Parece que o desenvolvimento da pecuária não está trazendo grandes benefícios às populações dos países emergentes, conforme podemos verificar na notícia abaixo da Gazeta Mercantil de ontem:
Emergentes produzem mais carne, mas população não é beneficiada
São Paulo, 12 de Maio de 2009 - Em 24 anos, a produção de carne triplicou nos países em desenvolvimento. No caso da produção de leite, o crescimento foi de 122% - 40% desse aumento em lácteos esteve concentrado na Índia. A partir de 1995, esses novos fornecedores de proteína animal superaram os antigos. Após três anos, a China se tornou o maior produtor de carne do mundo responsável por 60% de toda proteína animal produzida pelos países emergentes.
"Mas mesmo com esse incremento, o consumo continua concentrado nos países ricos, disse ontem a especialista em alimentação animal, Daniela Battaglia, diretora da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) Roma. "O déficit de proteína animal ainda é muito grande", afirmou.
De acordo com a especialista, esse incremento localizado foi regido pelo aumento da demanda, pelo crescimento da população mundial e ainda pela urbanização desse contingente populacional. "A maior disponibilidade de grãos para a produção de alimentação animal, a viabilidade econômica e energética e a capacitação do setor produtivo foi determinante para esse desenvolvimento, mas ele ainda não é sinônimo de um maior acesso à proteína animal", avalia Battaglia. Segundo ela, o crescimento da produção de carne foi alimentado ainda pelo desenvolvimento da indústria de rações, contudo, ele reflete uma polarização referente aos diferentes níveis de apoio aos produtores. "O aumento da produção beneficia grandes empresas em detrimento dos pequenos e médios produtores, alguns são, inclusive, afastados do sistema", acrescenta.
Levantamento da FAO revela que 23% da demanda por alimentação animal é atendida pela indústria americana, o Brasil é o quarto maior produtor responsável por 8% do fornecimento da ração consumida pela indústria animal.
Ainda segundo Battaglia, 3,4 bilhões de hectares em todo o mundo são dedicados a pastagens, 26% localizados nos países emergentes. Outros 470 milhões de hectares, ou 1/3 da área agricultável do planeta é voltado à produção de ração. No caso da soja, oito países são responsáveis por 97% do fornecimento global da oleaginosa que entra na composição das formulações de rações.
Em apresentação no 1 Interfeed Leadership Meeting, fórum de discussão sobre os desafios da produção de alimentos no futuro promovido pelo Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), a diretora da FAO afirmou ainda que o Agronegócio deve assistir a um crescimento de 34% do consumo de milho pela indústria de etanol só este ano.
Estimativa do Serviço de Observação Estratégica da União Europeia aponta que o Brasil será responsável por mais da metade do crescimento do mercado global de alimentação com 30% das exportações de carnes até 2017, além de ser o único país onde a produção de carne de frango deve aumentar mais rápido que o consumo, consolidando a posição de maior exportador de aves à frente, inclusive, dos Estados Unidos. Mas até alcançar esse patamar, o Brasil terá de transpor barreiras operacionais.
O deputado federal Duarte Nogueira (PSDB - SP) avalia que é o "pós-porteira que extermina com toda a produtividade do setor". De acordo com ele, mesmo dentro da porteira existem barreiras logísticas, como a capacidade de armazenamento. Integrante da Comissão de Logística do Congresso, ele calcula que a capacidade de armazenamento dentro das fazendas brasileiras é de apenas 5%, nos Estados Unidos esse índice chega a 60%.
Francisco Jardim, Superintendente do Ministério da Agricultura em São Paulo, argumenta que esse gargalo poderia ser aliviado com a redução dos estoques nacionais, que para ele deveriam garantir o abastecimento de 45 dias do mercado interno e não de 91 como preconizado atualmente. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Gilmara Botelho)
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