segunda-feira, junho 29, 2009

Ranking das usinas

A UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar publicou semana retrasada o ranking de produção da safra 08/09 conforme notícia abaixo publicada no site da entidade. Na sequência temos a tabela das 20 maiores usinas e alguns comentários sobre a evolução da produção das 5 maiores:

Site da UNICA divulga ranking de produção da safra 2008/09

O ranking de produção na safra 2008/09 das unidades da região centro-sul do Brasil já está na área de Estatísticas do site da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), no item Dados e Cotações. Na safra passada, as usinas São Martinho, Da Barra e Equipav, todas do Estado de São Paulo, ocuparam os três primeiros lugares em moagem de cana-de-açúcar. Os dados são compilados pela equipe técnica da UNICA, com base em informações de produção enviadas quinzenalmente à entidade por usinas da região centro-sul. “As 30 novas unidades que entraram em operação na safra 2008/2009 já foram incluídas neste novo ranking de produção”, informou o assessor econômico da UNICA, Luciano Rodrigues.

A área de estatísticas do site da UNICA conta também com dados da produção de cana-de-açúcar, etanol e açúcar do Brasil, a circular mensal do Conselho dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana), o histórico dos preços mensais do Açúcar Total Recuperável (ATR), preços do etanol anidro e hidratado pagos ao produtor no Estado de São Paulo, o preço do hidratado para o consumidor em cada estado brasileiro, dados sobre as exportações realizadas pelo setor, além de histórico das vendas de automóveis e comerciais leves por tipo de combustível no Brasil.

Parte dos dados e cotações disponibilizados no site da UNICA em português também podem ser acessados no site da entidade em inglês.

Para mais informações, clique aqui. (Fonte: UNICA)

Análise dos Dados

Ao ver o ranking resolvi verificar o comportamento das 5 primeiras colocadas nas quatro últimas safras e os valores de produção e da posição no ranking encontram-se abaixo. O que impressiona é que a São Martinho aumento cerca de 12% nas últimas safras, a Colorado 34% e a Equipav quase dobrou sua capacidade (aumento de 97%). Este aumento de moagem fez com que ela passasse do 17º lugar para o terceiro.



sábado, junho 27, 2009

Mapa da produção de frangos no Brasil

O meu pequeno nível de conhecimento da produção avícola do Brasil sinalizava para uma produção aparentemente descentralizada, porém a reportagem do Avisite disponibilizada abaixo mostra que estou completamente enganado:

Distribuição da produção de frango no Brasil traz surpresas em 2009

Campinas, 26 de Junho - Se fosse necessário repartir o “bolo” da criação de frangos no Brasil em quatro fatias aproximadamente iguais, a fatia maior ficaria com Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estados que, por enquanto, absorveram em conjunto pouco mais de 30% dos pintos de corte alojados no Brasil.

Até aí nada de mais, já que a primeira surpresa refere-se ao responsável pela segunda maior fatia. É o estado do Paraná, que, sozinho, alojou entre janeiro e maio o correspondente a quase 25% do alojamento nacional.

A surpresa, entretanto, não cessa aí, visto que a terceira posição é ocupada não por um ou dois estados, mas por toda uma Região – o Sudeste, cujos quatro estados (São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro) respondem, no momento, por menos de 24% do alojamento nacional.

E como os sete estados que compõem Sul e Sudeste ficaram com cerca de 79% do alojamento, os 21% restantes foram distribuídas entre as outras três Regiões ou, mais exatamente, entre 18 estados. Das 27 unidades federativas brasileiras, apenas em duas (Amapá e Roraima) não foi registrado alojamento de pintos de corte no período. (Fonte: Redação AviSite)

Vale entra na produção de biocombustíveis

A Vale vai produzir biodiesel a partir de palma para consumo próprio em suas locomotivas. A notícia abaixo é do Portal Exame e foi publicada no dia 24 passado:

Vale investe em biodiesel para consumo próprio
Companhia anuncia projeto no Norte para abastecer suas operações

A Vale anunciou nesta quarta-feira (24) um projeto para produção de biodiesel que abastecerá as operações da companhia na região Norte do país a partir de 2014. A matéria-prima utilizada para a produção do biodiesel será o óleo de palma - num consórcio entre Vale e a Biopalma da Amazônia S.A.

A participação da Vale no consórcio - que tem como meta produção anual de 500 mil toneladas de óleo de palma - é de 41%. A parcela será empregada para abastecer a planta de biodiesel de propriedade da companhia, que terá capacidade estimada em 160 mil toneladas de biodiesel por ano. O investimento total será de 610,3 milhões de reais, dos quais 80 milhões de reais serão aplicados em 2009.

"Nossa produção de biodiesel será destinada a auto-consumo, previsto no uso do combustível B20 (20% de biodiesel e 80% de diesel comum) para abastecer nossa frota de locomotivas da Estrada de Ferro Carajás e máquinas e equipamentos de grande porte das minas de Carajás, no estado do Pará. Com esta iniciativa, a Vale se antecipará à regulamentação que prevê o uso de B20 em 2020", anotou a Vale em comunicado.

"Este projeto está em linha com a estratégia da Vale de diversificação e otimização de sua matriz energética através da maior utilização de carvão térmico, combustíveis renováveis e gás natural."

Às 11h13, as ações preferenciais da Vale (VALE5) subiam 0,86%, negociadas a 30,45 reais. No mesmo instante, o Ibovespa subia 1,32%, aos 50.469 pontos.

Setor sucroalcooleiro avança nas relações trabalhistas

O setor sucroalcooleiro, na minha opinião alvo prioritário e injusto das ações de fiscalização trabalhista, assinou nesta semana um compromisso que visa melhorar a situação do trabalhadores. Este compromisso é voluntário e foi assinado por cerca de 3/4 do setor. Movimento voluntário semelhante foi realizado em São Paulo com relação à queima prévia da cana-de-açúcar antes da colheita.

Abaixo temos a nota da UNICA sobre o tema e um artigo do Marcos Jank, presidente da UNICA, publicado no jornal O Estado de São Paulo intitulado: “Cana-de-Açúcar – Avanços Históricos na Área Trabalhista”.

Compromisso Trabalhista para a cana-de-açúcar é anunciado com mais de 75% de adesão

O Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar foi lançado nesta quinta-feira (25/06/2009), em Brasília, com mais de 75% de adesão do setor sucroenergético. “É um passo decisivo e histórico que trata do presente e do futuro e coloca a adoção das melhores práticas trabalhistas em primeiro plano no setor sucroenergético”, disse o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Marcos Jank.

O lançamento contou com a participação de mais de 400 pessoas no Palácio do Buriti, sede temporária do Executivo Federal, e foi encerrado com discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em sua fala, Jank destacou que a alma do compromisso é a valorização das melhores práticas trabalhistas por meio da criação de instrumentos de mercado, que as reconheçam como exemplos a serem adotados pelas empresas: “Optamos por elevar os padrões médios de conduta com ações pró-ativas e transparentes, em vez de ficarmos destacando as exceções, que sempre existirão em setores desta magnitude”.

Jank frisou que o compromisso tem caráter evolutivo, portanto temas que não foram acolhidos agora entre as melhores práticas do setor podem no futuro ser considerados. O conjunto de práticas já reconhecidas é fruto dos avanços nas relações capital – trabalho, reconhecidos por todos os agentes envolvidos, seja nas negociações coletivas, seja na adoção de boas práticas.

No total, 303 das quase 400 usinas em atividade no Brasil – 107 delas em São Paulo – confirmaram sua adesão ao compromisso desde o primeiro dia, um número que, segundo Jank, superou de longe as melhores expectativas do setor. Tudo indica, porém, que o total deve continuar crescendo, na medida em que todas as usinas tomarem conhecimento do conteúdo do documento. Para as usinas, assinar o termo de adesão significa cumprir um conjunto de cerca de 30 práticas empresariais exemplares, que em seu conjunto extrapolam as obrigações estabelecidas na lei. Cada usina participante receberá ainda um certificado de conformidade.

Encerrando o evento, o presidente Lula criticou a tributação imposta ao etanol brasileiro por outros países, segundo ele, para impedir a penetração e crescimento do biocombustível brasileiro. Ele também cumprimentou os participantes do acordo. “Empresários e trabalhadores entenderam que, para transmitir o recado do combustível limpo e renovável que reduz emissões, terão de trabalhar unidos”, afirmou.

Além de representantes da área sindical, dezenas de trabalhadores e empresários do setor, o lançamento do novo Compromisso teve a participação do secretário geral da presidência e coordenador do processo que levou ao novo documento, ministro Luiz Dulci; do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes; do ministro das Minas e Energia Edison Lobão; do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel; e do ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Luppi. Também participaram Andre Rocha, representando o Fórum Nacional Sucroenergético; o secretário da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antonio Lucas, e o presidente da Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), Élio Neves.

Avanços históricos na área trabalhista

Mudança e diversidade são as duas palavras-chave nas questões trabalhistas do setor sucroenergético. A mudança resulta do rápido processo de mecanização da cana-de-açúcar na Região Centro-Sul, que levará ao quase desaparecimento das operações manuais de plantio e colheita em menos de uma década. Na atual safra, a área colhida em São Paulo sem o uso do fogo, usado para viabilizar o corte manual, já superará metade da área total de cana. O processo de mecanização acelerou-se por razões ambientais (redução de emissões e eliminação da fuligem resultante da queima de cana) e econômicas (uso da palha da cana para gerar bioeletricidade). No entanto, a perda líquida de empregos no setor ao longo dos próximos anos é uma consequência negativa da mecanização.

Já a diversidade resulta da imensa fragmentação do setor, que conta com quase 400 indústrias processadoras, mais de mil indústrias de suporte, 70 mil fornecedores de cana e quase 850 mil trabalhadores. Se, por um lado, ainda há problemas trabalhistas em razão do grande contingente de mão de obra espalhada em 20 Estados brasileiros, por outro, os avanços nas relações capital-trabalho são reconhecidos por todos os agentes envolvidos, seja nas negociações coletivas, seja na adoção de boas práticas, que, muitas vezes, vão além da legislação vigente. É certo que os problemas ainda existentes são exemplos isolados, que não representam a conduta geral do setor.

É nesse sentido que queremos avançar. Educar, requalificar e contribuir para recolocar os trabalhadores que vão perder o emprego. Valorizar as melhores práticas trabalhistas, criando instrumentos de mercado que as reconheçam como exemplos a serem adotados por um número crescente de empregadores. Elevar os padrões médios de conduta com ações proativas e transparentes, em vez de ficar eternamente destacando as exceções, que sempre existirão em setores dessa magnitude.

Para reduzir a "diversidade", após um ano de intensas negociações habilmente coordenadas pelo experiente ministro Luiz Dulci, representantes de empresários e trabalhadores de todo o País e seis Ministérios do governo federal estarão hoje em Brasília assinando o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-açúcar. Trata-se de um novo modelo tripartite, de adesão voluntária e com abrangência nacional, que se diferencia de qualquer negociação realizada até agora e representa um avanço decisivo nas relações trabalhistas. As empresas que assinarem o compromisso terão de cumprir um conjunto de cerca de 30 práticas empresariais exemplares, que extrapolam as obrigações legais, recebendo um certificado de conformidade referendado por uma comissão nacional formada pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), pela Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e pelo Fórum Nacional Sucroenergético. Além das quatro entidades, que assinam o Compromisso Nacional com o presidente Lula, várias dezenas de unidades empresariais já vão firmar seus "termos de adesão" ao compromisso.

