Devido ao meu background, sempre considerei a mecanização algo extremamente importante. Para grande parte do nosso agronegócio, a mecanização já se encontra muito desenvolvida, e o próximo passo é a automalção das atividades agrícolas. Entretanto, para grande número de pequenos agricultores, a mecanização é algo muito longe ainda.
A reportagem abaixo do Jornal Estado de Minas, publicada no Notícias Agrícolas, mostra um bom exemplo da adoção da mecanização em uma pequena propriedade. Os programas atuais de fomento à venda de pequenos tratores são peças fundamentais neste processo:
Com crédito mais fácil e juros baixos, agricultores familiares comemoram a compra da primeira máquina e já fazem planos de dobrar a produção
No Norte de Minas, a produção de quiabos do casal de agricultores Ana e Joaquim, deu um salto. O responsável pela diferença nos números, que praticamente dobraram, é um Massey Ferguson de 75 cavalos. Depois de 30 anos de lida no campo, os pequenos produtores comemoram um grande feito: acabaram de adquirir o primeiro trator. A chegada da máquina está movimentando os negócios e a vida, não só da família, mas da região, próxima a Montes Claros, onde a propriedade de 90 hectares está localizada. O trator foi comprado dentro do programa Mais Alimentos, que oferece verbas de investimento para a agricultura familiar, abrindo uma linha de crédito que há mais de duas décadas não chegava aos pequenos produtores, com prazo e juros diferenciados.
Na vizinhança, que reúne cerca de 70 pequenas propriedades, o trator não tem concorrentes, é o único da região. Em seus primeiros meses de atividade, a máquina que substituiu a tração animal e os equipamentos alugados, mostra a que veio: A produção de quiabo, de 60 caixas semanais deve dobrar, passando a 120 caixas, por semana. Uma diferença também na renda familiar. "Estamos muito contentes. Esperamos dobrar a produção não só do quiabo, mas também da cenoura, beterraba e cebolinha", diz a proprietária da máquina, Ana Fernandes Sarmento, que agora pensa em se matricular no curso de formação para tratoristas.
A aquisição de tratores e implementos agrícolas, como semeadores, arados, grades e roçadeiras, integram o programa de crédito, iniciado no ano passado e prorrogado para o ano agrícola que está começando. O objetivo da iniciativa é ampliar a produção de alimentos. Para isso foram liberados ao produtor recursos de até R$ 100 mil, com prazo de pagamento de 10 anos, carência de 24 meses, e juros de 2% ao ano, para a compra de novos equipamentos. Até então, o que havia especificamente para a agricultura familiar eram linhas de financiamento direcionadas para o custeio. O resultado dessa limitação do crédito para investimentos é a baixa mecanização do segmento, responsável pela produção de 70% de todo o alimento do país. A frota brasileira de tratores, termômetro da atividade, além de ser pequena, é bastante envelhecida. Segundo José Silva, presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), a estimativa é de que há 30 anos, em média, os pequenos produtores não investiam de forma significativa na mecanização, item decisivo para o crescimento da produção de alimentos e do avanço da renda rural.
A possibilidade de renovar a frota animou também o agricultor Sergismundo Eustáquio da Fonseca, produtor rural em Carmo do Cajuru, no Centro-Oe ste de Minas. O velho "tratorzinho", com quase 30 anos de uso, já não aguentava desempenhar as tarefas. Assim, o plantio da lavoura e o preparo do pasto eram feitos com máquinas alugadas. "Fiquei com medo de entrar em uma dívida muito grande, mas hoje me arrependo. Deveria ter comprado tudo: grade, carreta, semeadora", diz o agricultor que vai pagar pelo trator R$ 71 mil, e espera não ter problemas para quitar o compromisso. "Quero passar a produção de leite de 300 litros/dia para 800 litros/dia", aposta.
A mecanização na agricultura familiar enfrenta uma defasagem expressiva. "A meta de Minas Gerais é atingir, pelo menos, um trator para cada 200 hectares", afirma José Silva. Para se ter ideia, hoje as regiões mais mecanizadas do estado, como o Sul e o Triângulo Mineiro, contam, em média, com uma máquina para cada 138 hectares. No semiárido, a diferença dos números assusta: apenas um trator para cada 2,1 mil hectares.
O equipamento de trabalho tem grande peso na produtividade. Como lembra a agricultora Ana Sarmento, além do aluguel da máquina ser caro, cerca de R$ 60/hora, encontrar uma máquina disponível no momento certo é um desafio que prejudicava os resultados da safra. "Muitas vezes quando o trator chegava, já tinha passado da hora de plantar." Na vizinhança, ainda são centenas de produtores que sonham com o acesso ao crédito. "Muita gente por aqui precisa, e nós podemos agora, ajudar os companheiros", diz o casal, que, além do pequeno trator, adquiriu também uma grade no valor de R$ 15 mil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário