A utilização cada vez maior por parte dos agricultores do seguro agrícola é uma necessidade para o desenvolvimento de uma atividade com menos riscos.
Na edição do dia 04 de junho da Folha de São Paulo, temos dois artigos distintos sobre o tema. Um fala que o mercado está em expansão e o outro comenta a saída de uma grande empresa do nergocio devido às fraudes.
AGRICULTURA EVOLUI E ESTIMULA SEGURO RURAL
Com movimentação anual de US$ 40 milhões em prêmios, Brasil deve superar Argentina e tornar-se maior mercado da região. Tamanho, variedade de culturas e participação maior do governo devem garantir o desenvolvimento do setor no país. O seguro rural no Brasil ainda está bem distante do de outros países, que há poucas décadas estavam no mesmo estágio inicial de desenvolvimento do sistema brasileiro atual. Mas o avanço das tecnologias na agricultura e na pecuária está trazendo uma profissionalização maior e uma nova mentalidade entre os produtores, que começam a encarar o seguro rural como um custo necessário, segundo analistas do setor.
Luiz Carlos Meleiro, superintendente de agronegócio da AGF Seguros diz que está otimista com o crescimento do setor no Brasil. O país se consolida como um grande produtor mundial de commodities. Avança nos setores de grãos, de biocombustível e de florestas.
A cultura do agricultor está mudando e ele começa a entender que o seguro é parte do risco da produção. Meleiro diz que cada país tem um modelo específico de seguro rural, principalmente porque os problemas e as características de produção são diversos. E o Brasil deve chegar ao seu modelo com rapidez. Algumas mudanças estão sendo fundamentais para o desenvolvimento do setor, segundo Meleiro. O dinheiro a ser recebido pelos produtores já chega mais rapidamente e o governo participa mais do setor, com o aumento da subvenção -pagamento de parte do prêmio do seguro devido pelo produtor. Exemplo de melhoria no setor são as discussões sobre a nova Lei de Catástrofes, que está sendo desenvolvida pelos ministérios da Fazenda e da Agricultura. Essa lei vai dar segurança tanto aos produtores como às seguradoras. "Esse é um lado positivo do setor, que está sendo desenvolvido de forma rápida", acrescenta o superintendente da AGF Seguros.
José Maria Cullen, diretor técnico da Seguradora Brasileira Rural, diz que o país caminha para ser o maior mercado da América Latina. Tem tamanho, variedade de culturas agrícolas e o governo está consciente da necessidade de participar mais desse mercado. A Argentina, com cem anos de tradição em seguro agrícola e com a atuação de 30 seguradoras, movimenta US$ 100 milhões em prêmio por ano. O Brasil movimenta US$ 40 milhões e tem apenas cinco seguradoras no setor, mas deve ultrapassar a Argentina em breve, segundo ele. Cullen diz, no entanto, que falta muito para o produtor brasileiro entender que o seguro é um instrumento para evitar perdas financeiras.
Mesmo acreditando no crescimento do mercado brasileiro, Cullen diz que não haverá explosão do seguro rural no país porque as seguradoras não estão preparadas. A evolução será lenta até pela estrutura do mercado e pelos riscos.
Luciano Marcos de Carvalho, assessor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que falta diálogo entre as duas pontas. O produtor quer o seguro, mas em condições financeiras mais favoráveis. Já as seguradoras querem vender, mas com um grau de risco menor. Não existe modelo pronto para o país, principalmente devido às diferenças no setor: clima, culturas e tecnologias utilizadas, na avaliação de Carvalho. "É preciso descobrir esse modelo por meio de conversas entre todos os participantes do setor: seguradoras, cooperativas e entidades de classe, órgãos que conhecem as necessidades do campo", afirma o assessor da CNA.
Mas o setor tem "alguns pontos nevrálgicos", na avaliação de Meleiro. Seguro é estatística, e algumas estações climáticas não dispõem de dados para o setor. Essas informações são importantes porque facilitariam a formação das taxas de seguro, o que beneficiaria áreas com risco menor.
É importante também a maior participação do governo nas subvenções, embora isso já venha ocorrendo após as recentes crises agrícolas. Na safra 2005/6, o governo participou com subvenções de R$ 2,3 milhões. Na de 2006/7, o valor subiu para R$ 31 milhões. Para 2007/8, são esperados pelo menos R$ 90 milhões.
Outro ponto que não pode ser abandonado é o desenvolvimento desse fundo de catástrofe, que dará maior segurança a todos os participantes do setor. Além disso, a área de seguro não passará por uma fase de desenvolvimento sem um aculturamento do campo, trabalho que não deve ser apenas tarefa do governo, mas também das empresas do setor.
O mercado ficará mais atrativo, e outras empresas virão para o setor, aumentando a competitividade e reduzindo as taxas de custos.
FRAUDE TIRA MAIOR SEGURADORA RURAL DO PAÍS
Empresa norte-americana Rain and Hail sai do Brasil no momento em que o governo tenta desenvolver seguro no setor agrícola. Custo do serviço no Brasil é alto e cobertura se limita a algo entre 50% e 60% da produção; setor defende melhor regulamentação.
A norte-americana Rain and Hail, a maior empresa de seguro rural do mundo, está deixando o Brasil. Segundo a Folha apurou, um dos principais motivos da saída da empresa são as fraudes ocorridas no setor, que dificultam o avanço do seguro rural no país.
A saída da norte-americana ocorre no momento em que o governo tenta ampliar o uso do seguro rural, considerado essencial para o desenvolvimento do agronegócio. Um bom sistema de seguro teria aliviado a situação de produtores nas últimas safras, quando o setor acumulou pesadas dívidas, principalmente com a forte seca no Sul e chuva e ferrugem da soja no Centro-Oeste. Esses problemas climáticos fizeram o governo intervir no setor com a adoção de vários pacotes de apoio ao agricultor. Como disse o ex-ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, quando estava à frente do ministério, "a ação do governo deve ser a de prevenir, e não a de remediar depois do fato ocorrido". Tanto o governo quanto os produtores avaliam que a falta de seguro é hoje um dos principais problemas da agricultura brasileira.
Na avaliação da companhia norte-americana, as fraudes colocam os custos do seguro rural em patamares elevados, impedindo o desempenho dessa modalidade de proteção aos produtores no país. Pior ainda, essa tendência deve continuar, segundo a empresa.
DESVIO
Conforme a Folha apurou, entre as fraudes mais comuns que estariam sendo praticadas por agricultores está o desvio da produção para outras pessoas da família, declarando uma produção menor.
Outra prática adotada por parte dos produtores é a da distribuição da produção por vários receptores, o que dificulta a avaliação da produção total obtida pelo agricultor.
A conivência de cooperativas e de outras empresas de recebimento de produtos agrícolas agrava a situação.
O setor vive, ainda, dificuldades de entendimento na Justiça sobre as especificidades dos contratos, o que dificulta, inclusive, a reclamação judicial das empresas contra as eventuais fraudes.
A falta de expansão no setor impede uma boa remuneração dos participantes desse mercado e uma especialização dos profissionais. Com isso, sem uma visão clara dos problemas do campo, muitas vezes as seguradoras e corretoras não conseguem falar a mesma linguagem do produtor.
Outro ponto que precisaria ser desenvolvido, na avaliação da norte-americana, é uma participação sólida do governo neste sistema. Seguro agrícola é caro, mas isso não ocorre apenas no Brasil. A diferença é que em outros países há uma participação maior dos governos.
Essa mescla de fraudes e de mercado pequeno torna o seguro rural pouco atrativo para todos. O produtor paga um alto preço pelo serviço e seguradoras e corretoras vendem um produto caro, mas não ganham dinheiro, na avaliação da empresa norte-americana.
Os custos médios de seguro no setor de grãos no Brasil vão de 5% a 8%, dependendo do produto, e o produtor tem o retorno de 50% a 60% do valor da produção. Nos Estados Unidos, a cobertura vai de 80% a 90% da produtividade prevista. Casos específicos chegam a garantir ao produtor até 150% das estimativas de produção.
Na avaliação do mercado, no entanto, a saída da norte-americana tem a ver também com o uso de um modelo importado, que não deu certo no Brasil. Cada país tem suas peculiaridades e a montagem de um modelo apropriado é demorada, segundo informações do setor.
CENÁRIO DISTINTO
Cooperativa consultada pela Folha diz que o cenário do setor não é exatamente o traçado pela seguradora norte-americana. Quando um produtor comunica o sinistro à seguradora, ela deveria fazer a vistoria da área e avaliar a produtividade no próprio local da colheita.
"Fraudes existem, mas não ocorrem apenas no setor agrícola e somente no Brasil. Ocorrem em qualquer lugar do mundo", avalia Luiz Carlos Meleiro, superintendente de agronegócio da AGF.
Luciano Marcos de Carvalho, assessor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que "a fraude acontece quando não se tem boa regulação. São necessários marcos regulatórios mais eficientes no setor."
Apesar dos problemas, o pagamento de prêmios em seguros rurais cresceu no ano passado, depois de dois anos de queda.
Na edição do dia 04 de junho da Folha de São Paulo, temos dois artigos distintos sobre o tema. Um fala que o mercado está em expansão e o outro comenta a saída de uma grande empresa do nergocio devido às fraudes.
AGRICULTURA EVOLUI E ESTIMULA SEGURO RURAL
Com movimentação anual de US$ 40 milhões em prêmios, Brasil deve superar Argentina e tornar-se maior mercado da região. Tamanho, variedade de culturas e participação maior do governo devem garantir o desenvolvimento do setor no país. O seguro rural no Brasil ainda está bem distante do de outros países, que há poucas décadas estavam no mesmo estágio inicial de desenvolvimento do sistema brasileiro atual. Mas o avanço das tecnologias na agricultura e na pecuária está trazendo uma profissionalização maior e uma nova mentalidade entre os produtores, que começam a encarar o seguro rural como um custo necessário, segundo analistas do setor.
Luiz Carlos Meleiro, superintendente de agronegócio da AGF Seguros diz que está otimista com o crescimento do setor no Brasil. O país se consolida como um grande produtor mundial de commodities. Avança nos setores de grãos, de biocombustível e de florestas.
A cultura do agricultor está mudando e ele começa a entender que o seguro é parte do risco da produção. Meleiro diz que cada país tem um modelo específico de seguro rural, principalmente porque os problemas e as características de produção são diversos. E o Brasil deve chegar ao seu modelo com rapidez. Algumas mudanças estão sendo fundamentais para o desenvolvimento do setor, segundo Meleiro. O dinheiro a ser recebido pelos produtores já chega mais rapidamente e o governo participa mais do setor, com o aumento da subvenção -pagamento de parte do prêmio do seguro devido pelo produtor. Exemplo de melhoria no setor são as discussões sobre a nova Lei de Catástrofes, que está sendo desenvolvida pelos ministérios da Fazenda e da Agricultura. Essa lei vai dar segurança tanto aos produtores como às seguradoras. "Esse é um lado positivo do setor, que está sendo desenvolvido de forma rápida", acrescenta o superintendente da AGF Seguros.
José Maria Cullen, diretor técnico da Seguradora Brasileira Rural, diz que o país caminha para ser o maior mercado da América Latina. Tem tamanho, variedade de culturas agrícolas e o governo está consciente da necessidade de participar mais desse mercado. A Argentina, com cem anos de tradição em seguro agrícola e com a atuação de 30 seguradoras, movimenta US$ 100 milhões em prêmio por ano. O Brasil movimenta US$ 40 milhões e tem apenas cinco seguradoras no setor, mas deve ultrapassar a Argentina em breve, segundo ele. Cullen diz, no entanto, que falta muito para o produtor brasileiro entender que o seguro é um instrumento para evitar perdas financeiras.
Mesmo acreditando no crescimento do mercado brasileiro, Cullen diz que não haverá explosão do seguro rural no país porque as seguradoras não estão preparadas. A evolução será lenta até pela estrutura do mercado e pelos riscos.
Luciano Marcos de Carvalho, assessor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que falta diálogo entre as duas pontas. O produtor quer o seguro, mas em condições financeiras mais favoráveis. Já as seguradoras querem vender, mas com um grau de risco menor. Não existe modelo pronto para o país, principalmente devido às diferenças no setor: clima, culturas e tecnologias utilizadas, na avaliação de Carvalho. "É preciso descobrir esse modelo por meio de conversas entre todos os participantes do setor: seguradoras, cooperativas e entidades de classe, órgãos que conhecem as necessidades do campo", afirma o assessor da CNA.
Mas o setor tem "alguns pontos nevrálgicos", na avaliação de Meleiro. Seguro é estatística, e algumas estações climáticas não dispõem de dados para o setor. Essas informações são importantes porque facilitariam a formação das taxas de seguro, o que beneficiaria áreas com risco menor.
É importante também a maior participação do governo nas subvenções, embora isso já venha ocorrendo após as recentes crises agrícolas. Na safra 2005/6, o governo participou com subvenções de R$ 2,3 milhões. Na de 2006/7, o valor subiu para R$ 31 milhões. Para 2007/8, são esperados pelo menos R$ 90 milhões.
Outro ponto que não pode ser abandonado é o desenvolvimento desse fundo de catástrofe, que dará maior segurança a todos os participantes do setor. Além disso, a área de seguro não passará por uma fase de desenvolvimento sem um aculturamento do campo, trabalho que não deve ser apenas tarefa do governo, mas também das empresas do setor.