As "melhores práticas" do setor incluem a contratação direta de trabalhadores nas atividades manuais do plantio e corte da cana-de-açúcar, eliminando totalmente a utilização de intermediários, os chamados "gatos". Outros pontos incluem melhorias no transporte de trabalhadores, aumento da transparência na aferição e no pagamento do trabalho por produção, atendimento a migrantes contratados em outras localidades, questões voltadas para a saúde e segurança dos trabalhadores - como ginástica laboral, pausas, reidratação, atendimento de emergência e readequação dos equipamentos de proteção individual - e fortalecimento das organizações sindicais e das negociações coletivas. Além disso, o governo vai introduzir um conjunto de políticas públicas específicas nas áreas de educação, requalificação e facilitação de emprego. Trata-se de um processo gradual de evolução dos padrões acordados, inspirado na ideia simples e moderna de que o próprio mercado deve reconhecer o valor do compromisso, estimulando mudanças efetivas nas práticas laborais no setor.

No universo da "mudança", as empresas associadas à Unica já qualificaram, desde o início de 2007, mais de 5 mil trabalhadores impactados pelo acelerado processo de mecanização no Estado de São Paulo, região que responde por 60% da produção brasileira de cana. Mas isso não basta. No início deste mês, a Unica, a Feraesp e empresas da cadeia produtiva - Syngenta, John Deere e Case IH, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - uniram-se para lançar o maior programa de treinamento e requalificação de trabalhadores já implantado pelo setor privado sucroalcooleiro no mundo. Serão 7 mil pessoas beneficiadas por ano, entre trabalhadores e integrantes das comunidades em seis regiões canavieiras paulistas. Serão oferecidos cursos de motorista canavieiro, operador de tratores e colhedoras, mecânico, eletricista e soldador, além de programas voltados para outros setores, como reflorestamento, horticultura, artesanato, construção civil, computação, costura, hotelaria e turismo.

O Compromisso Nacional de reconhecimento das melhores práticas e o programa de requalificação de trabalhadores são exemplos de ações graduais, efetivas e coordenadas que trarão melhorias às condições laborais e de qualidade de vida dos trabalhadores manuais da cana-de-açúcar, além de oferecer novos horizontes para aqueles que, em razão da mecanização, terão de mudar de atividade. São avanços inéditos e de grande abrangência, que merecem ser valorizados como passos históricos voltados para um futuro melhor.

Artigo publicado originariamente no jornal O Estado de S. Paulo, no dia 25 de junho de 2009

Marcos Sawaya Jank é presidente da UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar

terça-feira, junho 23, 2009

Argentina - desastre na produção agrícola

Notícia publicada hoje no Estado de São Paulo e disponível no BrasilAgro fala do desastre da política do casal Kirchner na agricultura:

Argentina: Os Sem Kibe

A que ponto chegou a política do casal Kirchner. Enquanto o governo brasileiro lança pacote de R$ 10 bilhões a favor da agricultura, a Argentina se prepara para importar tanto trigo como carne. Seria o mesmo que o Brasil importar café.A informação circulou por jornais de Buenos Aires: o campo argentino terá em 2010 o pior resultado dos últimos 100 anos. E a plantação de trigo será do mesmo tamanho que a de... 1902. Vai ocupar pouco mais de 3 milhões de hectares.Já a criação de gado - que alegra os restaurantes com a famosa carne argentina - está em franca diminuição. O país nem exporta mais. "A insegurança jurídica por lá é gigante e a rentabilidade pequena. Os pecuaristas estão desistindo", pondera Roberto Giannetti, da Abiecs, associação de gado brasileira. "E se o Brasil não se cuidar no lado do meio ambiente, podemos cair na mesma situação", avisa. (Sonia Racy, O Estado de S.Paulo, 23/06/09)

domingo, junho 21, 2009

Panorama das agriculturas chinesa e indiana

Continuando o post anterior que fala sobre os BRICs , seguem abaixo 4 artigos sobre as agriculturas chinesas e indianas publicadas nas edições especiais de dezembro de 2007 - Entenda melhor a China na agronegócio mundial (Edição 12 – Volume 27) e janeiro de 2008 - Qual o peso da Índia no agronegócio global? (Edição 01 – Volume 28) respectivamente.

Abaixo na sequência dos artigos sobre a China temos uma introdução de autoria de André Nassar e Saulo Nogueira do ICONE, seguida pelas Macro tendências do setor agrícola chinês. Sobre a Índia temos a introdução e na sequência, Desafios do setor agrícola Indiano. Os quatro artigos podem ser obtidos na íntegra no site da revista clicando nos links abaixo:

China: Introdução e Macro tendências

CHINA
Introdução *

André Meloni Nassar - Diretor geral do Icone
Saulo Nogueira - Pesquisador do Icone

A entrada da China na Organização Mundial do Comércio representou um processo de mudança estrutural no seu setor agrícola. Não só porque o país reduziu fortemente suas tarifas agrícolas, a ponto de possuir atualmente uma estrutura tarifária equivalente a do Brasil para as principais commodities comercializadas mundialmente, mas também porque o governo promoveu mudanças profundas em suas políticas domésticas que afetavam o setor agrícola. Finalizado o período de transição em 2004, o país vive um momento de redesenho de suas políticas agrícola e comercial. Esse é, sem dúvida, um motivo de preocupação para o Brasil.

Um mergulho na agricultura chinesa confirma a hipótese de que o país busca explorar suas vantagens competitivas, que são a abundância de mão de obra, com custos competitivos em relação a outros países em desenvolvimento. O país tem uma clara estratégia, traduzida em suas políticas públicas, de promover o desenvolvimento de produtos agrícolas intensivos em mão-de-obra e de alto valor agregado, como frutas, vegetais e carnes, especialmente aves e suínos. A estratégia do país reflete a constatação de que terra é um recurso escasso em território chinês e que somente algumas regiões produtoras possuem oferta suficiente de água.

Agregar valor à produção agrícola, como forma de gerar renda e dar competitividade ao produtor, se transformou em obsessão. Busca-se agregar valor tanto na produção agrícola, incrementando a produção de frutas e vegetais, mas, sobretudo, estimulando o desenvolvimento da indústria de processamento de alimentos. Claramente, a indústria de processamento está se desenvolvendo com muita rapidez. O mesmo pode ser dito sobre o setor varejista. As grandes cidades chinesas em nada perdem para aquelas dos países desenvolvidos na oferta de alimentos no setor supermercadista.

No entanto, mesmo migrando para produtos intensivos em mão-de-obra e assistindo à estagnação dos setores intensivos em terra, a China ainda vive o conflito entre produção e abastecimento nos produtos intensivos em terra, mesmo diante de uma população de 1,3 bilhão de habitantes, que está em claro processo de urbanização (em 2005, cerca de 43% da população já viviam nas cidades), o governo chinês ainda tem claros objetivos de auto-suficiência para produtos básicos, tais como trigo, arroz e carnes, e dá sinais de forte preocupação com a grande dependência do mercado mundial no abastecimento de soja, preocupação que será estendida para o milho à medida que as importações cresçam. Já se ouve no governo chinês discursos que argumentam que a incapacidade de a China aumentar sua produção de soja, aproveitando-se do enorme crescimento da demanda doméstica, é fruto da competição pelas importações.

Se, de um lado, o consumo de produtos básicos, como arroz e trigo, apresenta tendência declinante, comprovando que o consumidor chinês está migrando para uma dieta mais rica em proteínas, o consumo de carnes e lácteos está em franco crescimento, arrastando o consumo de farelo de soja e milho. Isso explica porque a China busca desenvolver políticas que reduzam a sua dependência externa de matérias-primas para rações. Nesse sentido, outro claro objetivo de longo prazo do governo é desenvolver políticas que resultem em aumento de produtividade de soja e milho.

A palavra segurança alimentar está na boca de todos os representantes do governo chinês. Os objetivos são claros: elevado nível de auto-suficiência da produção de arroz, trigo e carnes e controle sobre o nível de dependência externa em produtos como soja (e milho no futuro, certamente). Esses objetivos são determinantes centrais da política agrícola chinesa. Passados seis anos de entrada da China na OMC, o país começa a recompor suas políticas para a agricultura e os objetivos de segurança alimentar certamente estarão por trás dos programas em desenvolvimento. A obsessão pela soberania alimentar fica mais evidenciada no caso do algodão pois, embora as importações estejam em forte crescimento, não há claros objetivos de promover a produção doméstica de algodão.

Dos grandes e populosos países, a China, junto com a Índia, são ainda os grandes bastiões do discurso de que segurança alimentar significa soberania alimentar. Embora o país esteja em franco processo de urbanização, a palavra consumidor tem lá um significado próprio. No Brasil, quando falamos em consumidor, enxergamos um cidadão urbano que adquire alimentos no auto-serviço varejista. Lá, uma significativa parte da massa consumidora ainda vive no meio rural. Isso explica porque o país vive um conflito estrutural na formulação de suas políticas. Uma política para promover abastecimento de alimentos a baixo custo, por exemplo, por meio da importação, é do interesse do consumidor urbano, mas é vista como uma política que pune o consumidor/produtor rural. Esse conflito gera a obsessão pela soberania alimentar.

À sua maneira, a China está recuperando o conceito de multifuncionalidade da agricultura, propalado ostensivamente pelos europeus. Os defensores da multifuncionalidade argumentam que o meio rural tem diversas funções para uma sociedade, que vão além da produção de alimentos e fibras. No caso da China, os objetivos de desenvolvimento rural já contemplam objetivos como garantir a herança rural, desenvolvimento social e meio ambiente. Não é raro ouvir dos oficiais chineses que é preciso criar uma sociedade harmônica no país. A preocupação decorre do fato de que o seu crescimento econômico tem se dado em bases desiguais, na medida em que a renda per capita na população urbana cresce mais e mais rápido que a renda no meio rural. Reduzir essa disparidade, transferindo renda do meio urbano para o rural é uma macro tendência da China.

Embora a renda no meio rural venha crescendo menos que a renda nas cidades, o meio rural está ganhando complexidade do ponto de vista de sua estrutura de atividades econômicas. Já se observam tendências semelhantes às das sociedades como a norte-americana, onde a produção agrícola vem perdendo importância como fonte geradora de renda no meio rural, ao passo que atividades e salários não-agrícolas passam a ter maior importância como fonte de geração de riqueza.

O processo de urbanização ainda é uma tendência com implicações estruturais no setor agrícola. Do lado do consumo, porque a urbanização, aliada ao crescimento econômico, determina mudanças no padrão de consumo de alimentos. No entanto, a urbanização tem um efeito positivo relevante sobre a agricultura chinesa, pois auxilia na consolidação da produção e na redução das propriedades rurais que não estão integradas ao mercado e produzem para subsistência. Em produtos como arroz, trigo, aves e suínos, os números de auto-consumo, ou seja, o volume consumido localmente, são muito grandes. Em um país com 95% dos estabelecimentos rurais com propriedades médias entre 0,2 e 1 ha de tamanho médio, a consolidação pode não resultar em ganho de eficiência, mas certamente contribui para mitigar o problema da elevada dependência pela agricultura de subsistência de algumas localidades e regiões. A consolidação, no entanto, não significa que o governo chinês vá flexibilizar suas regulamentações de propriedade e uso da terra. Controlar a propriedade e o uso da terra ainda será objetivo do Estado chinês.

O tamanho do mercado chinês, a crescente capacidade de exportação de alguns setores, e as preocupações com segurança alimentar são determinantes dos investimentos que são realizados por estrangeiros na China, e pelos chineses no exterior. Embora existam poucos dados documentando investimentos chineses no setor agrícola, sabe-se que há empresas chinesas investindo em produção agrícola em países africanos, com o objetivo de garantir abastecimento para o mercado chinês. Além do varejo de alimentos, que fez pesados investimentos na China, indústrias de alimentos e tradings houses também estão se posicionando como forma de diversificar fontes de suprimento de matérias-primas agrícolas. A China pode se tornar um mercado ainda mais atrativo para investimentos no agronegócio se o governo promover mudanças nas legislações de propriedade e uso da terra. Embora esse tema ainda esteja fora das prioridades do governo, é uma opção que não deve ser descartada para o futuro, sobretudo à medida que o consumo de alimentos cresce no país. Ainda desconhecemos casos de empresas brasileiras do agronegócio que tenham investimentos na China. Já nossos concorrentes da Austrália e Nova Zelândia estão se movimentando com rapidez nesse sentido.

* Texto baseado no documento Overview of Agri-Food Structure, Trade and Policies in China, preparado por Tian Weiming, no contexto do projeto coordenado pelo Icone Rede Latino-Americana e Asiática de Inteligência em Agricultura e Alimentos. O sumário executivo e o texto em versão na íntegra estarão disponíveis no site do Icone (www.iconebrasil.org.br) a partir de fevereiro de 2008.

Macro tendências do setor agrícola chinês

A entrada da China na Organização Mundial do Comércio representou um processo de mudança estrutural no seu setor agrícola. Não só porque o país reduziu fortemente suas tarifas agrícolas, a ponto de possuir atualmente uma estrutura tarifária equivalente a do Brasil para as principais commodities comercializadas mundialmente, mas também porque o governo promoveu mudanças profundas em suas políticas domésticas que afetavam o setor agrícola. Finalizado o período de transição em 2004, o país vive um momento de redesenho de suas políticas agrícola e comercial. Esse é, sem dúvida, um motivo de preocupação para o Brasil.

Um mergulho na agricultura chinesa confirma a hipótese de que o país busca explorar suas vantagens competitivas, que são a abundância de mão de obra, com custos competitivos em relação a outros países em desenvolvimento. O país tem uma clara estratégia, traduzida em suas políticas públicas, de promover o desenvolvimento de produtos agrícolas intensivos em mão-de-obra e de alto valor agregado, como frutas, vegetais e carnes, especialmente aves e suínos. A estratégia do país reflete a constatação de que terra é um recurso escasso em território chinês e que somente algumas regiões produtoras possuem oferta suficiente de água.

Agregar valor à produção agrícola, como forma de gerar renda e dar competitividade ao produtor, se transformou em obsessão. Busca-se agregar valor tanto na produção agrícola, incrementando a produção de frutas e vegetais, mas, sobretudo, estimulando o desenvolvimento da indústria de processamento de alimentos. Claramente, a indústria de processamento está se desenvolvendo com muita rapidez. O mesmo pode ser dito sobre o setor varejista. As grandes cidades chinesas em nada perdem para aquelas dos países desenvolvidos na oferta de alimentos no setor supermercadista.

No entanto, mesmo migrando para produtos intensivos em mão-de-obra e assistindo à estagnação dos setores intensivos em terra, a China ainda vive o conflito entre produção e abastecimento nos produtos intensivos em terra, mesmo diante de uma população de 1,3 bilhão de habitantes, que está em claro processo de urbanização (em 2005, cerca de 43% da população já viviam nas cidades), o governo chinês ainda tem claros objetivos de auto-suficiência para produtos básicos, tais como trigo, arroz e carnes, e dá sinais de forte preocupação com a grande dependência do mercado mundial no abastecimento de soja, preocupação que será estendida para o milho à medida que as importações cresçam. Já se ouve no governo chinês discursos que argumentam que a incapacidade de a China aumentar sua produção de soja, aproveitando-se do enorme crescimento da demanda doméstica, é fruto da competição pelas importações.

Se, de um lado, o consumo de produtos básicos, como arroz e trigo, apresenta tendência declinante, comprovando que o consumidor chinês está migrando para uma dieta mais rica em proteínas, o consumo de carnes e lácteos está em franco crescimento, arrastando o consumo de farelo de soja e milho. Isso explica porque a China busca desenvolver políticas que reduzam a sua dependência externa de matérias-primas para rações. Nesse sentido, outro claro objetivo de longo prazo do governo é desenvolver políticas que resultem em aumento de produtividade de soja e milho.

A palavra segurança alimentar está na boca de todos os representantes do governo chinês. Os objetivos são claros: elevado nível de auto-suficiência da produção de arroz, trigo e carnes e controle sobre o nível de dependência externa em produtos como soja (e milho no futuro, certamente). Esses objetivos são determinantes centrais da política agrícola chinesa. Passados seis anos de entrada da China na OMC, o país começa a recompor suas políticas para a agricultura e os objetivos de segurança alimentar certamente estarão por trás dos programas em desenvolvimento. A obsessão pela soberania alimentar fica mais evidenciada no caso do algodão pois, embora as importações estejam em forte crescimento, não há claros objetivos de promover a produção doméstica de algodão.

Dos grandes e populosos países, a China, junto com a Índia, são ainda os grandes bastiões do discurso de que segurança alimentar significa soberania alimentar. Embora o país esteja em franco processo de urbanização, a palavra consumidor tem lá um significado próprio. No Brasil, quando falamos em consumidor, enxergamos um cidadão urbano que adquire alimentos no auto-serviço varejista. Lá, uma significativa parte da massa consumidora ainda vive no meio rural. Isso explica porque o país vive um conflito estrutural na formulação de suas políticas. Uma política para promover abastecimento de alimentos a baixo custo, por exemplo, por meio da importação, é do interesse do consumidor urbano, mas é vista como uma política que pune o consumidor/produtor rural. Esse conflito gera a obsessão pela soberania alimentar.

À sua maneira, a China está recuperando o conceito de multifuncionalidade da agricultura, propalado ostensivamente pelos europeus. Os defensores da multifuncionalidade argumentam que o meio rural tem diversas funções para uma sociedade, que vão além da produção de alimentos e fibras. No caso da China, os objetivos de desenvolvimento rural já contemplam objetivos como garantir a herança rural, desenvolvimento social e meio ambiente. Não é raro ouvir dos oficiais chineses que é preciso criar uma sociedade harmônica no país. A preocupação decorre do fato de que o seu crescimento econômico tem se dado em bases desiguais, na medida em que a renda per capita na população urbana cresce mais e mais rápido que a renda no meio rural. Reduzir essa disparidade, transferindo renda do meio urbano para o rural é uma macro tendência da China.

Embora a renda no meio rural venha crescendo menos que a renda nas cidades, o meio rural está ganhando complexidade do ponto de vista de sua estrutura de atividades econômicas. Já se observam tendências semelhantes às das sociedades como a norte-americana, onde a produção agrícola vem perdendo importância como fonte geradora de renda no meio rural, ao passo que atividades e salários não-agrícolas passam a ter maior importância como fonte de geração de riqueza.

O processo de urbanização ainda é uma tendência com implicações estruturais no setor agrícola. Do lado do consumo, porque a urbanização, aliada ao crescimento econômico, determina mudanças no padrão de consumo de alimentos. No entanto, a urbanização tem um efeito positivo relevante sobre a agricultura chinesa, pois auxilia na consolidação da produção e na redução das propriedades rurais que não estão integradas ao mercado e produzem para subsistência. Em produtos como arroz, trigo, aves e suínos, os números de auto-consumo, ou seja, o volume consumido localmente, são muito grandes. Em um país com 95% dos estabelecimentos rurais com propriedades médias entre 0,2 e 1 ha de tamanho médio, a consolidação pode não resultar em ganho de eficiência, mas certamente contribui para mitigar o problema da elevada dependência pela agricultura de subsistência de algumas localidades e regiões. A consolidação, no entanto, não significa que o governo chinês vá flexibilizar suas regulamentações de propriedade e uso da terra. Controlar a propriedade e o uso da terra ainda será objetivo do Estado chinês.

O tamanho do mercado chinês, a crescente capacidade de exportação de alguns setores, e as preocupações com segurança alimentar são determinantes dos investimentos que são realizados por estrangeiros na China, e pelos chineses no exterior. Embora existam poucos dados documentando investimentos chineses no setor agrícola, sabe-se que há empresas chinesas investindo em produção agrícola em países africanos, com o objetivo de garantir abastecimento para o mercado chinês. Além do varejo de alimentos, que fez pesados investimentos na China, indústrias de alimentos e tradings houses também estão se posicionando como forma de diversificar fontes de suprimento de matérias-primas agrícolas. A China pode se tornar um mercado ainda mais atrativo para investimentos no agronegócio se o governo promover mudanças nas legislações de propriedade e uso da terra. Embora esse tema ainda esteja fora das prioridades do governo, é uma opção que não deve ser descartada para o futuro, sobretudo à medida que o consumo de alimentos cresce no país. Ainda desconhecemos casos de empresas brasileiras do agronegócio que tenham investimentos na China. Já nossos concorrentes da Austrália e Nova Zelândia estão se movimentando com rapidez nesse sentido.

ÍNDIA
Introdução

Na edição de dezembro de 2007 analisamos o papel da China no comércio agrícola mundial. Esta edição traz uma análise de outro gigante na produção agropecuária, a Índia. Gigantismo talvez seja uma das únicas características que aproximem Índia e China na agricultura. A arcaica estrutura de políticas da Índia e o baixo grau de desenvolvimento do setor agroindustrial são os grandes desafios dos indianos que, no caso da China, já foram superados.

A agricultura indiana lembra um carro com motor de alta potência numa corrida automobilística, porém engatado na primeira marcha e atrapalhando os outros carros. Enquanto os setores de serviços e a indústria têm atraído atenção mundial, a agricultura indiana, baseada em subsistência, dependente de intervenção governamental e com um setor agronegócio pouco desenvolvido, causa muito atrito com os países em desenvolvimento que buscam a liberalização comercial agrícola. Sua postura defensiva nas negociações comerciais da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio reflete o resultado da adoção de políticas intervencionistas que distorcem o setor produtivo e que visam a “proteger” seus agricultores. O que se torna claro após uma análise das estratégias de política da Índia é que, embora as políticas sejam voltadas a garantir a sobrevivência dos produtores e o abastecimento de alimentos a baixos preços para os consumidores, ambos perdem no longo prazo. As políticas indianas de subsídios aos insumos, controle de preços ao produtor e ao consumidor e de restrições ao uso da terra, são o mais forte entrave para o desenvolvimento de uma agricultura integrada aos mercados, respondendo a demandas do consumidor e com capacidade de viabilizar-se e de atrair investimentos. Fica claro que essas políticas estão criando um fosso entre o setor varejista, que está se desenvolvendo rapidamente, seguindo as demandas da nova classe consumidora indiana, e o setor agropecuário, que não consegue acompanhar o processo de forma sistemática e integrada.

Este texto mostra que o grande gargalo do setor agrícola da Índia são as políticas agrícolas. A Índia faz uso de instrumentos de política que foram abandonados no Brasil há mais de 20 anos. Já há políticos, consumidores e grupos empresariais indianos que enxergam os efeitos negativos das políticas existentes em seu país e estão lutando para emendá-las. Porém, a batalha não é fácil devido ao atrativo político da retórica de “proteger os 700 milhões de pessoas vivendo na zona rural contra as importações subsidiadas”.

A Índia tem sido o líder dos países em desenvolvimento protecionistas nas negociações da Rodada Doha, organizados em uma coalizão chamada G-33. Os argumentos indianos refletem a dicotomia das políticas do país: garantir renda aos produtores e, ao mesmo tempo, garantir suprimento de alimentos com baixo custo para os consumidores. Sob o argumento de que os países em desenvolvimento têm o direito de ser soberanos na segurança alimentar, e que a sobrevivência dos meios de subsistência dos pequenos produtores não pode ser ameaçada pelo comércio internacional, o país defende na Rodada a criação de mecanismos para evitar a abertura comercial do seu setor agrícola (produtos especiais e mecanismo de salvaguardas especiais para países em desenvolvimento). Esses mecanismos são objeto de grande preocupação para o agronegócio brasileiro. Além disso, a Índia já mostrou ser capaz de usar políticas que distorcem o mercado internacional por meio de subsídios às exportações. A bola da vez é o açúcar, mas o país já havia subsidiado as exportações de trigo no início dos anos 2000.

