1. Contexto Econômico Atual
1.3 No Mundo, 1,9 bilhões de pessoas vivem na pobreza. No entanto, segundo o Relatório de Monitoramento Global 2007, publicado pelo PNUD e Banco Mundial, a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza no mundo caiu de 29%, em 1990, para 18% em 2004.
1.4 Esse cenário mostra que os países em desenvolvimento, como China e Índia, demandarão mais alimentos, fibras e bioenergia de outros países, como o Brasil. No caso do petróleo, por exemplo, a demanda chinesa atingiu 1.600.000 barris por dia. O principal fornecedor de petróleo continua sendo o Oriente Médio, com 62% das reservas mundiais, seguido por países da Europa e Ásia, sendo algumas regiões do planeja bastante instáveis.
1.5 Portanto, para estar preparado para exportar para outros países os produtos do agronegócio e atrair investimentos no setor produtivo, o Brasil precisa ser capaz de investir em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) para desenvolver novos produtos e aumentar a produção daqueles já existentes.
1.6 A produção e pesquisa devem evoluir, principalmente no caso Etanol de Cana, já que é o combustível renovável mais competitivo no cenário mundial, capaz de reduzir as necessidades do petróleo importado e atender a demanda crescente por diversificação das fontes de energias (World Bank, 2005).
1.7 A agroenergia e os biocombustíveis são o foco da atenção de vários países do mundo, devido ao aumento das preocupações ambientais (principalmente em relação ao aquecimento global e mudanças climáticas) e ao cenário de continuidade dos preços do petróleo em um patamar elevado. Os Estados Unidos, que é o país que mais emite gases de efeito estufa no mundo (dióxido de carbono, por exemplo), compõem o grupo dos países desenvolvidos que contribuirá com 70% do aumento das emissões em 2025, sendo que os EUA sozinhos emitirão 39% a mais.
1.8 Além disso, vários países já estão “de olho” nos biocombustíveis como alternativa para crise do campo, diversificando mercados, melhorando a rentabilidade dos produtores de grãos, cana e outras oleaginosas; e para a crise ambiental, visando a diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Segundo estimativas do IEA (International Energy Agency), pode-se prever que 20% de decréscimo nas emissões desses gases, até 2030, virá por conta do aumento do uso de combustíveis renováveis, como o etanol e o biodiesel brasileiros.
1.9 O Brasil, líder na produção de etanol derivado da cana-de-açúcar, é o único país do Mundo com 90 milhões de hectares de áreas agriculturáveis passíveis de serem exploradas, não só com cana e oleaginosas para biocombustíveis, mas também com a agricultura de alimentos.
2. Pró Álcool (1975) e Evolução da Produção
2.1 O Pró-Álcool surgiu, no Brasil, como resposta à crise do Petróleo, que atingiu o mundo na década de 70 e se agravou em 1979. O Governo brasileiro planejava substituir o uso de gasolina como combustível por álcool etílico, visando a diminuição da dependência do país aos combustíveis fósseis importados, pois na época o país importava 80% do petróleo consumido e 98% dos transportes usavam gasolina ou diesel como combustível.
2.2 Até 1985, a produção de álcool, a partir da cana-de-açúcar, cresceu consideravelmente, entretanto a produção de açúcar ficou estagnada no período. Em 1980, quando os preços do petróleo caíram, a produção de álcool diminuiu seu ritmo, chegando a situação de falta de álcool etílico nas bombas dos postos de abastecimento e a frustração dos consumidores.
2.3 Esse descrédito dos consumidores com relação ao carro à álcool foi tão grande que a produção só foi retomada com mais força apenas no final da década de 90 com a extinção do Instituto de Açúcar e Álcool que regulamentava o setor e a vinda dos carros flex-fuel.
2.4 Hoje, a Cadeia Agroindustrial da cana-de-açúcar é complexa: as usinas produtoras dependem dos fornecedores e de bens de capital. Os produtos, álcool, açúcar e energia, são distribuídos para fábricas de biodiesel, montadoras de carro, distribuidores de combustíveis, distribuidores de energia elétrica, indústria de alimentos, atacado e varejo, e tradings exportadoras. Os subprodutos são destinados as indústrias, atacado e varejo, como indústrias de suco de laranja e de ração animal. Hoje, as usinas utilizam os resíduos, como vinhaça e vinhoto na própria atividade, por exemplo, como fertilizantes. A figura 1 apresenta uma visão geral do Sistema Agroindustrial da Cana.
