sexta-feira, dezembro 21, 2007

EUA sanciona lei de estímulo aos biocombustíveis

O governo americano sancionou lei que pretende modificar o cenário energético, estimulando o uso de biocombustíveis. A notícia abaixo foi publicada no DCI:

Bush sanciona lei que estimula maior uso do biocombustível

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sancionou a lei de energia que eleva os padrões de economia no consumo de energia por automóveis e caminhões leves pela primeira vez em mais de três décadas e demanda um significativo aumento na produção de biocombustíveis no país. A Lei de Segurança e Independência Energética, que tem como objetivo mudar fundamentalmente a forma como o país usa energia, estabelece um mandato para elevar o uso de energia renovável em cerca de 136 bilhões de litros por ano até 2022 e estabelece padrões mais altos de economia no consumo de combustíveis para carros e caminhões leves.

Boa notícia para o algodão brasileiro

Nesta semana, a OMC decidiu a favor do Brasil na disputa com os EUA com relação aos subsídios à produção de algodão. A nota abaixo publicada na Folha Online descreve a decisão e suas consequeências:

OMC anuncia decisão favorável ao Brasil na disputa com EUA

A OMC (Organização Mundial do Comércio) anunciou oficialmente nesta terça-feira (18-12) sua decisão a favor do Brasil na disputa com os EUA sobre os subsídios pagos aos produtores americanos de algodão.

"Os EUA falharam em observar" as regras sobre concessão de subsídios, diz o documento com a decisão do painel que arbitrou a disputa e que dá aos EUA seis meses para que reforme seus programas de subsídios aos produtores de algodão e comunique as mudanças à OMC.

O governo americano alega que reformou de modo suficiente as regras para subsídios ao algodão ao eliminar dois programas de garantia de crédito às exportações e ao eliminar, no ano passado, o chamado "Step-2" programa do governo dos EUA para compra do algodão norte-americano a preços mais altos que os de mercado.

O Brasil alega que os EUA conseguiram manter a posição de segundo maior produtor de algodão do mundo (atrás da China) devido aos US$ 12,5 bilhões em subsídios pagos aos produtores entre 1999 e 2003.

Em julho, a organização já havia decidido contra os EUA, em caráter preliminar, na questão do algodão. Em outubro, o painel da OMC manteve a decisão. Com a decisão favorável, o Brasil tem o direito de impor aos EUA sanções anuais de até US$ 4 bilhões.

O USTr (United States Trade Representative, espécie de Ministério de Comércio Exterior dos EUA) ainda não informou se irá apelar da decisão.

Ontem a OMC abriu uma investigação para apurar se os EUA estão violando as regras do comércio internacional sobre limites de concessões de subsídios a produtores agrícolas decisão tomada após o Senado americano ter aprovado na sexta-feira (14-12) a nova lei agrícola ("farm bill") de 2007, com um orçamento de US$ 286 bilhões.

A OMC abriu um painel para arbitrar a disputa sobre subsídios depois de Brasil e Canadá terem solicitado a investigação com a nova lei são mantidos os subsídios agrícolas e ampliados os recursos para a produção de álcool.

A queixa nesse caso é que os EUA ultrapassaram, entre 1999 e 2002 e em 2005, o teto de US$ 19,1 bilhões em subsídios permitido. O governo americano alega que os programas citados como canais para as concessões de subsídios deixaram de existir há mais de cinco anos.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Usina de biodiesel dos plantadores de cana

A integração soja-cana é, do ponto de vista da agroenergia, algo muito interessante, pois podemos aproveitar, com algumas restrições agronômicas e climáticas, as áreas de reforma de canaviais para plantio da soja que é uma leguminosa que fixa no solo o nitrogênio do ar.

Além disso, no processo utiliza-se etanol e temos como subproduto, o farelo de soja, componente nobre para rações animais.

A Coplaca está investindo em uma planta de biodiesel para esmagamento de soja em Piracicaba, conforme descrito na nota publicada no Jornal Cana, que pode ser encontrada abaixo na íntegra:

Coplacana terá usina de biodiesel em 2008

A Coplacana - Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo vai inaugurar uma usina de biodiesel em abril do ano que vem, na região do bairro Taquaral, em Piracicaba, SP. A unidade, que produzirá 45 mil litros de biodiesel de soja por dia, exigiu investimentos de R$ 8 milhões. O biocombustível produzido na primeira fase de operação da usina não será suficiente para venda no mercado. A produção será destinada à movimentação das máquinas e equipamentos das frotas da Coplacana e dos cooperados. A demanda estimada para a oleaginosa é de 300 toneladas por dia, o que corresponde a uma área plantada de 35 mil hectares. A usina utilizará a rota de álcool no processo de produção do biodiesel, além de um catalisador de quarta geração. A análise da produção será feita em laboratório próprio para atender às normas da ANP - Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis. O plano de negócios da usina foi elaborado por uma equipe do pólo, localizado na Esalq/USP - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.

Ração

A soja é uma oleaginosa que tem custo acessível para o agricultor e facilidades para utilização das sobras após o processo de moagem. O excedente será transformado em farelo, cerca de 240 toneladas por dia. Pelo menos metade desta sobra será encaminhada para a fábrica de ração animal da cooperativa. O restante será armazenado para utilização em uma “hospedaria de boi”, prevista para ser construída no segundo semestre de 2008. O investimento no projeto será de R$ 1 milhão.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Soja em Chicago bate recorde

A soja bateu recorde de preços em Chicago, conforme nota publicado pelo Estado de São Paulo no dia 13 de dezembro e disponível abaixo:

SOJA ATINGE MAIOR PREÇO EM 34 ANOS EM CHICAGO

Os preços da soja atingiram ontem o nível mais alto desde julho de 1973 na Bolsa de Chicago. Impulsionado por compras especulativas, o contrato para entrega em janeiro teve ganho de 1,41%, cotado a US$ 11,5150/bushel. Analistas disseram que a forte demanda internacional, liderada pela China, e as incertezas sobre a produção na América do Sul mantiveram o mercado na mão dos compradores. A necessidade de incentivar o aumento do plantio norte-americano de soja em 2008 também contribuiu para o resultado.


Começam as ações para reverter imagem do agrronegócio

O agronegócio brasileiro está tomando atitudes que visam melhorar sua imagem perante à opinião pública internacional, principalmente no que diz respeito ao meio-ambiente e condições de trabalho.

A primeira atitude foi a criação do Ares (Instituto do Agronegócio Responsável) em setembro passado por 19 entidades importantes do agronegócio brasileiro: Abag, AbagRP, Abef, Abia, Abiec, Abimilho, Abiove, Abipecs, Abrasem, Anda, Andef, Aprosoja, BSC, CNA, CNPC, Ícone, OCB, SRB e Unica.

Nesta semana, o governador do Mato Grosso lança em Bali durante a onferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, um grande programa ambiental, conforme podemos verificar na reportagem publicada ontem no Valor Econômico e que pode ser encontrada na íntegra abaixo:

MAGGI LANÇA 'SOJA MAIS VERDE' EM BALI

O governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), deve ter surpreendido empresários e políticos europeus presentes em Bali, onde ocorre a 13ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-13). Ele anunciou, durante jantar ontem para cerca de 70 pessoas, a disponibilidade de US$ 1 milhão para a regularização ambiental de cerca de 5 mil propriedades de soja do Estado.

O dinheiro foi recolhido pela Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso), com quem o governo firmou um pacto, na tentativa de reverter a imagem do Estado que mais desmata em todo o país. A The Nature Conservancy (TNC), organização não-governamental com forte atuação na região, aderiu ao movimento e entrará com US$ 1 para cada US$ 10 arrecadados, até US$ 1 milhão. A ONG fará ainda o mapeamento das propriedades, o primeiro passo para a regularização ambiental.

A expectativa é que o projeto, nomeado "Soja Mais Verde", consiga regularizar cerca de 3,5 mil propriedades. A partir daí, o Estado terá em mãos dados concretos sobre os passivos ambientais para que, juntamente com a Secretaria de Meio Ambiente (Sema), proponha soluções. Os principais problemas são a falta de Reserva Legal e de mata ciliar, exigidos por lei.

Segundo a TNC, dos 5,4 milhões de hectares com soja no Mato Grosso, espera-se assegurar 2 milhões em áreas protegidas. "É histórico", disse Marli Santos, coordenadora de recursos da informação da TNC. "Nunca um setor e um Estado inteiro concordaram em regularizar sua situação ambiental".

Com a recuperação dos preços do grão no mercado internacional, a área de soja voltou a crescer no Mato Grosso. Segundo dados da Conab, o aumento foi de 6,2% entre as safras 2006/07 e 2007/08.

O cenário favorável ao grão é visto por especialistas como o principal fator para a retomada do desmatamento entre julho e setembro deste ano na Amazônia, além da falha fiscalização do Ibama.

O Mato Grosso foi catapultado ao mundo em 2005 com a Operação Curupira, a maior operação da história contra a máfia do desmatamento na Amazônia. Maggi ganhou de ambientalistas o troféu "Moto-Serra de Ouro". Em 2006, a União Européia criou moratória contra soja em área da Amazônia.

Em seu segundo mandato, o governador Maggi, que também é um dos maiores sojicultores do país, parece tentar provar ao público externo que o passado, passou.


quarta-feira, dezembro 12, 2007

Commodities agrícolas atraem investidores

O comportamento altista das principais commodities agrícolas e a tendência destes valores permanecerem por algum tempo tem feito os investidores a voltarem seus olhos e bolsos para fundos de commodities.

O artigo abaixo foi traduzido da edição de 11 de dezembro da Commodity News for Tomorrow, publicação da CBOT (Chicago Board of Trade) que pode ser encontrada em www.cbot.com/commoditynews :

Commodities agrícolas voltam à moda entre os investidores

Os preços futuros de grãos e oleaginosas têm crescido constantemente no último ano, mas muitos analistas dizem que o setor ainda tem condições ir além.

O setor, antes fora de moda, está ganhando força com os investidores graças ao aumento da demanda de alimentos, o uso de matérias-primas agrícolas na produção de biocombustíveis e ao nervosismo nos mercados mais tradicionais como petróleo e metais.

Muitos analistas esperam esta tendência para, pelo menos, os próximos cinco anos, quando as commodities agrícolas seguirão o petróleo e os metais no atual ciclo de alta (“Bull”) de commodities.

“A agricultura é uma das áreas mais fortes para tendências altistas”, disse Michael Lewis, principal analista global de pesquisa de commodities do Deustche Bank.

Interesse nos mercados futuros agrícolas tem crescido devido ao nervosismo em outros mercados de commodities, especialmente nos metais devido à turbulência no mercado global, disse Lewis. Existem também incertezas em comprar petróleo após os preços recentemente subirem para cerca de US$ 100 o barril.

O Sub-Índice Dow Jones – AIG Grains subiu 25,5% em um ano no final de Novembro e o Sub-Íìndice Agrícola subiu 15,5%. Mas o Índice de Commodities Dow Jones – AIG subiu apenas 10,7% no mesmo período.

Como ouro e petróleo, os mercados agrícolas estão agora sendo vistos como “portos seguros” para as preocupações com inflação e aversão ao risco dos investidores que tem tido pouco impacto ao setor, conforme disseram analistas do Commerzbank.

Somente os fundos agrícolas da Schoroders alcançaram US$ 1,65 bilhões em ativos no primeiro ano de funcionamento, no final de outubro. Os ativos então aumentaram outros 21% alcançando US$ 2 bilhões no final de novembro.

“Os preços agrícolas têm estado estáveis por 25 anos e somente começaram a subir no ultimo ano”, disse o gerente de fundo Rodolphe Roche. “Nós acreditamos que estamos no inicio de uma alta no mercado agrícola que pode continuar pelos próximos 20 anos”.
Nem todos no mercado compartilham deste entusiasmo.

Alguns traders observaram que em 2006 os preços futuros do açúcar em Nova Iorque atingiram seu maior valor nos últimos 25 anos e somente pela produção recorde de excedentes nas duas safras posteriores, seus preços caíram cerca de 58%.

“As commodities agrícolas têm também passado por um histórico de expansão e contração de preços”, disse um analista londrino. Ele disse que os mercados irão se estabilizar dentro de um ou dois anos conforme a demanda de grãos para produzir etanol ficar menor do que a produção.

Lewis também disse que a corrida por produtos agrícolas pode ser menor do que a por metais e petróleo, porque os produtores podem responder aos sinais de mercado mais rapidamente.

A maioria dos produtores de grãos somente precisa de um ano para reagir aos preços quando tomam decisões sobre que cultura plantar, enquanto que ajustar minas e refinarias toma muito mais tempo. A área mundial de trigo espera-se que cresça 4% na próxima safra em responda aos altos preços.

Entretanto, a maioria dos investidores está confiante que a corrida altista dos produtos agrícolas irá durar pelo menos outros cinco anos.

A empresa inglesa Close Investments Ltd está planejando lançar neste mês um fundo de investimentos de duração de seis anos investindo igualmente em mercados futuros de trigo, soja e milho em Chicago, trigo em Kansas City e açúcar em Nova Iorque. O objetivo deste fundo é captar 20 milhões de libras em capital.

“Nós sentimos que é uma hora apropriada no mercado e não está diretamente relacionado aos demais mercados financeiros”, disse Roland Kitson, diretor da Close Investments. O entusiasmo renovado por commodities agrícolas está refletindo no apetite por conhecimento sobre o setor.

Em contraste com este problema de oferta que alavancou os preços globais do trigo aos seus maiores níveis neste ano, analistas esperam que os preços sejam suportados no longo prazo pelo aumento das necessidades globais de alimentos.

“É um caso de demanda”, disse Hussei Allidina do Morgan Stanley. Disse também que os preços futuros do trigo em Chicago podem cair a um mínimo de US$ 6,50 o bushel em 2008-09, de uma média de US$ 8,00 em 2007-08, devido ao aumento da área plantada pelos agricultores. Mas devido à forte demanda por alimentos, ele não espera que volte a US$ 2,80 – 3,80, intervalo da década passada.

“É um caso muito claro de demanda”, com o crescimento da população e o rápido crescimento da riqueza nos mercados emergentes como China e Índia, disse Patrick Armstrong, analista do Insight Investments. E conforme a receita aumenta, mais pessoas incluem leite e carne em suas dietas, disse Armstrong.

Espera-se que as importações chinesas de soja cresçam 18% em 2007-08 para 34 milhões de toneladas, de acordo com projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

“O setor agrícola está pronto para impulsionar as commodities e pronto para durar pelo menos seis ou sete anos”, disse Armstrong.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Plásticos de fontes renováveis

O agronegócio pode ser transformado quando os polímeros agregando valor às commodities agrícolas. O artigo abaixo explica estes polímeros publicado na Revista Pesquisa Fapesp de dezembro:

PLÁSTICO RENOVÁVEL

O forte aquecimento do mercado consumidor e a pressão nos custos das matérias-primas originadas do petróleo têm levado as indústrias de plástico a buscar, em fontes renováveis, matérias-primas substitutas para seus produtos. Plásticos feitos a partir do etanol de cana-de-açúcar, que podem ser reutilizados num processo de reciclagem, além de polímeros biodegradáveis produzidos por bactérias alimentadas por sacarose e outras substâncias estão na linha de frente de pesquisas e investimentos anunciados por gigantes petroquímicas como Dow Química, Braskem e Oxiteno, fabricantes de resinas plásticas feitas a partir da nafta e de outras matérias-primas derivadas do petróleo. A Braskem, líder latino-americana em produção de resinas, investiu US$ 5 milhões em pesquisa e desenvolvimento para chegar a um polietileno certificado a partir de álcool da cana, chamado de “polímero verde”.

As pesquisas que resultaram no novo produto tiveram início em 2005, embora desde 1998 a empresa já avaliasse as propriedades de outros polímeros de matérias-primas renováveis existentes no mercado. Como naquela época não havia ainda um mercado efetivo interessado em um produto desse tipo, o assunto não prosperou. “Ao retomar as discussões, avaliamos as opções existentes e começamos a trabalhar com o polietileno verde a partir do álcool de cana”, relata Antônio Morschbacker, gerente de tecnologia de Polímeros Verdes do Pólo Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul, responsável pelo desenvolvimento do projeto.

As informações disponíveis apontavam que a empresa poderia chegar a um produto competitivo. “Ao longo de 2005, depois de estimativas de custos, vimos que seria viável fabricá-lo e, em 2006, decidimos construir a planta piloto e paralelamente fizemos um estudo mais aprofundado do mercado mundial”, diz Morschbacker. “O processo, bastante eficiente, transforma 99% do carbono contido no álcool em etileno, matéria-prima do polietileno.” O principal subproduto é a água, que pode ser purificada e reaproveitada.

Desidratação do etanol - Na planta piloto, que começou a funcionar em junho de 2007, é feita a transformação do etanol – obtido por um processo bioquímico de fermentação do caldo, centrifugação e destilação – em etileno. A conversão ocorre por meio de um processo de desidratação, no qual são adicionados catalisadores – compostos que aceleram as reações químicas – ao etanol aquecido, que permitem a sua transformação em gás etileno. A partir daí, para chegar ao polietileno, o plástico de maior utilização no mundo, o processo de fabricação é igual ao empregado para as matérias-primas provenientes de fontes fósseis, ou seja, o etileno polimerizado resulta no polietileno. A polimerização é uma reação em que as moléculas menores (monômeros) se combinam quimicamente para formar moléculas longas e ramificadas.

Com o etileno produzido por essa tecnologia é possível fazer qualquer tipo de polietileno. Inicialmente a Braskem pretende produzir resinas de alta densidade e de baixa densidade, para aplicações rígidas e flexíveis em setores como o automotivo, empacotamento de alimentos, embalagem de cosméticos e artigos de higiene pessoal. Alguns clientes, do Brasil e do exterior, já estão recebendo amostras do polímero verde produzido em escala piloto. O início da produção em escala industrial, que deverá chegar a 200 mil toneladas anuais, está previsto para o final de 2009. Por enquanto a empresa ainda não definiu onde será instalada a fábrica destinada à produção do novo polímero, que deverá demandar investimentos de cerca de US$ 150 milhões.

O produto, que deverá custar entre 15% e 20% a mais do que os polímeros tradicionais, será destinado, principalmente, aos mercados asiático, europeu e norte-americano. Antes mesmo de ser lançado em escala comercial, o polietileno verde já faz sucesso. Na Feira Internacional do Plástico e da Borracha - K 2007, o maior evento da indústria petroquímica, realizada no final de outubro em Düsseldorf, na Alemanha, Morschbacker fez dez concorridas apresentações do produto em oito dias e atendeu um grande número de interessados no produto e no projeto.

O polietileno de etanol foi certificado pelo laboratório Beta Analytic, dos Estados Unidos, pela técnica do carbono-14, como um produto feito com 100% de matéria-prima renovável. A matéria-prima utilizada, no caso o etanol, é renovável, mas o produto final não é biodegradável. “O produto possui propriedades idênticas aos polietilenos produzidos a partir do petróleo. Como é um plástico bastante resistente e estável, ele pode ser reciclado e reutilizado várias vezes e, no final da vida útil, pode ser incinerado sem causar nenhum problema ambiental”, diz Morschbacker. A grande vantagem ambiental do polietileno do álcool é que, para cada quilo de polímero produzido, são absorvidos em torno de 2,5 quilos de gás carbônico, o dióxido de carbono, da atmosfera pela fotossíntese da cana.

Pólo alcoolquímico - A Dow Química também prepara-se para produzir polietileno a partir do etanol. Em julho, a empresa anunciou uma joint-venture com a brasileira Crystalsev, trading brasileira de açúcar e álcool controlada pelas usinas Vale do Rosário, de Morro Agudo, e Santa Elisa, de Sertãozinho, ambas no interior paulista, para criação de um pólo alcoolquímico integrado, que deverá iniciar suas operações em 2011 e terá capacidade para produzir 350 mil toneladas por ano de polietileno de baixa densidade, chamado comercialmente de Dowlex, destinado à fabricação de embalagens flexíveis, filmes industriais e artigos injetados. A princípio, o produto será vendido no mercado interno, que tem crescido de 6% a 7% ao ano. O material já é produzido pela Dow a partir da nafta de origem petrolífera em unidades industriais localizadas na Ásia e na Europa.

Para transformar o etanol em polietileno, a Dow também utiliza o processo de desidratação. Modernos catalisadores permitem obter um etileno tão puro quanto o produzido a partir do petróleo. A água liberada durante o processo de transformação do etanol em etileno será utilizada no sistema de produção de vapor para geração de energia elétrica. As estimativas são de que o empreendimento gere cerca de 3.200 empregos diretos, além de centenas de indiretos nos setores agrícola, industrial e de manufatura. A fábrica de polietileno vai consumir 700 milhões de litros de álcool por ano, o que corresponde a 8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.

As duas empresas participarão como sócias em todas as etapas, a começar pela formação de um canavial de 120 mil hectares até a fabricação e comercialização do plástico. A integração completa do ciclo fará com que o pólo seja auto-suficiente do ponto de vista energético e gere excedente de energia suficiente, proveniente do bagaço da cana, para atender a uma cidade de 500 mil habitantes. Por enquanto ainda não foi definido o local em que o pólo petroquímico será instalado, mas estão sendo analisadas localidades na região centro-sul do país. “O preço do polietileno produzido a partir do etanol será estabelecido levando-se em consideração as mesmas forças de oferta e demanda que afetam o preço do polietileno produzido a partir da nafta”, diz Diego Donoso, diretor de Plásticos da Dow para a América Latina. “O cliente final irá receber um produto com as mesmas características técnicas e de performance do polietileno convencional, mas irá ganhar no valor agregado da produção.”

Hidrólise ácida - A Oxiteno, do Grupo Ultra, tem projeto similar ao da Dow para construir uma biorrefinaria que produzirá açúcar e álcool a partir de bagaço, palha e pontas da cana-de-açúcar, por meio de uma tecnologia chamada de hidrólise ácida, ainda não dominada em escala comercial e cujo fundamento é a quebra das moléculas de celulose por meio da adição de ácido sulfúrico aos resíduos. A futura unidade vai fabricar também produtos alcoolquímicos a partir de tecnologias não-convencionais.

Desde novembro de 2006 a empresa tem parceria com a FAPESP para desenvolvimento de projetos de pesquisa na área de tecnologia de produção de açúcares, álcool e derivados. Na primeira fase, em janeiro de 2007, foram escolhidos 23 projetos em parcerias com institutos de pesquisa e universidades, dos quais foram aprovados sete na segunda fase, em julho.

Enquanto as petroquímicas apostam nos plásticos a partir do etanol, a PHB Industrial, pertencente ao Grupo Pedra Agroindustrial, de Serrana, e ao Grupo Balbo, de Sertãozinho, ambos no interior paulista, tem fabricado desde dezembro de 2000, em uma planta piloto, um plástico biodegradável produzido por bactérias naturais, que está sendo vendido em pequenas quantidades, com o nome comercial de Biocycle, para Estados Unidos, Japão e países da Europa. A matéria-prima tem sido empregada principalmente na fabricação de plásticos rígidos produzidos pelo processo de injeção e também em espumas para substituição do isopor. O Biocycle também se aplica à produção de substitutos de poliuretanos, além de chapas bioplásticas e produtos termoformados.

A planta industrial para produção em grande escala, prevista para ficar pronta em 2010, será instalada na região de Ribeirão Preto. “A produção do plástico biodegradável deverá ficar entre 10 mil e 30 mil toneladas por ano”, diz o físico Sylvio Ortega Filho, diretor executivo do desenvolvimento do plástico biodegradável na PHB, que teve participação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo e financiamento do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) da FAPESP (leia em Pesquisa Fapesp nº 80).

Poliéster natural - A produção do polímero é feita pelo cultivo da bactéria Alcaligenes eutrophus, atualmente chamada de Cupriavidus necator, em um meio de cultura com a sacarose presente no açúcar. A sacarose é transformada em glicose para alimentar as bactérias. “A cadeia de carbono da glicose é transformada pela bactéria no polihidroxibutirato (PHB)”, explica a professora Elisabete José Vicente, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, que participou dos estudos que resultaram no plástico biodegradável e atualmente orienta algumas linhas de pesquisa para a produção de polímeros a partir de bactérias. O PHB pertence ao grupo de polímeros denominados polihidroxialcanoatos (PHA), que são poliésteres acumulados por microorganismos na forma de grânulos intracelulares.

Suas propriedades termoplásticas permitem que, depois de extraídos do interior da célula produtora com o uso de solventes orgânicos, sejam purificados e processados, gerando um produto biodegradável, compostável e biocompatível. Esses polímeros podem ter aplicações diversas, como produção de filmes ou estruturas rígidas, além de usos médicos e veterinários, como confecção de suturas, suportes para cultura de tecidos, implantes, encapsulação de fármacos para liberação controlada e outras, utilizando-se da nanotecnologia.

“Até hoje já foram identificadas mais de 150 diferentes bactérias que acumulam naturalmente esse grânulo citoplasmático”, diz Elisabete. A bactéria C. necator se destaca porque consegue acumular grande quantidade de polímero, entre 80% e 90% do seu peso seco. Para crescer, ela precisa de frutose ou glicose. “O primeiro melhoramento genético da bactéria, realizado há muitos anos, obteve um mutante capaz de crescer em glicose, matéria-prima mais barata que a frutose”, diz Elisabete. No Brasil, as pesquisas iniciadas em 1992 pela pesquisadora em parceria com a professora Ana Clara Guerrini Schenberg, também do ICB, resultaram em uma nova bactéria mutante capaz de crescer em sacarose da cana e em outra bactéria recombinante com melhor rendimento de produção do co-polímero PHB-V, que é mais maleável

Modificações genéticas - A bactéria fabrica naturalmente o polímero, mas os melhoramentos genéticos permitem que ocorra um aumento considerável da produção. No projeto desenvolvido entre a empresa PHB e as instituições parceiras foram desenvolvidas e patenteadas algumas bactérias geneticamente modificadas. “Estamos usando apenas a bactéria natural para produzir o biopolímero, porque a Europa proíbe organismos geneticamente modificados”, diz Ortega. A demanda para os polímeros de fontes renováveis concentra-se basicamente em três grandes aplicações no mercado mundial. A primeira é o mercado de embalagens. A segunda é a indústria automobilística, que está em busca de substitutos para os produtos utilizados nos carros por outros que não contribuam para o aquecimento global, exigência dos mercados europeus. E a terceira aplicação é na área médica.

A parceria com a PHB resultou não apenas em um produto que já está no mercado como também na continuidade das pesquisas na universidade. O grupo coordenado pela professora Elisabete, do ICB da USP, trabalha em duas frentes. Em uma delas, os pesquisadores procuram bactérias que consigam produzir polímeros a partir de outras fontes de carbono que não a sacarose, como os resíduos produzidos pela indústria. “Essa seria uma forma de baixar o custo da produção do biomaterial, que chega a três vezes o do plástico derivado do petróleo”, diz Elisabete. Paralelamente, o grupo estuda aplicações do biopolímero, depois de purificado, como substrato para o crescimento de células-tronco, linha de pesquisa conduzida em parceria com o professor Radovan Borojevic, diretor do programa avançado de Biologia Celular Aplicada à Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Outra linha estuda o emprego do biopolímero para a imobilização de enzimas e fármacos, numa parceria com os professores Mário Politi, do Instituto de Química da USP e coordenador do Grupo de Pesquisas em Nanotecnologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Carlos Alberto Brandt, integrante do mesmo centro de pesquisa.