Realmente, a Índia tem sido um dos principais defensores das flexibilidades nas fórmulas de abertura comercial agrícola na Rodada Doha, o que certamente poderá prejudicar, ou até anular, os ganhos das negociações comerciais. O objetivo do governo indiano é aumentar as exportações agrícolas do país e manter controle sobre as importações, facilitando apenas a entrada dos produtos cuja produção nacional não atende à demanda.

De outro lado, o baixo nível de desenvolvimento do setor também apresenta oportunidades de comércio e investimentos estrangeiros. Como elaborado no decorrer do texto, a infra-estrutura precária requer muito investimento para adaptar a logística de alimentos aos produtos sensíveis às altas temperaturas. Os sistemas de gerenciamento de transporte, de armazenagem e distribuição de alimentos também podem ser “importados” por empresas estrangeiras, pois as nacionais não têm conhecimento ou experiência na área. As multinacionais do varejo alimentício já estão investindo na cadeia produtiva desde o campo até os supermercados. Cabe saber se esta será a tendência nos próximos anos, ou se o governo ou as cooperativas investirão nessa área também. No entanto, tudo indica que nesse ritmo as empresas estrangeiras terão oportunidades para investir nas áreas de serviços agrícolas, assim como na logística de alimentos perecíveis do campo até as cidades, assim como na área de varejo, praticamente inexistente nas cidades.

Uma outra oportunidade está relacionada ao tema dos biocombustíveis. Diante de um cenário de crescimento do consumo de alimentos e de biocombustíveis, na medida em que o país está adotando misturas de biodiesel e etanol crescentes nos combustíveis fósseis, a demanda por terra e água para agricultura na Índia deverá ser intensificada no futuro. No entanto, o país carece de ambos os recursos naturais. Ainda há incertezas se a Índia vai importar alimentos e utilizar mais terra para produzir biocombustíveis ou se vai optar pelo modelo oposto. No entanto, fica claro que ela será obrigada a importar commodities agrícolas em volumes maiores do que tem importado até hoje.

Desafios do setor agrícola Indiano

Com um meio rural onde ainda vivem cerca de 700 milhões de pessoas, o baixo nível de desenvolvimento do setor agrícola indiano causa surpresa para um expectador externo. Um mergulho no setor agrícola do país nos faz perguntar como uma agricultura de subsistência - com um nível muito baixo de industrialização e mecanização, sem cadeias de suprimento de alimentos organizadas para o setor varejista, que não possui um mercado de terras desenvolvido, que a distribuição dos lotes de terra foi toda administrada pelo Estado, onde sistemas de arrendamentos estão sujeitos a fortes restrições legais - será capaz de produzir os alimentos demandados por uma crescente classe com poder de consumo que, segundo estimativas, passará dos atuais 40% dos domicílios para 60% nos próximos dez anos.

A agricultura indiana vive um momento de mudanças e de reflexão sobre o futuro das suas políticas agrícolas. Os grupos que reconhecem que o agronegócio indiano precisa se desenvolver respondendo às novas demandas do consumidor urbano, sendo capaz de organizar cadeias de suprimento para o setor varejista, pedem por reformas profundas nas políticas agrícolas e nas legislações que inibem investimentos e impedem a integração dos produtores no mercado livre. Essa é a posição dos grupos organizados agrícolas. Da parte dos políticos e do governo indiano, entretanto, as resistências em reformar o modelo atual e desregulamentar os mercados de produtos agrícolas são enormes. A importância dos mercados públicos regulamentados na Índia é tão grande que eles têm um nome de batismo na língua local: mandis. Assim, a Índia vive um momento de reflexão sobre suas estratégias de política, sendo crescente a percepção de que as políticas precisam ser reformadas, mas os formuladores de política, preocupados com o peso político de milhões de agricultores, querem evitar ao máximo que as reformas promovam êxodo rural e levem a uma marginalização ainda maior de agricultores não-eficientes.

O Ministério de Agricultura terá de tomar decisões importantes e complicadas nos próximos anos. Por influenciar diretamente cerca de 58,4% da força de trabalho da Índia (268 milhões de habitantes), as políticas agrícolas requerem muito cuidado na sua formulação. Até hoje, a estratégia foi suportar a produção agrícola com pesados subsídios para compra de insumos (fertilizantes, irrigação e sementes), visando a incentivar o produtor a adotar tecnologia e, assim, aumentar a produtividade, e um sistema de preços mínimos acoplado a compras governamentais com o objetivo de garantia de renda. Essas políticas incentivaram os produtos cobertos pela política (cereais para alimentação, feijões, algodão e açúcar) que passaram a predominar na produção agrícola.

Ao mesmo tempo, as restrições legais quanto ao uso, distribuição e arrendamento de terras afeta adversamente os investimentos, sobretudo aqueles de longo prazo. Esse é um dos maiores entraves para que o crescente varejo consiga organizar cadeias de suprimento. Reformas nas legislações que restringem o uso da terra e a desregulamentação dos mercados públicos é condição necessária para desenvolver o setor agrícola indiano. As políticas atuais não oferecem os incentivos necessários para o produtor rural atender às novas demandas do público urbano com maior poder de consumo, que busca alimentos com maior valor agregado.

Existe uma idéia de investir na produção agrícola de alto valor agregado para amenizar o êxodo rural e melhorar a renda dos agricultores familiares. Essa proposta, no entanto, exige muitos investimentos e um tempo de adaptação, e pode não ser capaz de atender às necessidades da população urbana indiana, mesmo que conte com o apoio dos políticos protecionistas. O desenvolvimento de políticas de estímulo à produção de produtos de valor agregado, por sua vez, não deverá ser acompanhado por reformas substanciais na política de sustentação de preços e renda. As posições protecionistas da Índia na Rodada Doha comprovam que o país não tem interesse em assumir compromissos na OMC que o levem a reformar suas políticas tradicionais. Essa reforma pode até ocorrer, mas será feita por pressões e incentivos internos.As distorções causadas pelos instrumentos de política (subsídios a insumos e preços garantidos) incentivaram o crescimento da produção de alguns produtos em detrimento de outros. O caso típico são as oleaginosas. Os indianos são grandes consumidores de óleos vegetais, mas não foram capazes de desenvolver a produção de soja e palma para atender à demanda local. A necessidade de importar certos itens para atender à demanda interna indica que a Índia provavelmente terá de continuar importando certos produtos durante o período de reforma do setor. Ademais, o risco crescente de falta de recursos naturais ameaça a produção agrícola indiana, tornando assim a oferta do exterior mais importante.

Entenda um pouco dos BRICs

O encontro entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) realizado na Rússia terça passada colocou esse assunto à tona. Apesar de não terem muita coisa em comum, exceto o fato de serem países gigantes emergentes que poderão incomodar os países ricos no médio prazo, acredito que somente o fato de iniciarem conversas conjuntas é algo positivo. Com relação ao tema do blog, o agronegócio, temos situações bem diferentes: A China não possui mais terras aráveis, o Brasil é a potência que todos conhecemos com elevado nível tecnológico, a Rússia com suas restrições de clima e a Índia um país que tem que, em alguns anos, até importar açúcar, devido ao atraso de sua agricultura.

Visando contribuir à discussão do tema, seguem abaixo duas reportagens da BBC Brasil que encontrei no site BrasilAgro sobre a reunião e uma notícia do Valor que fale especificamente sobre o tema Agricultura.

Finalizando o tema, segue no próximo post, uma análise mais profunda das agriculturas chinesas e indianas publicadas em edições especiais da AgroAnalysis, publicadas em dezembro de 2007 e janeiro de 2008, respectivamente.

Países do BRIC se reúnem em busca de uma nova ordem mundial

Os líderes dos quatro países que formam o bloco dos BRICs (sigla criada em 2001 pelo banco de investimentos Goldman Sachs para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China) terão, nesta terça-feira, 16 de junho, sua primeira cúpula presidencial em Ecaterimburgo, cidade na região dos Montes Urais, na parte asiática da Rússia.

A pauta desse encontro inédito é vasta e inclui assuntos que refletem um interesse comum em buscar uma nova ordem global que reflita o peso que as economias emergentes ganharam nos últimos anos, e devem continuar ganhando no futuro.

Pelo menos para o economista que criou a sigla, Jim O'Neill, este futuro está mais próximo.

De acordo com suas mais recentes projeções, em 2027, a economia da China deve superar a dos Estados Unidos, contribuindo, em grande parte, para que o grupo como um todo supere as economias ricas do G7 em menos de duas décadas.

A previsão anterior era de que isso ocorresse em 2035. A revisão se deve a um crescimento da China maior do que o esperado nos últimos anos e aos efeitos da crise na economia global.

A crise será um dos principais temas da cúpula em que os quatro chefes de Estado devem chegar a um consenso sobre o caminho que deve ser trilhado para que a economia volte a crescer com estabilidade.

Eles devem discutir ainda assuntos diversos, como a reforma das instituições financeiras internacionais, o diálogo dos BRICs no futuro, o papel do G20, mudanças climáticas e questões de segurança alimentar e energética. Tudo isso em apenas quatro horas de reunião.

INTERESSES COMUNS

Apesar das grandes diferenças entre os quatro países, alguns temas são consensuais, como a visão de que é necessária uma reforma no sistema financeiro global.

Os quatro defendem o fortalecimento de mecanismos de supervisão do mercado financeiro e reformas que deem mais voz aos emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, instituições criadas no fim da Segunda Guerra Mundial para supervisionar a economia global.

O consenso ainda não está claro em outros temas. Um que promete causar polêmica é a discussão, ainda em estágio inicial, sobre uma alternativa ao dólar como moeda global de reserva e usada na maior parte das trocas comerciais. A ideia levanta várias possibilidades, mas ainda não há proposta concreta nem a certeza de que o tema é visto como prioridade pelos quatro.

No campo político, existe uma visão comum de que a Organização das Nações Unidas (ONU) deve ser aberta a uma maior participação de países emergentes e em desenvolvimento.

Mas no foro dos BRICs, no entanto, não existe posição única sobre a reforma no Conselho de Segurança defendida pelo Brasil e que inclui a ampliação do número de países com direito a um assento permanente e a veto.

A China e a Rússia fazem parte desse seleto grupo ao lado da França, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. O Brasil e a Índia, ao lado do Japão e da Alemanha, postulam uma vaga cativa.

No grupo, o tema é polêmico principalmente porque a China, apesar de defender, em tese, a democratização das organizações internacionais, é veementemente contra a inclusão do Japão.

"Mas a ONU é muito maior do que o Conselho de Segurança. A democratização da ONU passa também por uma maior participação em missões de paz, por exemplo", disse o analista indiano Nandan Unnikrishnan, que organizou recentemente na Índia um fórum de discussões sobre os BRICs com acadêmicos dos quatro países.

Unnikrishnan vê, no entanto, com mais cautela qualquer proposta de alternativa ao dólar.

"É preciso avaliar muito bem qual pode ser o efeito disso", disse o indiano, que é pesquisador-sênior do Observer Research Foundation, em Nova Déli, uma organização que defende reformas na Índia.

Andrew Wilson, especialista em Rússia do Conselho Europeu de Relações Internacionais, é ainda mais cético e identifica na defesa de uma moeda alternativa ao dólar uma retórica populista de "antiamericanismo".

"Temos que levar em conta que estão jogando para suas platéias nos países emergentes. A verdade é que não estamos perto de encontrar nenhuma alternativa ao dólar", disse Wilson.

