quarta-feira, outubro 31, 2007

Outro gargalo para a expansão agrícola

Outras vezes o problema foi o crédito, outras a logística. A bola da vez é a falta de adubos que pode restringir expansão. A reportagem abaixo do Valor de hoje comenta este assunto:

FALTA DE INVESTIMENTOS EM ADUBOS PODE RESTRINGIR EXPANSÃO AGRÍCOLA

O Brasil precisa ampliar investimentos em produção e em logística para importar e escoar fertilizantes se não quiser se tornar ator coadjuvante num mercado global que já tem China e Índia como principais protagonistas. Pior que isso: se não tomar cuidado nessa frente, o país poderá ter na escassez de adubos uma trava para sua expansão agrícola. Essas foram as principais conclusões de um seminário sobre as perspectivas do segmento realizado ontem (dia 30) em São Paulo pela Agroconsult.

"Os fertilizantes são um crescente fator de limitação do agronegócios brasileiro. Menos pela questão dos preços, que de fato estão altos no mercado internacional, e mais pelo suprimento", disse André Pessôa, sócio-diretor da consultoria. Ele lembra que, por depender de importações, as oscilações das matérias-primas que compõem os adubos no exterior têm reflexo direto na formação dos preços dos produtos vendidos no Brasil, mas não enxerga novos saltos no horizonte.

Quanto aos investimentos, Pessôa observou que as empresas que operam no país têm a possibilidade de elevar aportes para a produção de matérias-primas derivadas do nitrogênio e do fosfato. No caso dos nutrientes oriundos do potássio, não há condições naturais para isso. Na área de logística, afirma, é preciso melhorar a capacidade de recepção nos portos, a distribuição e a armazenagem de produtos.

Dados da Associação Internacional de Fertilizantes (IFA, na sigla em inglês) apresentados pela Agroconsult mostram que, em 2007, a China se consolidará como o principal país consumidor de fertilizantes do mundo, com volume total previsto em 47,6 milhões de toneladas de nutrientes. A Índia vem em seguida, com 23,1 milhões de toneladas, e o Brasil perde também para EUA e leste europeu.

No mercado brasileiro o consumo deverá alcançar 10,3 milhões de toneladas de nutrientes, que deverão se transformar em 24,3 milhões de toneladas de produtos finais, um recorde histórico.

Para 2008, a tendência é de crescimento: A Agroconsult projeta para o ano que vem 10,8 milhões de toneladas de nutrientes e 25,5 milhões de toneladas de produtos finais no país.
Da oferta total deste ano, a produção nacional deverá representar 40%, com os 60% restantes atendidos por importações. Em 2008, a proporção tende a se manter praticamente inalterada, com a produção nacional responsável por uma fatia de 41%.

sábado, outubro 27, 2007

Fraude no leite: Ruim para alguns, excelente para outros!

A crise do leite abriu novas oportunidades para os produtores de leite fresco. A reportagem de ontem do DCI comenta abaixo este assunto e ao realizar compras ontem no supermercado, também percebi este aumento de demanda ao chegar à prateleira e não encontrar nenhum litro sequer de leite do tipo A.

Bela Vista e Xandô vendem mais leite com crise do longa-vida

A fraude no leite UHT, chamado longa-vida, ocorrida em duas cooperativas mineiras está contribuindo para o aumento das vendas de leite pasteurizado, tradicionalmente vendido em garrafas e saquinhos plásticos.

A Fazenda Bela Vista, líder do mercado de leite pasteurizado, registrou aumento de 15% na demanda esta semana, segundo o diretor comercial da empresa, Paulo Passarini.

A Xandô, marca de leite pasteurizado produzido na Fazenda Colorado, de Araras (SP), aumentou em até 40% as vendas esta semana, informou Carlos Alberto Basetti, diretor da empresa.

"Não estamos dando conta de atender os pedidos. Pena que é um período sazonal", afirma.

Por ter um prazo de validade menor -sete dias-, o leite pasteurizado perdeu mercado para o UHT, que permite armazenamento de até seis meses. Além disso, o preço é até 20% superior. Com isso, atualmente, a versão longa-vida detém 76% do mercado de leites do País, segundo a Associação Brasileira do Leite Longa-Vida (ABLV).

A expectativa da direção da Xandô é que parte dos consumidores que optarem, neste momento, pelo leite pasteurizado, continuem comprando o produto mesmo com o fim das notícias sobre as irregularidades encontradas em duas cooperativas mineiras. A líder do mercado informa que o leite longa-vida não afeta o resultado da Bela Vista. A empresa espera crescer este ano 10%, impulsionada pela melhora na distribuição e pela variedade de derivados lácteos que oferece.

Além disso, segundo o diretor da Bela Vista, a empresa possui um sistema de entregas em domicílio que concorre com a praticidade do longa-vida. "Fazemos entregas até três vezes por semana sem valor mínimo pedido", afirma Passarini.