O Projeto - Obtenção e caracterização de polímeros ambientalmente degradáveis (PAD) a partir de fontes renováveis: cana-de-açúcar

Modalidade - Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe)

Coordenador - Jefter Fernandes do Nascimento – PHB Industrial

Investimento - R$ 338.686,30 (FAPESP)




Biodiesel aumenta esmagamento de soja

Parece que o biodiesel já está saindo do papel. A reportagem abaixo publicada na Gazeta Mercantil e encontrada no Portal do Agronegócio mostra a importância do biodiesel no esmagamento de soja:

Biodiesel incrementa esmagamento de soja

A indústria brasileira de óleos vegetais prevê processar volume recorde de soja na safra 2008/09. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais confirmou neste mês a expectativa de que o setor industrializará 31,5 milhões de toneladas de soja no ano que vem.

Se confirmado, o número representará um aumento de 9,7% nos últimos dois anos, quando o setor esmagou 28,7 milhões de toneladas. O mercado de biodiesel que ainda usa óleo de soja em mais de 90% de sua produção, é o principal responsável pelo incremento no biênio. O aquecimento já estimulou novos investimentos no setor, tais como o da Cargill, que anunciou que construirá nova fábrica de processamento de soja em Mato Grosso, elevando em 25% sua capacidade instalada no País. E a Bunge, que deve investir em nova unidade também em Mato Grosso, mas ainda sem cronograma e investimentos definidos. O consumo interno de óleo de soja já teve um incremento nesta safra de 8%, saindo dos 3,2 milhões de toneladas na 2006/07 para 3,5 milhões de toneladas na 2007/08. Para o próximo período, a Abiove estima um incremento de mais 14,2%, com consumo de 4 milhões de toneladas, também o maior da história. "A partir do ano que vem, teremos a mistura obrigatória do biodiesel no diesel", justifica Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove. Ele diz ainda que o maior uso de farelo de soja para produção de carnes no Brasil também deve contribuir para aumentar o processamento do grão. O consumo interno de farelo cresceu 7% nesta safra para 12,9 milhões de toneladas e deve avançar para 13,1 milhões de toneladas em 2008.

Indianos vêm conhecer a indústria do etanol do Brasil

Os indianos, principais causadores do turbilhão que passa o mercado de açúcar devido à sua superprodução, vieram conhecer a indústria do etanol no nosso país, conforme reportagem publicada no Mercado Carbono do Terra.

Desta forma, quem sabe eles destinam parte de sua produção de cana-de-açúcar para o etanol, ajudando a criar um mercado global de etanol e estabilizando a oferta de açúcar.

A reportagem completa encontra-se abaixo e pode ser encontrada originalmente aqui:

Segunda, 10 de dezembro de 2007, 18h47

Indianos conhecem indústria brasileira do etanol

Carlos Rangel

Representantes do setor privado e da imprensa indiana estiveram no Brasil para conhecer a experiência do País na cadeia produtiva de biocombustíveis. O diretor do Departamento de Cana-de-açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Alexandre Strapasson, deu informações também sobre a produção brasileira de carros flex, que representa hoje 90% dos veículos fabricados no País.

Os indianos querem conhecer a experiência de mais de 30 anos do Brasil na utilização do álcool misturado à gasolina, que atualmente chega a 26%. A Índia pretende usar uma mistura de até 5%. Participaram do encontro o editor-executivo do grupo The Business Índia, Daksesh Parikh, e o chefe-geral da Pressman Advertising - Marketing Limited, Niren Suchanti.

Strapasson explicou que a Índia considera a produção doméstica de álcool uma alternativa aos períodos de preços ruins para o açúcar, informa a assessoria do ministério. A medida ajudaria também o país a não depender somente de combustíveis fósseis como a gasolina.

domingo, dezembro 09, 2007

Guia para Plano de Negócios

Aproveitando o tema da postagem anterior, o Instituto de Minnesota para Agricultura Sustentável, desenvolveu um guia para desenvolvimento de plano de negócios para a agricultura e pecuária chamado: "Building a Sustainable Business: A Guide to Developing a Business Plan for Farms and Rural Businesses".

Este guia está em inglês e espanhol e consiste em 4 tarefas:

1 - Identificar Valores - O que é importante para você?
2 - História da empresa e situação atual - O que temos?
3 - Visão, Missão e Objetivos - Onde queremos chegar?
4 - Planejamento Estratégico e Avaliação - Que caminhos tomaremos para chegar onde queremos?

O texto é de leitura muito simples e através de questões é possível analisar o cenário interno e externo e entender suas potencialidades e fraquezas e as ameaças e oportunidades do mercado.

O material em inglês e espanhol para download pode ser obtido clicando os respectivos links.

Assentamentos economicamente viáveis

A edição de 5 de dezembro da Revista Exame traz um artigo interessante sobre como sem-terras têm conseguido desenvolver-se economicamente em pequenas propriedades.

Os resultados aparecem devido à forma que a propriedade é gerenciada, de forma eficiente e com agregação de valor. A reportagem completada publicada no Portal Exame pode ser lida abaixo:

Convertidos ao capitalismo

Eles entraram para os movimentos sociais em busca da terra, mas foi na parceria com a iniciativa privada que ex-sem-terra conquistaram renda.