Para o especialista indiano em relações internacionais Sukh Deo Muni, é normal que haja "suspeitas de todo tipo" na comunidade internacional sobre as intenções do grupo emergente.

"Eu vejo a futura atuação desses países como uma espécie de grupo de lobby que quer lutar pela reestruturação do sistema político e financeiro global, e isso pode causar um certo desconforto em alguns setores", disse Muni, especialista em política externa regional e, atualmente, pesquisador do Instituto de Estudos Sul-Asiáticos da Universidade Nacional de Cingapura.

VERDADEIRA ESTRELA

A união dos quatro países com o selo BRICs levanta críticas e elogios em medida semelhante. Entre as críticas, está o fato de o termo unir países tão distintos no que muitos classificam como um "conceito de marketing" criado por um banco.

Outros apontam que o BRIC é um grupo artificial e desigual em que a verdadeira estrela é a China. Atualmente, a economia chinesa é do tamanho das outras três juntas e essa distância tende a aumentar.

"Ainda que a China seja superior em alguns aspectos, não está interessada em criar um G2 com os Estados Unidos, de fazer parte de um grupo elitista", disse Xu Bin, professor de Economia e Finanças da International Business School, em Xangai.

As diferenças, no entanto, não devem impedir que o grupo consolide uma agenda consensual, ainda que modesta, mas suficiente para projetar para o mundo o objetivo comum de "reequilibrar e democratizar a ordem internacional", nas palavras da Presidência brasileira.

A cúpula ocorre na cidade onde o último czar russo foi executado, em 1918, em meio a uma reunião da Organização para a Cooperação de Xangai (SCO, em inglês), um grupo criado em 2001 e que reúne os líderes da China, da Rússia e de quatro países da Ásia central (Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão) (BBC Brasil, 16/06/09)

BRICs vão superar econômicas ricas em duas décadas, prevê pai do termo

De acordo com as projeções revisadas do economista Jim O'Neill, chefe da área de pesquisa econômica global do banco de investimentos Goldman Sachs, em 2027 a economia da China vai ultrapassar a dos Estados Unidos, fazendo com que o grupo dos países reunidos na sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) superem as economias ricas do chamado G7 em menos de duas décadas.

"Isso é cerca de 10 anos antes do que quando analisamos o assunto inicialmente", escreveu O'Neill em um comentário recente no site do banco. O'Neill é o economista britânico que criou o termo em um estudo de 2001 intitulado "Sonhando com os BRIC: o Caminho para 2050".

A virada no cenário traçado pelo economista pode ocorrer mais cedo, principalmente, por conta de um crescimento da China, ao longo dos últimos anos, muito superior ao esperado por ele quando as primeiras projeções foram feitas. Além disso, ele espera que os emergentes do grupo se recuperem dos efeitos da crise antes das economias desenvolvidas.

O'Neill destaca que esse novo cenário não prevê que a elevada expansão na China e na Índia, dos últimos anos, sejam repetidas, mas sim que esses países cresçam, entre 2011 e 2050, a uma média de 5,2% e 6,3%, respectivamente.

"Para a China e para a Rússia, isso é cerca de metade da taxa de crescimento da última década", comparou.

"Apenas o Brasil vai precisar crescer com mais força do que até agora", acrescentou, referindo-se à projeção para o Brasil de crescimento médio de 4,3% entre 2011 e 2050. A expectativa para a Rússia é mais modesta, de 2,8% para o período.

O cenário considera uma média de crescimento no G7, por outro lado, de apenas 1,6% entre 2011 e 2050.

PADRÃO DE VIDA

Em 2027, o suposto ano da virada, a economia da China, segundo o cenário de O'Neill, alcançaria o valor de US$ 22,25 trilhões, assumindo o primeiro lugar no ranking das economias.

A economia dos Estados Unidos estaria em segundo lugar, com valor de US$ 21,61 trilhões. Em terceiro, a Índia (US$ 5,54 trilhões), em quarto, o Japão (US$ 5,39 trilhões), em sexto, a Alemanha (US$ 4,16 trilhões), em sétimo, a Rússia (US$ 4,02 trilhões), e em oitavo, o Brasil (3,87 trilhões), na frente da França, da Itália e do Canadá.

Os trilhões a mais na economia dos emergentes não vão significar, no entanto, que esses países alcancem padrões de vida considerados de Primeiro Mundo.

Segundo o economista, apesar de juntos, em volume de PIB, terem o potencial de superar o G7, o único país que poderia chegar perto dos níveis de riqueza dos países desenvolvidos é a Rússia.

O cenário traçado por O'Neill em seu estudo de 2001 continua recebendo críticas de vários lados. Muitos questionam a artificialidade do conceito que reúne países tão distintos no campo social, político e até mesmo de modelo econômico. Outros questionam ainda o fato de o grupo excluir outros emergentes como a África do Sul, o México e a Turquia.

Alguns destacam também que os BRICs pegam carona no verdadeiro fenômeno deste século, que é a emergência da China como potência econômica. A economia chinesa hoje é do mesmo tamanho que as dos outros três países somadas, e essa distância tende a aumentar.

O fato é que o conceito ganhou força a ponto de se transformar em uma cúpula de chefes de Estado.

"Vai ser interessante ver o que eles terão a dizer. Estão realmente interessados em formar um verdadeiro clube?", questiona O'Neill. "Como eles serão tratados pelos chamados países desenvolvidos?"

CURTO PRAZO

Para 2009 e 2010, o Goldman Sachs prevê para esses emergentes do BRIC resultados, como um bloco, bem superiores ao da economia global e que a recuperação no grupo deve ocorrer antes do que no mundo desenvolvido.

Em 2009, eles esperam que a China cresça 8,3% e a Índia, 5,8%. Números bem inferiores aos dos anos anteriores, porém fortes o suficiente para compensar as quedas de 1,5% no Brasil e 7,5% na Rússia, previstas por eles.

A média do grupo ficaria em 4,8% em 2009, contra -1,1% no mundo como um todo.

Os lanterninhas do BRIC, Brasil e Rússia, voltariam a crescer já no ano seguinte, 2010, com 3,7% de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e 3% de crescimento para o russo.

A China voltaria à expansão de dois dígitos, com alta de 10,9% e a Índia teria alta de 6,6%. Com esses resultados, a média no grupo ficaria em 8% em 2010, contra um crescimento de 3,3% da economia global (BBC Brasil, 16/06/09)

Agricultura é tema de maior interesse do Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa abordar no encontro dos Bric mais o futuro da agricultura global do que desdolarização do comércio, ainda mais diante de posições protecionistas da China, Índia e Rússia no setor, sugerem analistas.

"Dos interesses brasileiros, o mais importante para discutir no Bric é o futuro da política agrícola mundial e segurança alimentar, e não desdolarizaçào", diz o embaixador José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

"O mundo vai comer mais e consumir mais energia. E nossa prioridade é como fica o futuro do comércio mundial, se vamos exportar só farelo de soja ou o produto processado, e decidir quem embolsa o valor agregado, se o Brasil ou o importador", diz Botafogo.

Para Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação dos Produtores e Exportadores de Carne Suína, o que faz o Brasil ter sucesso na cena internacional é o agronegócio e o país precisa insistir em mais abertura dentro do grupo.

A China se tornou o maior importador mundial de produtos agrícolas brasileiros em 2008, com 20% do total. Em maio, o montante de suas compras já foi três vezes maior do que o do segundo colocado, a Holanda (com o porto de Roterdã) e os EUA em terceiro lugar. Em relação à Rússia, 90% das exportações brasileiras são de produtos agrícolas, sendo % de carnes e 40% de açúcar. A Índia importa pouco.

Só que há um desequilíbrio nas relações bilaterais. "Enquanto para o Brasil a China é o mercado, para eles não há tempo para conversar com a gente e isso é delicado", afirma o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto. Em recente visita do presidente Lula a Pequim, os chineses aceitaram cumprir um acordo do ano passado e liberaram a entrada da carne de frango. Mas agora querem comprar o frango inteiro, para criar empregos no país com o corte do produto.

O Banco Mundial estima que a demanda por alimentos crescerá % até 2030, com o aumento da população, melhora na renda e a preferência da classe média pela dieta ocidental. A falta de acesso à água pode alcançar proporções críticas, principalmente para agricultura. O problema pode piorar com a rápida urbanização e os 1,2 bilhão de pessoas que vão se juntar à população mundial nos próximos 20 anos. A mudança climática exacerba a escassez de recursos.

Os países do Bric vão tentar definir uma posição comum sobre agricultura e segurança alimentar, para levar em julho à cúpula do G-8, que reúne os principais países industrializados. Devem pedir financiamento "adequado" para a produção mundial de alimentos, combate a subsídios dados pelos ricos e apoio ao etanol brasileiro como fonte limpa de energia e sem ameaça à segurança alimentar, na expectativa do chanceler Celso Amorim. (Valor Econômico 15/06/09)

sábado, junho 20, 2009

Vergonha!! Mais de um bilhão de pessoas passam fome no mundo

Sempre tento colocar notícias do lado positivo do agronegócio, pois acredito que existam muitas fontes de notícias ruins ou negativas, porém desta vez sou obrigado a colocar a notícia que a FAO divulgou hoje que mais de um bilhão de pessoas passarão fome neste ano devido à crise mundial. A divulgação destes números impressiona e mostra que algo deve ser feito pelos formadores de políticas, pois os técnicos vem dando conta de aumentar a quantidade de alimentos produzida a cada ano, portanto a questão não é de oferta, mas sim de distribuição.

Após a notícia é possível visualizar o gráfico elaborado pela FAO mostrando os percentuais e quantidades de cada continente.

Mais de 1 bilhão de pessoas passarão fome em 2009, diz FAO

Um total de 1,020 bilhão de pessoas, ou um em cada seis seres humanos, passará fome em 2009, segundo informou nesta sexta-feira a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Segundo o órgão, o número é recorde. Em comunicado emitido em sua sede, em Roma, a FAO afirmou que a previsão é de que o número de vítimas da fome aumente 11% neste ano. Para estabelecer estas previsões, a FAO se baseou nas análises do departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

O órgão atribui esse aumento à crise econômica mundial, que originou uma diminuição da renda e um aumento do desemprego, o que ajudou na redução ao acesso aos alimentos por parte dos mais desfavorecidos.

A maior parte da população desnutrida do planeta vive em países em desenvolvimento. Na Ásia e no Pacífico, calcula-se que cerca de 642 milhões de pessoas sofram de fome crônica. Além disso, 265 milhões passam fome na África Subsaariana, 53 milhões na América Latina e no Caribe, 42 milhões no norte da África e no Oriente Médio e 15 milhões nos países desenvolvidos.

Segundo a FAO, os pobres que moram em zonas urbanas terão mais dificuldades para enfrentar a recessão mundial, já que a queda da demanda de exportações e a redução do investimento estrangeiro direto causarão um aumento no desemprego urbano.

No entanto, o órgão informou que as áreas rurais deverão enfrentar o problema que representará a volta de parte dessa população urbana para o campo.

Além disso, a FAO manifestou que os países em desenvolvimento terão uma menor capacidade de manobra nesta crise, devido à rápida deterioração do contexto econômico e ao fato de que as turbulências afetam todo o mundo de forma mais ou menos simultânea.

Isto limita a capacidade de se recorrer a mecanismos reparadores para se ajustar aos vaivéns macroeconômicos, como a desvalorização da moeda ou empréstimos no mercado internacional de capitais. (Fonte: EFE)


sábado, junho 13, 2009

Restrição de compra de carne poderá ajudar a Amazônia?

Ontem as redes Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart, as três principais, anunciaram suspender comprar de carnes de fazendas potencialmente envolvidas no desmatamento da Amazônia. O assunto é muito complexo e eu acredito que pode ser um incentivo aos que trabalham de forma legal.

