Quando uma empresa passa pelo processo de internacionalização, algo que a JBS Friboi está fazendo, com certeza tem que enfrentar problemas muito diferentes daqueles de seu país de origem.
A notícia abaixo do Valor Econômico de hoje mostra como aspectos culturais podem trazer sérios problemas para a produção:
Questão religiosa leva JBS a demitir 100 pessoas nos EUA
Ricardo Balthazar
O grupo brasileiro JBS demitiu nesta semana 100 trabalhadores muçulmanos que reivindicavam jornadas de trabalho mais flexíveis para conciliar suas obrigações religiosas com o serviço, em uma tentativa de liquidar uma disputa que durante vários dias agitou a principal planta de processamento de carne bovina do grupo nos Estados Unidos.
O problema surgiu no começo deste mês, quando os muçulmanos do mundo inteiro celebram o Ramadã. Neste período do ano, os fiéis devem ficar em jejum entre o nascer e o pôr-do-sol e só podem comer depois de uma oração que precisa ser feita durante o crepúsculo. Os horários estabelecidos pela JBS para os trabalhadores da fábrica do grupo em Greeley, no Estado do Colorado, tornam impossível o cumprimento dessas obrigações.
A planta opera com dois turnos de trabalho. O pessoal escalado para o segundo turno entra no começo da tarde e só volta para casa à noite, depois de mais de oito horas lá dentro. O contrato coletivo assinado pela JBS com o sindicato que representa os trabalhadores prevê três pausas para descanso e alimentação nesse período, duas de quinze minutos e uma de meia hora.
Depois de várias reuniões com o sindicato e representantes dos trabalhadores muçulmanos, a empresa concordou em antecipar a pausa de meia hora para alimentação durante o Ramadã, das 21h15 para as 20 horas. Mas não adiantou, porque nesta época do ano o sol se põe antes das 19h30 em Greeley e os muçulmanos precisam fazer suas orações antes disso se quiserem cumprir os rituais do Ramadã.
Na sexta-feira da semana passada, 220 trabalhadores abandonaram a linha de produção e saíram da fábrica em protesto contra a decisão da empresa. A JBS considerou a iniciativa uma violação do acordo coletivo e suspendeu os trabalhadores. Cerca de 120 voltaram ao trabalho na terça-feira. Os outros foram demitidos no dia seguinte.
Em comunicado distribuído na quarta-feira, a empresa disse que "trabalha junto com todos os empregados e seus representantes sindicais para acomodar práticas religiosas de forma razoável, segura e justa para todos os envolvidos". A JBS tem cerca de 3,4 mil funcionários em Greeley. Cada turno de trabalho na planta emprega 1,5 mil pessoas.
O conflito com os muçulmanos é uma amostra das dificuldades que o grupo brasileiro tem encontrado para recrutar e reter a mão-de-obra necessária para processar as milhares de cabeças de gado que são abatidas diariamente em suas fábricas. A JBS chegou aos Estados Unidos há pouco mais de um ano, quando adquiriu o controle da Swift, terceira empresa do setor de carne bovina no país.
Mais de dois terços dos empregados da JBS em Greeley são imigrantes de origem hispânica. Em 2006, antes da chegada do grupo brasileiro, a empresa perdeu 1,3 mil trabalhadores que viviam com documentos ilegais nos EUA e foram descobertos pelas autoridades. Nos últimos tempos a empresa contratou um grande número de trabalhadores africanos, refugiados de países pobres conflagrados por guerras civis e conflitos étnicos.
Cerca de 15% dos funcionários da empresa em Greeley são africanos, a maioria de religião muçulmana. Eles saíram de lugares como a Somália, a Etiópia e o Congo para viver nos Estados Unidos graças a programas da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados políticos.
O trabalho em Greeley é desgastante, mas um operário recém-contratado ganha US$ 2,5 mil por mês, além do plano de saúde e de outros benefícios raríssimos na África.
A empresa diz que a agitação dos últimos dias não afetou sua produção. Mas ela certamente gerou muita publicidade negativa. Mais de uma centena de trabalhadores da JBS e líderes muçulmanos se reuniram numa praça no centro de Greeley para protestar contra a empresa na terça-feira. Eles deram entrevistas à imprensa local para se queixar de maus-tratos e discriminação e reclamar dos supervisores da fábrica, a maioria trabalhadores de origem hispânica.