Por Fabiane Stefano


O agricultor Donizete Francisco de Lima, de 44 anos, está preocupado com o preço da cana-de-açúcar. Assim como a totalidade dos produtores de cana do Brasil, Lima reclama da queda de 30% dos preços pagos pela matéria-prima na safra atual, o que irá afetar o faturamento de sua propriedade rural em Teodoro Sampaio, na região do Pontal do Paranapanema, no sudoeste de São Paulo. "O ano passado foi muito bom, mas neste ano a renda vai cair muito", diz ele. Lima não é um grande plantador de cana -- é um ex-sem-terra que está se beneficiando da expansão acelerada do etanol no país. Fornece para a Alcídia, usina que foi comprada recentemente pela ETH, braço agrícola do grupo Odebrecht. Muito antes de se transformar em produtor de cana, Lima viveu quase um ano em uma área invadida da Cesp, onde plantava hortaliças e arroz com um grupo de 100 famílias. Em 1999, recebeu 21 hectares do governo do estado de São Paulo, terras que faziam parte de uma antiga fazenda ocupada por grileiros. Atualmente, ele dedica 6 hectares ao plantio da cana-de-açúcar, cultura que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) execra e instituiu como o principal alvo de suas invasões. Em 2006, Lima entregou à usina 433 toneladas de cana e conseguiu produtividade de 72 toneladas por hectare, desempenho excepcional considerando a qualidade mediana da terra na região. "É a principal fonte de renda do sítio", diz. Com o dinheiro da cana, ele comprou um caminhão para transportar o leite que também produz, junto com o dos vizinhos, para o laticínio Quatá, em Teodoro Sampaio. A renda mensal de 3 500 reais que obtém é mais que suficiente para ele, a mulher e os dois filhos. No ano que vem, Lima planeja financiar a faculdade do filho mais velho, Paulo Sérgio, que pretende cursar direito.

Como Donizete de Lima, outros agricultores que já engrossaram as fileiras de movimentos sociais, invadiram terras e viveram em acampamentos melhoraram seus rendimentos e qualidade de vida após uma espécie de conversão ao capitalismo. Pragmáticos, deixaram de lado antigos tabus ideológicos e, uma vez assentados, investiram em negócios e parcerias com empresas. É verdade que eles ainda representam uma minoria no universo de quase 1 milhão de famílias assentadas durante os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Mas seu êxito mostra que existe uma saída economicamente viável para a legião de pequenos produtores do campo. "Os assentados precisam ser inseridos em uma cadeia produtiva, têm de criar uma conexão com o mercado", diz Xico Graziano, especialista em questões agrárias e atual secretário de Meio Ambiente do estado de São Paulo. É uma idéia, claro, que se choca frontalmente com o ideário de MST e companhia. "A reforma agrária no Brasil não é viável se não for parte de um projeto antineoliberal e antiimperialista" é um mantra de João Pedro Stédile, líder do MST.

NO PONTAL DO PARANAPANEMA, região que nos anos 90 foi o conturbado epicentro das invasões do MST no estado, vivem 6 800 famílias assentadas. A maioria se dedica à pecuária leiteira, considerada uma atividade que exige menos aptidão agrícola, mas a produção de cana-de-açúcar, bicho-da-seda e urucum também virou alternativa de renda para uma parcela dos produtores. Há semelhanças entre aqueles que têm se destacado. É gente que trabalha duro, procura por auxílio técnico e reinveste parte dos ganhos na própria terra. Mário Donato é um deles. Em 1996, depois de seis anos vivendo em acampamentos do MST, ele conseguiu uma área de 16 hectares em Mirante do Paranapanema. Nos primeiros anos, tentou sem sucesso as lavouras de milho e mandioca. Em 2001, passou a produzir leite e hoje tem 28 vacas da raça girolanda. Na época de chuvas, quando o pasto está farto, o rebanho chega a produzir 260 litros de leite por dia. A produção é entregue ao laticínio Quatá e gera renda mensal de cerca de 2 500 reais -- dinheiro que permite pagar a faculdade do filho Vinícius, aluno de educação física em Maringá, no Paraná. São poucos os pequenos pecuaristas que conseguem essa renda. Donato tem obtido bons resultados porque investe em técnicas como manejo de solo e pastagem rotativa, o que vem lhe garantindo maior produtividade. Mas ele quer mais. Há dois meses comprou uma ordenha mecânica -- financiada em 36 vezes diretamente com a loja -- e agora pretende investir em animais de melhor qualidade genética. Sua propriedade é considerada modelo pelos técnicos do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp). "Trabalhei muito e agora está vindo o retorno", diz Donato. "O problema é que em todo lugar tem gente que não está a fim de trabalhar." Para a maioria desses novos produtores rurais, como Donato, os tempos de militância ficaram para trás. Quem mergulhou na rotina do trabalho acaba naturalmente se distanciando dos movimentos sociais. "Muitos continuam na luta, mas eu me afastei do pessoal do MST", diz ele.