Encontrei, somente no PortalExame, duas notícias da Agência Estado e um post do Blog Mundo Agro que coloquei logo abaixo:

Supermercados só comprarão carne com guia de origem

As três maiores redes de supermercados do País - Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart - anunciaram ontem que decidiram suspender as compras de carnes das fazendas envolvidas no desmatamento da Amazônia. A decisão foi tomada após divulgação de relatório da organização não-governamental (ONG) Greenpeace, que no início do mês informou que carne e couro produzidos em áreas de desmatamento ilegal estão sendo vendidos por indústrias brasileiras. O estudo motivou ação civil pública do Ministério Público Federal do Pará, que recomendou a grandes redes de supermercados e outros 72 compradores de produtos bovinos para que deixem de comprar carne proveniente da destruição da floresta. Segundo nota oficial da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), as três grandes redes decidiram suspender as compras das fazendas denunciadas e exigir dos frigoríficos as Guias de Trânsito Animal anexadas às notas fiscais. Ainda segundo a associação, também será pedido um plano de auditoria independente e de reconhecimento internacional que assegure que os produtos que comercializam não são procedentes de áreas de devastação da Amazônia. "O setor supermercadista, através da Abras, não irá compactuar com as ações denunciadas e reagirá energicamente", informou a nota. (Fonte: Agência Estado).

Restrição de supermercados afeta pouco preço da carne

A decisão das três maiores redes de supermercados no Brasil (Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart) de suspender as compras das fazendas denunciadas pelo Ministério Público do Estado do Pará envolvidas no desmatamento da Amazônia, e de notificar os frigoríficos fornecedores, não deverá trazer grandes alterações no mercado de carne bovina e do boi gordo. Isso porque a carne proveniente da região envolvida na ação do Ministério Público é utilizada para abastecer o Nordeste e não os grandes centros consumidores do Sudeste, ou seja, os volumes envolvidos são relativamente baixos perto das compras gerais das três redes supermercadistas.

Segundo analistas, o controle sobre a movimentação de carne no mercado interno não é dos mais rigorosos. "É bastante comum a venda do chamado boi casado entre frigoríficos. Na prática, uma empresa de Mato Grosso poderia comprar um traseiro ou dianteiro bovino de outra que esteja no Pará e que abateu os animais. O frigorífico de Mato Grosso desossaria essa carne e a venderia para o supermercado sem a guia de trânsito, afinal, não houve trânsito de animais e sim de cortes", afirma Marcelo Gumiero, analista da Coinvalores.

Na nota conjunta enviada pelas três redes, umas das medidas que passará a ser cobrada é exatamente a Guia de Trânsito Animal (GTA), que pode facilmente ser driblada pelos frigoríficos. "A posição definida pelas empresas inclui notificar os frigoríficos, suspender compras das fazendas denunciadas pelo Ministério Público do Estado do Pará e exigir dos frigoríficos as Guias de Trânsito Animal anexadas às Notas Fiscais", diz a nota. Uma medida adicional anunciada pelos supermercados e que também deverá ter pouco efeito é sobre a auditoria que irão cobrar dos frigoríficos. Atualmente, o Ministério da Agricultura já faz uma criteriosa auditoria individual das fazendas que podem fornecer animais para os frigoríficos que exportam para a União Europeia (UE).

Essas fazendas são classificadas como Estabelecimentos Rurais Aprovados Sisbov (Eras) e atualmente são 1.019 propriedades nessa condição. A diferença, no entanto, está no preço pago pela carne. Enquanto a Europa paga US$ 9.000,00 pela tonelada de carne dentro dessas condições, o preço médio do comércio no atacado nacional é de aproximadamente US$ 2.500,00 a tonelada. "Não creio que os supermercados irão pagar tanto a mais pela auditoria para abastecer uma região onde as pessoas têm menor poder aquisitivo. De qualquer forma, vamos esperar para ver o que acontece", afirma Gumiero. (Fonte: Agência Estado)

Há males que vêm para o bem
Por Fabiane Stefano

Sabe aquela situação terrível, horrorosa mesmo, mas que no final pode solucionar para valer um problema? É assim que eu entendo a repercussão do relatório do Greenpeace sobre a pecuária na Amazônia. A ONG e o Ministério Público do Pará acusam 11 frigoríficos (entre eles Bertin e Minerva) de adquirir gado em áreas de desmatamento na região Amazônica. Obviamente, o clima pesou na pecuária. A reação mais onerosa veio dos três maiores varejistas no Brasil - Carrefour, Wal-mart e Pão de Açúcar-, que na quinta-feira anunciaram a suspensão de compras de carne desses abatedouros. Os grandes frigoríficos, naturalmente, começaram a se mexer. O Friboi acabou de enviar um comunicado para as redes afirmando que "proíbe a compra de animais vindos de propriedades que operam de forma ilegal no que diz respeito a responsabilidade socioambiental". Outros grandes frigoríficos devem estar se explicando para os seus clientes - dentro e fora do Brasil. E mais do que argumentos bem-intencionados, devem estar passando um pente fino na cadeia de fornecedores.

Quem perde com a situação? Os pecuaristas que produzem ilegalmente na região Amazônica - e não é pouca gente, não. Quando o Pão de Açúcar diz que não compra e o Bertin transmite o recado, não sobra espaço para o criador ilegal. É óbvio que, no curto prazo, o episódio deve causar algum prejuízo para o setor da carne - especialmente num momento em que a cadeia frigorífica tenta se recuperar do baque pós-crise. Mas, no longo prazo, quem não transformar o discurso de sustentabilidade no campo em ação de fato, será jogado para escanteio. Não adianta mais relutar.

Lavoura do Cacau na BA - passado e presente

Impressionante os dados apresentados pelo MAPA na notícia abaixo publicado no site Notícias Agrícolas sobre a cultura do cacau e o estrago causado pela Vassoura de bruxa:

O amargo do chocolate

Há 20 anos a vassoura-de-bruxa se instalou e se espalhou nos cacaueiros e mudou a realidade social no sul da Bahia. A pesquisa é a esperança daqueles que não desistiram do cacau.

“‘Dinheiro perdeu a importância’, costumava dizer o coronel Maneca Dantas tempos depois. Ilhéus e a zona do cacau nadaram em ouro, se banharam em champagne, dormiram com francesas chegadas do Rio de Janeiro”. O trecho do livro São Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado, narra a fase de ouro do cacau no sul da Bahia, em meados de 1940.

Muita coisa mudou na terra do baiano Jorge Amado, depois que a vassoura-de-bruxa dizimou os cacaueiros (o galho da planta atacada fica com aspecto de uma vassoura, daí o nome). A praga precisa de vento e umidade para se espalhar. E encontrou na Bahia o ambiente propício. Em cinco anos infestou as plantações de cacau. Entretanto, naquela região, restam aqueles personagens, diferentes dos coronéis descritos por Jorge Amado.

Em Itabuna/BA, Roberto Pereira - usa roupas comuns e botas de borracha - mostra sua propriedade com 30 hectares que sobraram após a vassoura-de-bruxa. “Vendi cabeças de gado, imóveis e continuo com esta pequena área. Minha vida é o cacau”, enfatiza.

Pereira presenciou o declínio das colheitas que passaram de 460 mil toneladas por ano para menos de um quarto do total. As dele, que colheram três mil arrobas ao ano, agora totalizam 400. Mais de 200 mil pessoas ficaram sem emprego e 100 mil hectares trocaram o cacau pelo pasto.

A economia despencou e deixou de circular US$ 1,5 bilhão na região de Ilhéus. Em 1983, o Brasil vendia 55% de cacau em amêndoas passando a exportar apenas 1% em 2007. As processadoras exportaram, em 1979, US$ 956 milhões de cacau e em amêndoas, líquor, (produto extraído da moagem das amêndoas), manteiga e pó, declinando para US$ 158 milhões em 1999.

Hoje, o agronegócio do cacau envolve ainda 47 mil propriedades agrícolas, em seis estados brasileiros, sendo quase 30 mil no sul da Bahia. De acordo com o boletim trimestral de estatísticas de cacau da Organização Internacional do Cacau (ICCO, sigla em inglês), a safra brasileira 2007/2008 alcançou 160 mil toneladas em amêndoas.

O declínio após a vassoura-de-bruxa trouxe um novo comportamento ao País em relação ao cacau, que passou a exportar produtos semi-industrializados ou processados em amêndoas com maior valor agregado.

Entre 1983 e 2007, a exportação da manteiga de cacau passou de 12% para 39%. O líquor saiu de 19% para 15%. A torta de cacau se manteve estável em 10% e o cacau em pó passou de 4% para 35%.

A exportação de cacau e derivados totalizou mais de R$ 421 milhões em 2007, envolvendo cinco indústrias processadoras e as chocolateiras, representadas por 98 fábricas filiadas à Associação Brasileira dos Chocolateiros (Abicab), que juntas faturaram R$ 7,2 bilhões.

No mercado internacional, o cacau está favorecido pelos déficits de produção registrados nos últimos anos. A cotação na bolsa de Nova York atualmente se situa em torno de US$ 2,5 mil a arroba/tonelada. Em preços internos, R$ 90 a arroba ou R$ 6 o quilo de cacau seco.

Clonagem - A recuperação da cacauicultura, que vem ocorrendo, se deve à implantação de tecnologias de convivência com a vassoura-de-bruxa. Os trabalhos de melhoramento tecnológico voltaram, quase que exclusivamente para encontrar fontes de resistência ao fungo, desde que se instalou no sul da Bahia.

Entre as técnicas aplicadas, a que mais apresenta resultados positivos é a clonagem. Os primeiros clones foram desenvolvidos e lançados em 1995, por agrônomos da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). A técnica consiste em uma variedade de cacau melhorada, pelo homem ou pela natureza, que é multiplicada assexuadamente e apresenta as mesmas características da planta matriz.

Na cadeia produtiva do cacau, o clone permite a reprodução das características desejáveis como resistência a doenças e pragas, alta produtividade, tamanho da semente (peso e número), arquitetura da planta, porte e outras características.

Hoje são 38 clones disponíveis ao produtor. Alguns, como o CCN 16 e o Ipiranga 1 são muito superiores aos primeiros clones. Já o CCN 51 produz de 21 a 26 sementes por fruto, com 2 gramas cada semente. O cacau tradicional produz cerca de 35 sementes, com 1 grama cada.

“O plantio clonal é mais uniforme, facilitando o uso das práticas culturais. Além disso, diminui os custos e aumenta a produtividade”, explica João Dantas das Virgens, extensionista rural que atende a mais de 103 fazendas no sul baiano.

Biofungicida - Como parte do controle integrado, os pesquisadores da Ceplac desenvolveram o biofungicida Tricovab. O produto biológico é obtido pela multiplicação natural do fungo Trichoderma stromaticum dentro de um processo tecnológico que envolve pesquisas de laboratório em diversas áreas.

Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, a vassoura-de-bruxa ataca inicialmente frutos, brotos e almofadas florais, causando queda da produção, desenvolvimento anormal e até a morte da planta em situações de extremos da doença.

A pesquisa teve início na Amazônia e, em 1995, os estudos foram implementados no município de Uruçuca/BA (primeiro foco da vassoura-de-bruxa detectado no estado). Os testes mostraram que o fungo benéfico Trichoderma stromaticum controla o fungo maléfico Moniliophthora perniciosa, reduzindo o poder de reprodução e disseminação.

A aplicação do Tricovab é feita com pulverizações sobre vassouras removidas das plantas infectadas deixadas no solo, em período de chuvas. Deve ser realizada em intervalos de 30 dias em quatro etapas, diluindo dois quilos de Tricovab em 320 litros de água. “A eficácia pode chegar a 90%”, explica João de Cássia do Bomfim Costa, pesquisador da Ceplac. A praga morre porque o fungo antagônico vence a disputa por alimento e espaço, consequentemente diminui a capacidade de sobrevivência do fungo.