Fonte: Luis Carlos Correa Carvalho, maio/03.
Figura 1: Sistema Agroindustrial da Cana
2.5 Segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), a produção mundial de cana, em toneladas, entre 2001 e 2005, decresceu em média 0,31% ao ano. Entretanto, entre 2001 e 2005, o consumo mundial cresceu em média 0,66% ao ano. Por outro lado, a produção brasileira de cana-de-açúcar evoluiu positivamente, crescendo 6% ao ano, em média.
2.6 Com relação a produtividade média por país, os dados da FAO mostram que a Colômbia teve a maior produtividade, entre 2001 e 2005, sendo que em 2005 atingiu uma produtividade de 93ton/ha. Em seguida, a Austrália e a Indonésia têm a maior produtividade. Segundo dados da Unica (União da Agroindústria Canavieira), em 1975, a produtividade média brasileira era de 50 toneladas de cana por hectare, enquanto que em 2005, a produtividade média foi de mais de 80 tc/ha. A figura 2 apresenta um histórico de crescimento da produtividade de cana e etanol por hectare de cana cultivada.
Figura 2: Evolução da produtividade do agronegócio da cana no Brasil
2.7 Segundo o IBGE, a produção de cana divida por região do país revela que o Norte-Nordeste representa 15% da produção total do país e o Centro-Sul representa 85%. Segundo a consultoria SCA, a produção do Centro-Sul continuará a se expandir e ser mais expressiva do que a produção do Norte-Nordeste. A previsão para a produção nos próximos anos pode ser vista na figura 3. É previsto que a produção do país atinja mais de 450 milhões de toneladas em 2007/08 e que, em 2010/2011, atinja 580 milhões de toneladas.
2.9 O panorama geral brasileiro da economia da cana-de-açúcar, em 2006, é apresentado na figura 4. No geral, a produção de álcool foi de 17,2 bilhões de litros e a de açúcar, 25,8 milhões de toneladas. Destas, 2,6 bilhões de litros de álcool (15%) e 17,3 milhões de toneladas de açúcar (67%) foram destinados ao mercado externo.
Figura 4: Panorama Geral Setor Sucroalcooleiro 2006 - Brasil
2.10 Para o ano agrícola de 2009/2010, a expectativa é que a produção de cana seja de 580 milhões de toneladas, destinadas para produção de 38 milhões de toneladas de açúcar e 25 bilhões de litros de álcool combustível. A Figura 5 apresenta projeções dos principais produtos.
Fonte: MAPA e ÚNICA
Fonte: USDA, Elaboração: PENSA
3.5 Os preços revelam o bom momento vivido pelo setor. Entre janeiro de 2002 e abril de 2006, o preço do açúcar, em centavos de US$ por libra peso, cresceu a uma taxa média de 2,03% ao mês, segundo a NYBOT. Por outro lado, os estoques mundiais diminuíram a uma taxa média de 1,37% ao ano. Logo, essa queda é um dos fatores responsáveis pelas elevadas altas no preço do Açúcar.
3.6 Entre 2001 e 2006, a produção brasileira de açúcar cresceu em média 8,61% a.a. O IBGE revela que os três estados produtores de açúcar, no Brasil, em 2005/2006, que mais participaram na produção nacional são: São Paulo, com participação de 66%, Alagoas, com 8,15% e Minas Gerais, com 6,74%.
3.7 A produção do Centro-Sul de açúcar, em toneladas, na safra 20004/05, atingiu mais de 20 milhões de toneladas. No caso do Norte-Nordeste, a produção esteve abaixo dos 5 milhões de toneladas. Conforme os dados do MAPA e SECEX, de 30 milhões de toneladas produzidas na safra 06/07, o Brasil consumiu um pouco mais de 10 milhões, conforme mostra o histórico e projeções na figura 8.
Figura 8: Consumo de Açúcar X Produção de Açúcar no Brasil
3.9 Para os próximos anos é previsto que a exportação continue a representar mais de 60% do destino da produção brasileira de açúcar, que também tende a crescer. Os países para os quais o Brasil mais exporta são (em 2005): Rússia, Egito, Irã, Nigéria e Malásia (em ordem decrescente). A figura 9 apresenta o perfil dos maiores importadores do açúcar brasileiro.
Fonte: SECEX, Elaboração: PENSA.Figura 9: Principais países importadores do açúcar brasileiro.
4. Oportunidades no Negócio Álcool
4.1 Em 2005, a produção mundial de combustíveis foi de 101,1 bilhões de Gigajoules (BJG). Destes, apenas 1,1 BGJ foi proveniente de fontes renováveis, sendo 11% o biodiesel e 89% o etanol. Pode-se verificar pela figura 10, que na produção e uso de etanol, a cana de açúcar representa quase 50%.
Fonte: F.O.Licht’s,FAO, Oil World, LCM, EIA Apud Icone,2006, Elaboração: PENSA
Figura 10: Produção mundial de combustíveis
4.2 Segundo a F.O.Licht’s, a produção mundial de etanol cresceu em média 11,36% a.a., entre 2002 e 2006. Os principais países produtores são Estados Unidos e Brasil, que juntos responderam por 70% da produção mundial. Em 2005, os Estados Unidos produziram 16,1 bilhões de litros (35,1% da produção mundial) e o Brasil produziu 15,9 bilhões de litros (34,8% da produção mundial). China foi o terceiro maior produtor em 2005, com 8% da produção mundial.
4.3 Entre 2000 e 2005, o crescimento médio da produção brasileira foi de 13% aa., enquanto o crescimento da produção americana foi de 40% aa. Em 2005, o Brasil perdeu o título de maior produtor mundial para os EUA, conforme atesta a F.O.Licth’s e Única.
4.4 No Brasil, o álcool hidratado foi o mais produzido durante todo o período de 1982 e 2000. A partir daquele ano, o álcool anidro foi mais produzido do que o hidratado. No entanto, entre 2005/2006, a produção de álcool hidratado voltou a ser levemente superior que a produção do álcool anidro.
4.5 A cana-de-açúcar brasileira é extremamente competitiva na produção de etanol, produzindo mais de 6 mil litros de etanol por hectare, conforme dados do IEA. A beterraba, na União Européia, produz 5,5 mil litros; a cana de açúcar na Índia, 5,2 mil litros; o milho nos EUA, 3,1 mil litros; e o trigo na UE, 2,5 mil litros de etanol por hectare.
4.6 Por isso, o etanol brasileiro apresenta do menor custo de produção do mundo, que é de US$0,22 por litro de etanol anidro, contra US$ 0,30 nos EUA (milho), US$ 0,45 na UE (grãos), US$ 0,53 por litro na UE (beterraba) (Dados F.O. Licht’s).
4.7 Dos 27 estados brasileiros, praticamente 21 são “importadores” (dos Estados produtores) e somente 6 exportadores de etanol. Alguns estados, como Paraná e Minas Gerais, são produtores e importadores. Segundo a Única, em 2005/2006, os 5 maiores produtores foram responsáveis por 85% da produção nacional de etanol, sendo eles: São Paulo, com participação de 62%, Paraná (7%), Minas Gerais (6%), Mato Grosso (5%) e Goiás (5%).
4.8 Em 2005, a exportação total de etanol no mundo foi de 6,0 bilhões de litros. Brasil, União Européia, Estados Unidos e África do Sul são os maiores exportadores. A importação total de etanol no mundo, no mesmo período, foi 5,3 bilhões de litros. A União Européia, participa com 23% das exportações mundiais, mas também tem participado com 37% nas importações mundiais. Ao mesmo tempo, os EUA que participa com 7% das exportações, também contribuem com 15% das importações mundiais. Isso se deve muito as diferenças dos países e estados na sua capacidade de produção e facilidade de importação e exportação.
4.9 Apesar do Brasil não importar etanol, as importações na América Latina cresceram em média 13% a.a. e, em 2005, representando 12% das importações mundiais, conforme mostra a figura 11.
