atual do mercado físico. "Esse percentual de venda antecipada é superior entre os sócios da CristalServ, que representa 13 usinas com volume de exportação estimado em 1,275 milhão de toneladas de açúcar.

Mas, os indicadores do Consecana-SP mostram números decrescentes de preços de exportação de açúcar cristal em São Paulo nos três primeiros meses desta safra. O valor foi de R$ 27,85 por tonelada em abril, de R$ 25,20 em maio e, de R$ 22,61 em junho. De acordo com a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), Miriam Bacchi, de fato, o Consecana não consegue captar esse movimento em bolsa por que é difícil identificar o que é um movimento especulatório e o que é negociação real.

O presidente da Organização dos Produtores de Cana-de-açúcar do Centro -Sul (Orplana), Ismael Perina Júnior, reconhece que essas operações são feitas pelas usinas e que é difícil identificá-las e acompanhá-las. Mas, de qualquer forma, continua ele, a proteção de preço feita pela usina representa também menor risco ao preço pago ao plantador.

"Além disso, o modelo Consecana é de livre adesão e, apenas uma das possibilidades de o plantador negociar no mercado", observa Perina. Ele reconhece que o Consecana tem que evoluir, mas ainda assim, considera que o modelo é "bastante coerente".
Para Silveira, a discussão deveria resultar na criação de ferramentas para que o produtor possa fazer hedge da matéria-prima, o que hoje não existe.

O usineiro Maurílio Biagi, da Usina Moema, também considera que a diferença entre preços do açúcar para Paraná e São Paulo pode ter sido causada porque o volume exportado por São Paulo é oito vezes superior ao do Paraná, o que facilita a distorção de dados no curto prazo

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