SE PARA OS ASSENTADOS a integração com a indústria é uma solução, para as empresas a admissão desses fornecedores exige paciência para iniciá-los nas práticas de negócios. O laticínio Quatá, que compra a produção de ex-sem-terra há oito anos, teve um começo de relacionamento complicado. "Havia gente que recebia a terra e nem sabia o que era uma vaca leiteira", afirma José Cláudio Soares de Brito, gerente do Quatá na unidade de Teodoro Sampaio. Brito lembra que os assentados não entendiam a dinâmica do mercado e faziam greve quando o preço do leite caía. Hoje, a relação entre empresa e fornecedores melhorou, mas a produção da maioria dos ex-sem-terra ainda é considerada amadora. "Como eles não planejam a produção na entressafra, há até animais que morrem durante a época de seca", diz Brito. A empresa está fazendo uma pesquisa entre os ex-sem-terra para investir nos que têm mais aptidão no trato com o gado leiteiro. De acordo com estimativas dos técnicos do Itesp, no Pontal somente uma minoria de assentados alcança o patamar de produtividade e renda de gente como Donato e o produtor de cana Lima. A maioria consegue tirar da terra apenas o equivalente a um salário mínimo e reforça o orçamento fazendo bicos na cidade. Há ainda uma parcela que vive na extrema pobreza e acaba abandonando o lote. Por lei, o assentado tem apenas o direito de uso do solo, que continua a pertencer aos estados ou à União, mas todas as benfeitorias realizadas por ele na propriedade -- como casa, curral e cerca -- têm de ser indenizadas. Nesse caso, o assentado acaba "vendendo" as benfeitorias para vizinhos, que compram os direitos da terra para os filhos. "Geralmente os compradores desse tipo de lote são ex-sem-terra com mais aptidão agrícola e melhor estrutura financeira", diz Marco Túlio Vanalli, coordenador do Itesp na região do Pontal. "Isso está promovendo uma melhora no perfil dos assentados."

Aparecida Oliveira de Lima, de 46 anos, comprou no ano passado as benfeitorias do lote do antigo vizinho para o filho Anderson, de 25 anos. O investimento foi feito com os lucros da safra do urucum, semente que produz um corante conhecido como coloral. Foram 10 000 reais obtidos com a venda da produção à multinacional dinamarquesa Christian Hansen, empresa que processa o corante natural para grandes grupos da área de alimentos. O marido de Aparecida, Aparecido Fernando de Lima, deixou a família no Paraná em 1991 em direção ao Pontal para brigar por um lote na reforma agrária. Naquela época, ambos sonhavam com a produção de urucum, cultura que conheceram em terras paranaenses. Enquanto ele engrossava a multidão que vivia nos acampamentos do MST, ela trabalhava no corte de cana no Paraná para assegurar o sustento da família. "Fiquei cinco anos morando em barraca de encerado. Durante o dia era um calor insuportável e, à noite, um frio horrível", afirma Aparecido. Agora, Cido e Cida -- como são conhecidos na região -- estão empolgados com a nova variedade que a Christian Hansen trouxe para a região, a piave, semente de urucum que possui um teor de tinta três vezes maior e remunera melhor os produtores. A demanda nacional pelo produto está em alta. "Vamos comprar mais dos fornecedores do Pontal para atender à expansão do mercado", diz Plínio Mansim, supervisor de compras da Christian Hansen.

Enquanto parcerias com a indústria como as que se vêem na região do Pontal são construídas lentamente, o ritmo de invasões Brasil afora continua acelerado. Até agosto deste ano, foram realizadas 248 ocupações em todo o país -- 80 apenas no estado de São Paulo. Detalhe: nunca se assentou tantos sem-terra no país. No ano passado, 136 400 famílias ganharam lotes. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), até o final de 2006 os assentamentos ocupavam mais de 71 milhões de hectares (área maior que a da soma dos cultivos de soja, cana e café no país). Porém, o que se nota hoje é que, mesmo com um número alto de invasões, há um contínuo esvaziamento dos acampamentos do MST. De acordo com a Pastoral da Terra, entre 2003 e 2006 a entrada de novas famílias nos acampamentos caiu mais de 80% no Brasil, de 59 082 para 10 259. Nesse período, apenas o Incra injetou 8,3 bilhões de reais na criação de novos assentamentos -- isso sem contar os investimentos dos programas estaduais. Mas a diminuição no exército do MST é visível. "Ninguém gosta de viver em barracas de lona", diz Rolf Hackbart, presidente do Incra. "Uma hipótese é que muitas pessoas estejam conseguindo empregos, mesmo que temporários, em obras ou indústrias graças ao crescimento da economia." Também há os que são captados por programas sociais, como o Bolsa Família, e retornam a suas cidades de origem. O resultado é que na região do Pontal os acampamentos minguaram. "Hoje, a movimentação do MST praticamente acabou aqui. A grande questão é o que fazer com os assentados", diz Lamartine Navarro Neto, sócio da usina Alcídia. Exemplos como os de Donizete, Mário e Aparecido dão uma pista do caminho a seguir.

sábado, dezembro 08, 2007

Subsídios agrícolas - até os americanos estão ficando contra!

A questão dos subsídios agrícolas está tornando-se insustentável até para países defensores desta política.

Em artigo publicado na edição de dezembro da Dinheiro Rural entitulada "Afinal, bom para quem?" comenta-se que existem vozes nos EUA contrárias ao Farm Bill.

Nos argumentos eles citam que os US$ 285 bilhões gastos anualmente não estão trazendo ganhos econômicos, não são bons para o meio ambiente e ainda prejudicam a imagem internacional do país quando o tema é livre comércio.

Além destes fatores, eles citam que está ocorrendo uma concentração das propriedades com um aumento do tamanho médio. De 1982 para cá, o faturamento das fazendas com receita maior de US$ 5 milhões mensais aumentou 220% enquanto que no grupo de fazendas entre US$ 10 e 250 mil mensais apenas 32%.

Vamos esperar de camarote para ver como fica este debate.