O Tricovab ainda não é comercializado porque está em processo de registro, atendendo às exigências dos órgãos fiscalizadores. “Será um produto comercial à disposição do produtor de cacau como mais uma ferramenta tecnológica para o controle da vassoura-de-bruxa”, explica João de Cássia.

Dívidas - A falta de domínio das técnicas para combater o fungo da vassoura-de-bruxa trouxe o empobrecimento da região e o endividamento do produtor. Em duas décadas, os cacauicultores somam mais de R$ 960 milhões em empréstimos bancários não pagos. A recuperação da lavoura cacaueira recebeu investimento, por meio do Plano de Desenvolvimento do Agronegócio na Região Cacaueira do Estado da Bahia (PAC do Cacau), que vai investir R$ 2,4 bilhões até 2016. Os recursos são direcionados às dívidas rurais, pesquisas e incremento na produção consorciada com seringueira e dendê.

As ações governamentais equacionam dívidas dos produtores, estimulam a implantação de pequenas fábricas de chocolate e cacau fino nas propriedades, por meio de associações e cooperativas. “Dentro de pouco tempo o Brasil voltará a atingir níveis de produção compatíveis com o parque industrial do País”, preconiza Jay Wallace da Silva e Motta, diretor da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).

A expectativa é que as ações resultem em um significativo impacto nos níveis de produção do principal pólo produtor do País. Outro avanço importante, será proporcionado pela instalação de pequenos projetos de processamento de cacau, que estão sendo desenvolvidos nas regiões produtoras, permitindo a exploração de um mercado com preços mais remuneradores ao produtor.

Roberto Pereira é um dos 30 mil produtores da Bahia que acreditam que o cacau trará de novo a riqueza. “Eu fui o único dos dez irmãos que continuou com a lavoura. Era o mais rico e hoje sou o mais pobre”, diz ao lembrar que já colheu de 50 a 70 arrobas por hectare, ganhando US$ 4 mil por tonelada. Hoje, colhe 10 a 18 arrobas por hectare e recebe, no máximo, US$ 1,8 mil por tonelada.

A lição de casa é feita diariamente com manejo integrado da lavoura e clonagem do cacaueiro. A esperança de que tempos melhores virão, está em cada cacaueiro de Pereira – que ganham nome como as novilhas de um pecuarista. Nessa realidade, é possível confundir o cacauicultor com algum personagem do livro São Jorge dos Ilhéus, que o autor Jorge Amado intitulou A terra muda de dono. “..a última parte deste livro é o começo de um novo romance que os homens do cacau estão vivendo dramaticamente, e que eu não sei quem escreverá”.

30 anos de Pró-álcool - Um pouco de história parte III

Concluindo a série de 3 posts iniciada em 30 anos de Pró-álcool - Um pouco de história parte I, segue abaixo a compilação de 3 posts do Ethanol Brasil Blog de Marcelo Coelho intitulado "O mercado sucroalcooleiro, sua história e o momento de glória", que comenta sobre a evolução do setor durante estes 30 anos e pode ser acessado clicando aqui:

O mercado sucroalcooleiro, sua historia e o momento de glória

1. Contexto Econômico Atual

1.1 Desde a década de 80, um bilhão de pessoas foi somada à população mundial, a maioria delas em países em desenvolvimento, como China, Índia e países da América do Sul. Apesar de taxas menores, a população mundial continua a sua trajetória de crescimento, visto que a população mundial estimada para 2050 deverá ser de 9 bilhões de pessoas.

1.2 Embora alguns países apresentem tendência de estabilidade do crescimento populacional, outros apresentam elevadas taxas de crescimento, como China, que está crescendo mais de 9% ao ano, e a Índia, com um crescimento de 6% ao ano. Entretanto, tais crescimentos não se refletem em melhores condições de vida, pois 42% dos chineses ainda vivem em miséria absoluta - com menos de US$ 2 por dia.

1.3 No Mundo, 1,9 bilhões de pessoas vivem na pobreza. No entanto, segundo o Relatório de Monitoramento Global 2007, publicado pelo PNUD e Banco Mundial, a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza no mundo caiu de 29%, em 1990, para 18% em 2004.

1.4 Esse cenário mostra que os países em desenvolvimento, como China e Índia, demandarão mais alimentos, fibras e bioenergia de outros países, como o Brasil. No caso do petróleo, por exemplo, a demanda chinesa atingiu 1.600.000 barris por dia. O principal fornecedor de petróleo continua sendo o Oriente Médio, com 62% das reservas mundiais, seguido por países da Europa e Ásia, sendo algumas regiões do planeja bastante instáveis.

1.5 Portanto, para estar preparado para exportar para outros países os produtos do agronegócio e atrair investimentos no setor produtivo, o Brasil precisa ser capaz de investir em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) para desenvolver novos produtos e aumentar a produção daqueles já existentes.

1.6 A produção e pesquisa devem evoluir, principalmente no caso Etanol de Cana, já que é o combustível renovável mais competitivo no cenário mundial, capaz de reduzir as necessidades do petróleo importado e atender a demanda crescente por diversificação das fontes de energias (World Bank, 2005).

1.7 A agroenergia e os biocombustíveis são o foco da atenção de vários países do mundo, devido ao aumento das preocupações ambientais (principalmente em relação ao aquecimento global e mudanças climáticas) e ao cenário de continuidade dos preços do petróleo em um patamar elevado. Os Estados Unidos, que é o país que mais emite gases de efeito estufa no mundo (dióxido de carbono, por exemplo), compõem o grupo dos países desenvolvidos que contribuirá com 70% do aumento das emissões em 2025, sendo que os EUA sozinhos emitirão 39% a mais.

1.8 Além disso, vários países já estão “de olho” nos biocombustíveis como alternativa para crise do campo, diversificando mercados, melhorando a rentabilidade dos produtores de grãos, cana e outras oleaginosas; e para a crise ambiental, visando a diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Segundo estimativas do IEA (International Energy Agency), pode-se prever que 20% de decréscimo nas emissões desses gases, até 2030, virá por conta do aumento do uso de combustíveis renováveis, como o etanol e o biodiesel brasileiros.

1.9 O Brasil, líder na produção de etanol derivado da cana-de-açúcar, é o único país do Mundo com 90 milhões de hectares de áreas agriculturáveis passíveis de serem exploradas, não só com cana e oleaginosas para biocombustíveis, mas também com a agricultura de alimentos.

2. Pró Álcool (1975) e Evolução da Produção

2.1 O Pró-Álcool surgiu, no Brasil, como resposta à crise do Petróleo, que atingiu o mundo na década de 70 e se agravou em 1979. O Governo brasileiro planejava substituir o uso de gasolina como combustível por álcool etílico, visando a diminuição da dependência do país aos combustíveis fósseis importados, pois na época o país importava 80% do petróleo consumido e 98% dos transportes usavam gasolina ou diesel como combustível.

2.2 Até 1985, a produção de álcool, a partir da cana-de-açúcar, cresceu consideravelmente, entretanto a produção de açúcar ficou estagnada no período. Em 1980, quando os preços do petróleo caíram, a produção de álcool diminuiu seu ritmo, chegando a situação de falta de álcool etílico nas bombas dos postos de abastecimento e a frustração dos consumidores.

2.3 Esse descrédito dos consumidores com relação ao carro à álcool foi tão grande que a produção só foi retomada com mais força apenas no final da década de 90 com a extinção do Instituto de Açúcar e Álcool que regulamentava o setor e a vinda dos carros flex-fuel.

2.4 Hoje, a Cadeia Agroindustrial da cana-de-açúcar é complexa: as usinas produtoras dependem dos fornecedores e de bens de capital. Os produtos, álcool, açúcar e energia, são distribuídos para fábricas de biodiesel, montadoras de carro, distribuidores de combustíveis, distribuidores de energia elétrica, indústria de alimentos, atacado e varejo, e tradings exportadoras. Os subprodutos são destinados as indústrias, atacado e varejo, como indústrias de suco de laranja e de ração animal. Hoje, as usinas utilizam os resíduos, como vinhaça e vinhoto na própria atividade, por exemplo, como fertilizantes. A figura 1 apresenta uma visão geral do Sistema Agroindustrial da Cana.

Fonte: Luis Carlos Correa Carvalho, maio/03.

Figura 1: Sistema Agroindustrial da Cana

2.5 Segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), a produção mundial de cana, em toneladas, entre 2001 e 2005, decresceu em média 0,31% ao ano. Entretanto, entre 2001 e 2005, o consumo mundial cresceu em média 0,66% ao ano. Por outro lado, a produção brasileira de cana-de-açúcar evoluiu positivamente, crescendo 6% ao ano, em média.

2.6 Com relação a produtividade média por país, os dados da FAO mostram que a Colômbia teve a maior produtividade, entre 2001 e 2005, sendo que em 2005 atingiu uma produtividade de 93ton/ha. Em seguida, a Austrália e a Indonésia têm a maior produtividade. Segundo dados da Unica (União da Agroindústria Canavieira), em 1975, a produtividade média brasileira era de 50 toneladas de cana por hectare, enquanto que em 2005, a produtividade média foi de mais de 80 tc/ha. A figura 2 apresenta um histórico de crescimento da produtividade de cana e etanol por hectare de cana cultivada.


Fonte: UNICA, 2005

Figura 2: Evolução da produtividade do agronegócio da cana no Brasil

2.7 Segundo o IBGE, a produção de cana divida por região do país revela que o Norte-Nordeste representa 15% da produção total do país e o Centro-Sul representa 85%. Segundo a consultoria SCA, a produção do Centro-Sul continuará a se expandir e ser mais expressiva do que a produção do Norte-Nordeste. A previsão para a produção nos próximos anos pode ser vista na figura 3. É previsto que a produção do país atinja mais de 450 milhões de toneladas em 2007/08 e que, em 2010/2011, atinja 580 milhões de toneladas.

Fonte: DAA, SCA

Figura 3: Produção de Cana de Açúcar no Brasil – Histórico e Previsão.
2.8 Desde 1975, com a implantação do Pró-Álcool, as áreas utilizadas na plantação de cana (em hectares) se expandiram e a previsão, até 2012, é que continue a crescer, chegando a 7,8 milhões de ha. Em 2007/2008, a área ocupada com cana é de 6 milhões de ha.

2.9 O panorama geral brasileiro da economia da cana-de-açúcar, em 2006, é apresentado na figura 4. No geral, a produção de álcool foi de 17,2 bilhões de litros e a de açúcar, 25,8 milhões de toneladas. Destas, 2,6 bilhões de litros de álcool (15%) e 17,3 milhões de toneladas de açúcar (67%) foram destinados ao mercado externo.


Fonte: Elaborado pelo PENSA com base em dados ÚNICA, DATAAGRO, FAO, IBGE

Figura 4: Panorama Geral Setor Sucroalcooleiro 2006 - Brasil

2.10 Para o ano agrícola de 2009/2010, a expectativa é que a produção de cana seja de 580 milhões de toneladas, destinadas para produção de 38 milhões de toneladas de açúcar e 25 bilhões de litros de álcool combustível. A Figura 5 apresenta projeções dos principais produtos.


Fonte: MAPA e ÚNICA

Figura 6: Projeção para produção de cana-de-açúcar, açúcar e etanol no Brasil

3. Oportunidades no Negócio Açúcar

3.1 De uma maneira geral, o consumo de açúcar é influenciado pelo preço do açúcar e de adoçantes alternativos, a disponibilidade de estoques de açúcar, a preferência dos consumidores, os avanços tecnológicos, e as políticas governamentais. No entanto, a renda per capita e o crescimento da população são os dois fatores mais importantes, sendo que o último explica 85% do crescimento do consumo.