A Xandô e a Bela Vista produzem leite pasteurizado tipo A, classificação que é dada de acordo com práticas de produção. Os leites A são produzidos, processados e embalados na mesma empresa.

Longa-vida

No caso das vendas de leite longa-vida, segundo a direção da ABLV, até o momento as vendas estão normais. "Ainda é cedo para avaliarmos o impacto registrado no comércio de lácteos em função das notícias veiculadas na imprensa.

Mas o mercado de leite longa-vida é muito consolidado e não deve ter sido afetado significativamente", afirma o diretor executivo da associação, Nilson Muniz. A ABLV representa 30 empresas do setor lácteo, que respondem por 80% do mercado de leite longa vida.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Não é só nos EUA que alimentos tem problemas de contaminação

Após publicar várias postagens com problemas de contaminação de alimentos, sou forçado a publicar o infeliz acontecimento com o leite que aconteceu esta semana.

Para piorar o quadro, a Folha de São Paulo publicou hoje a reportagem abaixo onde diz que a mistura com soda é realizada há 2 anos:

Soda é misturada ao leite há 2 anos, dizem funcionários

Funcionários da Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande) afirmaram, em depoimentos prestados à Polícia Federal anteontem, que a mistura com soda cáustica era adicionada ao leite longa vida integral havia mais de dois anos.

"Nos interrogatórios que fiz ontem [anteontem], a grande maioria dos funcionários da empresa que estava presa confirmou a fraude. Disseram que colocavam soda cáustica no leite havia mais de dois anos", disse o delegado Ricardo Ruiz. A adulteração do leite longa vida (de caixinha) integral também foi confirmada, segundo Ruiz, pelo presidente da Copervale. O nome dele não divulgado, mas a Folha apurou tratar-se de Luis Galberto Ribeiro Ferreira.

Os diretores da Copervale, de Uberaba (MG), estão entre as 27 pessoas presas nesta semana durante a operação Ouro Branco, realizada pela Polícia Federal. A ação atingiu também a Casmil (Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro), de Passos, suspeita de adicionar água oxigenada misturada em soro ao leite.

Juntas, as duas cooperativas produzem 400 mil litros de leite por dia. De acordo com a investigação, produtos impróprios para o consumo, como soda cáustica, água oxigenada e citrato de sódio, eram adicionados ao leite para aumentar o prazo de conservação e o volume do produto. Se ingeridas em grandes quantidades, essas substâncias podem ser prejudiciais à saúde, porém, em pequena proporção, não trazem risco ao consumidor, segundo a Anvisa e especialistas.

Dos 27 suspeitos presos, apenas seis continuavam encarcerados na tarde de ontem. Os demais foram soltos, a pedido da PF e do Ministério Público, porque teriam colaborado com a investigação. Os nomes dos detidos não foram divulgados. Os 13 funcionários da Copervale presos pela PF na segunda estão entre os liberados. Eles disseram em depoimento que não bebiam o leite longa vida integral justamente por nele haver mistura com soda cáustica, ácido cítrico, citrato de sódio, sal e açúcar -a confirmação da composição ainda depende de exames laboratoriais.

A Folha tenta ouvir o advogado da Copervale, Paulo Pimenta, desde segunda-feira. Ele disse anteontem que a cooperativa não iria se pronunciar. A soda cáustica é usada nas cooperativas de leite no processo de limpeza dos tanques de pasteurização. Cláudio Fernando Costa, que trabalha em pequenos laticínios de Minas há 20 anos, disse que o uso da soda precede o de outros dois ácidos até o enxágüe final.

Rentabilidade:

Segundo o delegado Ruiz, a rentabilidade da fraude, no caso da Copervale, estava na adição de água para dar volume ao leite. Ele afirmou que a adulteração permitia "enganar" o exame de crioscopia, aplicado para verificar se o leite contém água. Misturadas à água, substâncias como a soda cáustica geram um pH que altera os resultados do exame. A PF trabalha com o percentual de 10% de adulteração -em um litro de leite, 10% seriam formados pela mistura diluída em água.

O presidente da Leite Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Leite do Brasil), Jorge Rubez, disse que o valor do leite é determinado pela qualidade, e não pela quantidade. No caso da Copervale, se a mistura era de fato capaz de burlar a crioscopia, a qualidade do leite produzido era falseada.

Procon:

O Procon-SP (órgão de defesa do consumidor) notificou ontem a Nestlé e a Parmalat para responder em 48 horas se distribuíram no Estado de São Paulo leite das cooperativas mineiras envolvidas nas denúncias de adulteração. Conforme o diretor de fiscalização do Procon, Paulo Góes, o órgão aguarda os resultados da operação da Polícia Federal para decidir se notifica outras empresas.

Góes afirma que o órgão solicitou informações para as marcas em virtude de veículos de comunicação terem divulgado "de maneira pública e notória" que ambas receberam leite adulterado. O Ministério Público de São Paulo solicitou à Promotoria de Passos informações sobre eventual venda do leite da Casmil, cooperativa da cidade, a empresas paulistas.