O mercado ficará mais atrativo, e outras empresas virão para o setor, aumentando a competitividade e reduzindo as taxas de custos.
FRAUDE TIRA MAIOR SEGURADORA RURAL DO PAÍS
Empresa norte-americana Rain and Hail sai do Brasil no momento em que o governo tenta desenvolver seguro no setor agrícola. Custo do serviço no Brasil é alto e cobertura se limita a algo entre 50% e 60% da produção; setor defende melhor regulamentação.
A norte-americana Rain and Hail, a maior empresa de seguro rural do mundo, está deixando o Brasil. Segundo a Folha apurou, um dos principais motivos da saída da empresa são as fraudes ocorridas no setor, que dificultam o avanço do seguro rural no país.
A saída da norte-americana ocorre no momento em que o governo tenta ampliar o uso do seguro rural, considerado essencial para o desenvolvimento do agronegócio. Um bom sistema de seguro teria aliviado a situação de produtores nas últimas safras, quando o setor acumulou pesadas dívidas, principalmente com a forte seca no Sul e chuva e ferrugem da soja no Centro-Oeste. Esses problemas climáticos fizeram o governo intervir no setor com a adoção de vários pacotes de apoio ao agricultor. Como disse o ex-ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, quando estava à frente do ministério, "a ação do governo deve ser a de prevenir, e não a de remediar depois do fato ocorrido". Tanto o governo quanto os produtores avaliam que a falta de seguro é hoje um dos principais problemas da agricultura brasileira.
Na avaliação da companhia norte-americana, as fraudes colocam os custos do seguro rural em patamares elevados, impedindo o desempenho dessa modalidade de proteção aos produtores no país. Pior ainda, essa tendência deve continuar, segundo a empresa.
DESVIO
Conforme a Folha apurou, entre as fraudes mais comuns que estariam sendo praticadas por agricultores está o desvio da produção para outras pessoas da família, declarando uma produção menor.
Outra prática adotada por parte dos produtores é a da distribuição da produção por vários receptores, o que dificulta a avaliação da produção total obtida pelo agricultor.
A conivência de cooperativas e de outras empresas de recebimento de produtos agrícolas agrava a situação.
O setor vive, ainda, dificuldades de entendimento na Justiça sobre as especificidades dos contratos, o que dificulta, inclusive, a reclamação judicial das empresas contra as eventuais fraudes.
A falta de expansão no setor impede uma boa remuneração dos participantes desse mercado e uma especialização dos profissionais. Com isso, sem uma visão clara dos problemas do campo, muitas vezes as seguradoras e corretoras não conseguem falar a mesma linguagem do produtor.
Outro ponto que precisaria ser desenvolvido, na avaliação da norte-americana, é uma participação sólida do governo neste sistema. Seguro agrícola é caro, mas isso não ocorre apenas no Brasil. A diferença é que em outros países há uma participação maior dos governos.
Essa mescla de fraudes e de mercado pequeno torna o seguro rural pouco atrativo para todos. O produtor paga um alto preço pelo serviço e seguradoras e corretoras vendem um produto caro, mas não ganham dinheiro, na avaliação da empresa norte-americana.
Os custos médios de seguro no setor de grãos no Brasil vão de 5% a 8%, dependendo do produto, e o produtor tem o retorno de 50% a 60% do valor da produção. Nos Estados Unidos, a cobertura vai de 80% a 90% da produtividade prevista. Casos específicos chegam a garantir ao produtor até 150% das estimativas de produção.
Na avaliação do mercado, no entanto, a saída da norte-americana tem a ver também com o uso de um modelo importado, que não deu certo no Brasil. Cada país tem suas peculiaridades e a montagem de um modelo apropriado é demorada, segundo informações do setor.
CENÁRIO DISTINTO
Cooperativa consultada pela Folha diz que o cenário do setor não é exatamente o traçado pela seguradora norte-americana. Quando um produtor comunica o sinistro à seguradora, ela deveria fazer a vistoria da área e avaliar a produtividade no próprio local da colheita.
"Fraudes existem, mas não ocorrem apenas no setor agrícola e somente no Brasil. Ocorrem em qualquer lugar do mundo", avalia Luiz Carlos Meleiro, superintendente de agronegócio da AGF.
Luciano Marcos de Carvalho, assessor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que "a fraude acontece quando não se tem boa regulação. São necessários marcos regulatórios mais eficientes no setor."
Apesar dos problemas, o pagamento de prêmios em seguros rurais cresceu no ano passado, depois de dois anos de queda.
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