3.2 Segundo a USDA (Departamento de agricultura dos EUA), a produção mundial de açúcar, em toneladas, entre 2002 e 2007, cresceu a uma taxa média de 1,12% aa. Os principais países produtores de açúcar são Brasil, Estados Unidos, Índia, Tailândia e China. A produção do Brasil equivale a 19% de toda produção mundial, ou seja, 30,8 milhões de toneladas; a produção da Índia, segunda maior do mundo (16%), é de 25,1 milhões de toneladas. Em terceiro lugar, a produção de açúcar dos Estados Unidos, representando 10% de toda produção mundial, é de 1,61 milhões de toneladas.

3.3 Em relação ao comportamento do consumo mundial, entre 2002 e 2006, o crescimento foi de 1,28% ao ano em média. Em 2006/07, o consumo atingiu 146 milhões de toneladas. Segundo a F.O. Licht’s, em 2014, o consumo mundial de açúcar deve chegar a casa dos 180 milhões de toneladas.3.4 A figura 7 apresenta as exportações e importações de açúcar no mundo, em 2006/2007, com base na participação de cada país no fluxo de comércio desse produto e também no crescimento médio anual desta participação entre 2002 e 2006.

Fonte: USDA, Elaboração: PENSA

Figura 7: Fluxos de comércio - Exportação e Importação de Açúcar

3.5 Os preços revelam o bom momento vivido pelo setor. Entre janeiro de 2002 e abril de 2006, o preço do açúcar, em centavos de US$ por libra peso, cresceu a uma taxa média de 2,03% ao mês, segundo a NYBOT. Por outro lado, os estoques mundiais diminuíram a uma taxa média de 1,37% ao ano. Logo, essa queda é um dos fatores responsáveis pelas elevadas altas no preço do Açúcar.

3.6 Entre 2001 e 2006, a produção brasileira de açúcar cresceu em média 8,61% a.a. O IBGE revela que os três estados produtores de açúcar, no Brasil, em 2005/2006, que mais participaram na produção nacional são: São Paulo, com participação de 66%, Alagoas, com 8,15% e Minas Gerais, com 6,74%.

3.7 A produção do Centro-Sul de açúcar, em toneladas, na safra 20004/05, atingiu mais de 20 milhões de toneladas. No caso do Norte-Nordeste, a produção esteve abaixo dos 5 milhões de toneladas. Conforme os dados do MAPA e SECEX, de 30 milhões de toneladas produzidas na safra 06/07, o Brasil consumiu um pouco mais de 10 milhões, conforme mostra o histórico e projeções na figura 8.

Fonte: MAPA, SECEX, SCA

Figura 8: Consumo de Açúcar X Produção de Açúcar no Brasil

3.9 Para os próximos anos é previsto que a exportação continue a representar mais de 60% do destino da produção brasileira de açúcar, que também tende a crescer. Os países para os quais o Brasil mais exporta são (em 2005): Rússia, Egito, Irã, Nigéria e Malásia (em ordem decrescente). A figura 9 apresenta o perfil dos maiores importadores do açúcar brasileiro.

Fonte: SECEX, Elaboração: PENSA.

Figura 9: Principais países importadores do açúcar brasileiro.

4. Oportunidades no Negócio Álcool

4.1 Em 2005, a produção mundial de combustíveis foi de 101,1 bilhões de Gigajoules (BJG). Destes, apenas 1,1 BGJ foi proveniente de fontes renováveis, sendo 11% o biodiesel e 89% o etanol. Pode-se verificar pela figura 10, que na produção e uso de etanol, a cana de açúcar representa quase 50%.


Fonte: F.O.Licht’s,FAO, Oil World, LCM, EIA Apud Icone,2006, Elaboração: PENSA

Figura 10: Produção mundial de combustíveis

4.2 Segundo a F.O.Licht’s, a produção mundial de etanol cresceu em média 11,36% a.a., entre 2002 e 2006. Os principais países produtores são Estados Unidos e Brasil, que juntos responderam por 70% da produção mundial. Em 2005, os Estados Unidos produziram 16,1 bilhões de litros (35,1% da produção mundial) e o Brasil produziu 15,9 bilhões de litros (34,8% da produção mundial). China foi o terceiro maior produtor em 2005, com 8% da produção mundial.

4.3 Entre 2000 e 2005, o crescimento médio da produção brasileira foi de 13% aa., enquanto o crescimento da produção americana foi de 40% aa. Em 2005, o Brasil perdeu o título de maior produtor mundial para os EUA, conforme atesta a F.O.Licth’s e Única.

4.4 No Brasil, o álcool hidratado foi o mais produzido durante todo o período de 1982 e 2000. A partir daquele ano, o álcool anidro foi mais produzido do que o hidratado. No entanto, entre 2005/2006, a produção de álcool hidratado voltou a ser levemente superior que a produção do álcool anidro.

4.5 A cana-de-açúcar brasileira é extremamente competitiva na produção de etanol, produzindo mais de 6 mil litros de etanol por hectare, conforme dados do IEA. A beterraba, na União Européia, produz 5,5 mil litros; a cana de açúcar na Índia, 5,2 mil litros; o milho nos EUA, 3,1 mil litros; e o trigo na UE, 2,5 mil litros de etanol por hectare.

4.6 Por isso, o etanol brasileiro apresenta do menor custo de produção do mundo, que é de US$0,22 por litro de etanol anidro, contra US$ 0,30 nos EUA (milho), US$ 0,45 na UE (grãos), US$ 0,53 por litro na UE (beterraba) (Dados F.O. Licht’s).

4.7 Dos 27 estados brasileiros, praticamente 21 são “importadores” (dos Estados produtores) e somente 6 exportadores de etanol. Alguns estados, como Paraná e Minas Gerais, são produtores e importadores. Segundo a Única, em 2005/2006, os 5 maiores produtores foram responsáveis por 85% da produção nacional de etanol, sendo eles: São Paulo, com participação de 62%, Paraná (7%), Minas Gerais (6%), Mato Grosso (5%) e Goiás (5%).

4.8 Em 2005, a exportação total de etanol no mundo foi de 6,0 bilhões de litros. Brasil, União Européia, Estados Unidos e África do Sul são os maiores exportadores. A importação total de etanol no mundo, no mesmo período, foi 5,3 bilhões de litros. A União Européia, participa com 23% das exportações mundiais, mas também tem participado com 37% nas importações mundiais. Ao mesmo tempo, os EUA que participa com 7% das exportações, também contribuem com 15% das importações mundiais. Isso se deve muito as diferenças dos países e estados na sua capacidade de produção e facilidade de importação e exportação.

4.9 Apesar do Brasil não importar etanol, as importações na América Latina cresceram em média 13% a.a. e, em 2005, representando 12% das importações mundiais, conforme mostra a figura 11.

Fonte: Elaborado pelo PENSA com base nos dados da F.O Licht

Figura 11: Fluxos de comércio - Importação e Exportação de Etanol


4.10 Conforme dados do SECEX, em 2005, a exportação total brasileira de etanol foi de 2,59 bilhões de litros, ou seja, US$ 764 milhões. O Preço Médio FOB foi de US$ 294,29 /m3. Ao todo, o etanol brasileiro teve acesso a 47 países. Em 2005, por exemplo, a exportação brasileira de etanol foi destinada, principalmente, para Índia e Países do Caribe.

4.11 Em 2006, a exportação brasileira de etanol foi maior para os Estados Unidos, que importou mais de 1,7 milhões de m3 de etanol brasileiro. Isso ocorreu em função da elevação do preço do milho no mercado americano, fato que não deve se repetir na próxima safra.

4.12 As exportações brasileiras de etanol, até 2001, representavam um valor pequeno em relação à produção. Em 2005, as exportações totais atingiram 2,5 milhões de m3 e, em 2006, esse número chegou próximo à 3,6 milhões de m3. A previsão é que as exportações e produção cresçam nos próximos anos, atingindo, respectivamente, 5 milhões de m3 e 26 milhões de m3, em 2010. A figura 12 apresenta esse histórico e projeções.

Fonte: MAPA, SECEX, SCA

Figura 12: Produção de Etanol Brasileiro X Exportação - Brasil

4.13 No entanto, isso ainda não impede o protecionismo dos países desenvolvidos. Conforme estudo do IEA (2004), a Austrália tem uma tarifa de US$0,24 por litro de álcool (forte produtor de álcool de cana); os EUA, US$0,14/L (sem perspectiva de queda até 2009 em função de lei nacional); a União Européia, US$ 0,10/ L (com perspectiva de exigência de certificação ambiental); e Canadá, US$ 0,07/ L (forte produtor de álcool de milho). O próprio Brasil tem uma tarifa à importação de álcool de US$ 0,07 por litro.

4.14 Na avaliação da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a retirada da tarifa norte-americana sobre a importação do etanol brasileiro seria um “desastre” para os dois países. Isso aumentaria o risco de falta álcool para o mercado nacional e ocorreriam prejuízos para a indústria norte-americana de milho.

Isso, contudo não quer dizer que os países não estão implementando programas de adoção de etanol na matriz de combustíveis. Segundo a AgroAnalysis, os EUA têm como meta reduzir o consumo de gasolina em 20% até 2017, o que representa 132 bilhões de litros de etanol, com incentivo federal a produção de US$ 0,14 por litro e alguns incentivos estaduais.

4.15 Além disso, segundo o Worldwatch Institute (WWI), no Japão, há uma permissão de adição de 3% de etanol na gasolina e uma meta de 20% de biocombustíveis até 2030. O governo ainda não aumentou o uso do etanol por receio de que os principais produtores não consigam suprir a demanda. No Canadá, 45% da gasolina consumida deverá conter 10% de etanol até 2010. Na UE, há uma meta de consumo de biocombustíveis de 5,75% até 2010 e 10% até 2020 (hoje é 2%), e diversas isenções fiscais em cada estado membro.

4.16 O mundo em desenvolvimento também vem seguindo o mesmo caminho. A Índia adotou uma mistura compulsória de 5% de etanol na maioria do país. Pode chegar a 10% e 20%. A China colocou em vigor uma mistura compulsória de 10% em cinco províncias, detentoras de 16% da frota de veículos do país.

4.17 Com relação a demanda futura de etanol, o NIPE/ Unicamp realizou uma simulação de substituição de 10% de gasolina por etanol. Os resultados revelam a produção necessária de 152 bilhões de litros de etanol/ano para atender a demanda atual (2002) e uma produção futura de 225 bilhões de etanol/ano (2025).

4.18 Em março de 2003, o carro bicombustível foi lançado no mercado nacional. A sua importância ocorre por transferir ao consumidor o poder de decisão sobre qual combustível usar, independente da falta de produto ou aumento de preços. Nesse ano, sua participação sobre o total de veículos vendidos foi de 6,8%. Em 2006, essa participação passou a ser de 86%.

4.19 Em unidades, em 2006, as vendas de carros flex no Brasil foram de aproximadamente 2 milhões de unidades. As vendas de carro à gasolina, por sua vez, totalizaram 15 milhões de unidades. Em 2007, a previsão é que a venda de carros flex aumente, e passe a ser maior do que 3 milhões de unidades. A venda de carros à gasolina, por outro lado, deve diminuir ainda mais.

4.20 De uma maneira geral, o preço na bomba do etanol é influenciado pelo preço do produtor, misturas exigidas por lei (álcool anidro na gasolina - 20%), custo da logística de distribuição e carga tributária. No entanto, o que influencia efetivamente o consumo são os preços relativos dos diferentes tipos de combustíveis, o consumo por Km do veículo e a frota (lançamento dos veículos flex, proibição de veículos leves a diesel etc).