Fonte: Elaborado pelo PENSA com base nos dados da F.O Licht
Figura 11: Fluxos de comércio - Importação e Exportação de Etanol
4.10 Conforme dados do SECEX, em 2005, a exportação total brasileira de etanol foi de 2,59 bilhões de litros, ou seja, US$ 764 milhões. O Preço Médio FOB foi de US$ 294,29 /m3. Ao todo, o etanol brasileiro teve acesso a 47 países. Em 2005, por exemplo, a exportação brasileira de etanol foi destinada, principalmente, para Índia e Países do Caribe.
4.11 Em 2006, a exportação brasileira de etanol foi maior para os Estados Unidos, que importou mais de 1,7 milhões de m3 de etanol brasileiro. Isso ocorreu em função da elevação do preço do milho no mercado americano, fato que não deve se repetir na próxima safra.
4.12 As exportações brasileiras de etanol, até 2001, representavam um valor pequeno em relação à produção. Em 2005, as exportações totais atingiram 2,5 milhões de m3 e, em 2006, esse número chegou próximo à 3,6 milhões de m3. A previsão é que as exportações e produção cresçam nos próximos anos, atingindo, respectivamente, 5 milhões de m3 e 26 milhões de m3, em 2010. A figura 12 apresenta esse histórico e projeções.
4.14 Na avaliação da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a retirada da tarifa norte-americana sobre a importação do etanol brasileiro seria um “desastre” para os dois países. Isso aumentaria o risco de falta álcool para o mercado nacional e ocorreriam prejuízos para a indústria norte-americana de milho.
Isso, contudo não quer dizer que os países não estão implementando programas de adoção de etanol na matriz de combustíveis. Segundo a AgroAnalysis, os EUA têm como meta reduzir o consumo de gasolina em 20% até 2017, o que representa 132 bilhões de litros de etanol, com incentivo federal a produção de US$ 0,14 por litro e alguns incentivos estaduais.
4.15 Além disso, segundo o Worldwatch Institute (WWI), no Japão, há uma permissão de adição de 3% de etanol na gasolina e uma meta de 20% de biocombustíveis até 2030. O governo ainda não aumentou o uso do etanol por receio de que os principais produtores não consigam suprir a demanda. No Canadá, 45% da gasolina consumida deverá conter 10% de etanol até 2010. Na UE, há uma meta de consumo de biocombustíveis de 5,75% até 2010 e 10% até 2020 (hoje é 2%), e diversas isenções fiscais em cada estado membro.
4.16 O mundo em desenvolvimento também vem seguindo o mesmo caminho. A Índia adotou uma mistura compulsória de 5% de etanol na maioria do país. Pode chegar a 10% e 20%. A China colocou em vigor uma mistura compulsória de 10% em cinco províncias, detentoras de 16% da frota de veículos do país.
4.17 Com relação a demanda futura de etanol, o NIPE/ Unicamp realizou uma simulação de substituição de 10% de gasolina por etanol. Os resultados revelam a produção necessária de 152 bilhões de litros de etanol/ano para atender a demanda atual (2002) e uma produção futura de 225 bilhões de etanol/ano (2025).
4.18 Em março de 2003, o carro bicombustível foi lançado no mercado nacional. A sua importância ocorre por transferir ao consumidor o poder de decisão sobre qual combustível usar, independente da falta de produto ou aumento de preços. Nesse ano, sua participação sobre o total de veículos vendidos foi de 6,8%. Em 2006, essa participação passou a ser de 86%.
4.19 Em unidades, em 2006, as vendas de carros flex no Brasil foram de aproximadamente 2 milhões de unidades. As vendas de carro à gasolina, por sua vez, totalizaram 15 milhões de unidades. Em 2007, a previsão é que a venda de carros flex aumente, e passe a ser maior do que 3 milhões de unidades. A venda de carros à gasolina, por outro lado, deve diminuir ainda mais.
4.20 De uma maneira geral, o preço na bomba do etanol é influenciado pelo preço do produtor, misturas exigidas por lei (álcool anidro na gasolina - 20%), custo da logística de distribuição e carga tributária. No entanto, o que influencia efetivamente o consumo são os preços relativos dos diferentes tipos de combustíveis, o consumo por Km do veículo e a frota (lançamento dos veículos flex, proibição de veículos leves a diesel etc).
2 comentários:
Parabéns pelo excelente trabalho!
Gostei muito.
Este artigo com certeza irá enriquecer muito a minha Monografia.
Parabéns!!!
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