A notícia abaixo do Valor Econômico de hoje mostra como aspectos culturais podem trazer sérios problemas para a produção:
Questão religiosa leva JBS a demitir 100 pessoas nos EUA
Ricardo Balthazar
O grupo brasileiro JBS demitiu nesta semana 100 trabalhadores muçulmanos que reivindicavam jornadas de trabalho mais flexíveis para conciliar suas obrigações religiosas com o serviço, em uma tentativa de liquidar uma disputa que durante vários dias agitou a principal planta de processamento de carne bovina do grupo nos Estados Unidos.
O problema surgiu no começo deste mês, quando os muçulmanos do mundo inteiro celebram o Ramadã. Neste período do ano, os fiéis devem ficar em jejum entre o nascer e o pôr-do-sol e só podem comer depois de uma oração que precisa ser feita durante o crepúsculo. Os horários estabelecidos pela JBS para os trabalhadores da fábrica do grupo em Greeley, no Estado do Colorado, tornam impossível o cumprimento dessas obrigações.
A planta opera com dois turnos de trabalho. O pessoal escalado para o segundo turno entra no começo da tarde e só volta para casa à noite, depois de mais de oito horas lá dentro. O contrato coletivo assinado pela JBS com o sindicato que representa os trabalhadores prevê três pausas para descanso e alimentação nesse período, duas de quinze minutos e uma de meia hora.
Depois de várias reuniões com o sindicato e representantes dos trabalhadores muçulmanos, a empresa concordou em antecipar a pausa de meia hora para alimentação durante o Ramadã, das 21h15 para as 20 horas. Mas não adiantou, porque nesta época do ano o sol se põe antes das 19h30 em Greeley e os muçulmanos precisam fazer suas orações antes disso se quiserem cumprir os rituais do Ramadã.
Na sexta-feira da semana passada, 220 trabalhadores abandonaram a linha de produção e saíram da fábrica em protesto contra a decisão da empresa. A JBS considerou a iniciativa uma violação do acordo coletivo e suspendeu os trabalhadores. Cerca de 120 voltaram ao trabalho na terça-feira. Os outros foram demitidos no dia seguinte.
Em comunicado distribuído na quarta-feira, a empresa disse que "trabalha junto com todos os empregados e seus representantes sindicais para acomodar práticas religiosas de forma razoável, segura e justa para todos os envolvidos". A JBS tem cerca de 3,4 mil funcionários em Greeley. Cada turno de trabalho na planta emprega 1,5 mil pessoas.
O conflito com os muçulmanos é uma amostra das dificuldades que o grupo brasileiro tem encontrado para recrutar e reter a mão-de-obra necessária para processar as milhares de cabeças de gado que são abatidas diariamente em suas fábricas. A JBS chegou aos Estados Unidos há pouco mais de um ano, quando adquiriu o controle da Swift, terceira empresa do setor de carne bovina no país.
Mais de dois terços dos empregados da JBS em Greeley são imigrantes de origem hispânica. Em 2006, antes da chegada do grupo brasileiro, a empresa perdeu 1,3 mil trabalhadores que viviam com documentos ilegais nos EUA e foram descobertos pelas autoridades. Nos últimos tempos a empresa contratou um grande número de trabalhadores africanos, refugiados de países pobres conflagrados por guerras civis e conflitos étnicos.
Cerca de 15% dos funcionários da empresa em Greeley são africanos, a maioria de religião muçulmana. Eles saíram de lugares como a Somália, a Etiópia e o Congo para viver nos Estados Unidos graças a programas da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados políticos.
O trabalho em Greeley é desgastante, mas um operário recém-contratado ganha US$ 2,5 mil por mês, além do plano de saúde e de outros benefícios raríssimos na África.
A empresa diz que a agitação dos últimos dias não afetou sua produção. Mas ela certamente gerou muita publicidade negativa. Mais de uma centena de trabalhadores da JBS e líderes muçulmanos se reuniram numa praça no centro de Greeley para protestar contra a empresa na terça-feira. Eles deram entrevistas à imprensa local para se queixar de maus-tratos e discriminação e reclamar dos supervisores da fábrica, a maioria trabalhadores de origem hispânica.
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