Ingleses acreditam no Pinhão Manso no Brasil

Em outra reportagem sobre investimentos estrangeiros no país, o Valor Econômico de hoje escreve sobre a intenção de um grupo inglês em investir em pinhão manso para a produção de biodiesel no São Paulo apesar do pouco conhecimento agronômico sobre a cultura:

BRITÂNICA INVESTE EM PINHÃO-MANSO EM SP

A D1-BP Fuel Crops Limited, joint venture criada em junho deste ano pelas empresas britânicas BP e D1 Oils, deu ontem o primeiro passo para a produção de pinhão-manso no Brasil. A empresa fechou acordo com produtores do município de Jales (SP) para o cultivo de 10 mil hectares da oleaginosa.

As sementes serão esmagadas localmente e o óleo bruto será exportado ao Reino Unido para a produção de biodiesel para atender ao mercado europeu, informou ao Valor Steve Douty, diretor executivo da D1-BP. "Estamos buscando outros parceiros no Brasil para expandir o plantio do pinhão-manso a 300 mil hectares, no prazo de três anos", afirmou.

De acordo com o executivo, a meta é tornar o Brasil um dos principais fornecedores da matéria-prima para a produção de biodiesel. A D1-BP foi criada para ser o braço produtor de biodiesel das empresas e tem como plano investir globalmente 160 milhões de libras (aproximadamente US$ 266 milhões) no plantio de 1 milhão de hectares de pinhão-manso no prazo de quatro anos, o que vai lhe render uma oferta anual média de 2 milhões de toneladas de óleo por ano.

A D1 Oils já possui produção própria de 172 mil hectares, cultivados na Índia, África do Sul e sudeste da Ásia e que foi incorporada à joint-venture como capital.

A D1-BP já iniciou projetos na Índia e no Brasil e estuda investir também no sudeste da Ásia, em países da África e outros da América Latina. "Na América do Sul nosso primeiro trabalho será realizado no Brasil", observou Douty. Segundo o executivo, o plantio dos 10 mil hectares - que serão cultivados na região de Lençóis Paulista - deve ser alcançado até 2010. "Inicialmente estamos negociando outras parcerias em São Paulo, mas também buscamos produtores de outros Estados, onde o cultivo do pinhão-manso tenha custo de produção favorável", disse.

Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão-Manso (ABPPM), o plantio no país já ocupa 20 mil hectares, com produção comercial em Tocantins, Piauí, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo.

Conforme Douty, o pinhão-manso foi eleito pela empresa devido à sua alta resistência à seca, fácil adaptabilidade em diferentes países e também por ser um cultivo que não é utilizado para consumo e, portanto, não representa competição direta que possa reduzir a oferta de alimentos no mundo. "Como o pinhão pode ser cultivado em terras de menor valor agrícola e exige pouca irrigação, é uma excelente matéria-prima para o biodiesel", afirmou Phil New, presidente da BP Biofuels.

Nessa primeira fase do projeto, os investimentos no campo pela D1-BP no Brasil deverão ficar entre US$ 15 milhões e US$ 18 milhões. A estimativa é que os 10 mil hectares produzem até 20 mil toneladas de óleo para a produção de biodiesel. Douty observou que a oferta doméstica de canola e outras oleaginosas na União Européia é insuficiente para atender à demanda do bloco prevista para 2010, de 11 milhões de toneladas de biodiesel por ano. "Além disso, essas matérias-primas são muito caras para serem produzidas na Europa. Daí o interesse em transformar o Brasil e outros países em plataforma de exportação da matérias-primas para a produção do biocombustívels", afirmou.

Produzir açúcar no Brasil ainda interessa aos estrangeiros

Ao contrário de todos os demais grupos internacionais que estão de olho no etanol brasileiro, a maior refinaria de açúcar no mundo pensa em produzir localmente apenas açúcar. O texto a seguir foi publicado no Valor Econômico de ontem

MAIOR REFINARIA DO MUNDO PODE INVESTIR EM AÇÚCAR NO BRASIL

A companhia ainda não tem atividades no Brasil. O grupo, assim como boa parte das refinarias sediadas no Oriente Médio, é importador de açúcar brasileiro.

Considerado um dos empresários mais ricos do açúcar, Jamal Al Ghurair fala pouco e não dá muitos detalhes sobre a estratégia de sua gigante refinaria. A Al Khaleej Sugar entrou em operação em 1995. Hoje, processa em uma única unidade cerca de 1,5 milhão de toneladas de açúcar. A expectativa é industrializar de 2,4 milhões a 2,5 milhões de toneladas de açúcar em 2008. "Exportamos boa parte do açúcar branco para vários mercados da Ásia e Oriente Médio", informa.

Na contramão da maioria dos empresários nacionais e estrangeiros que estão fazendo pesados investimentos no etanol, Al Ghurair disse que não tem interesse no mercado de agroenergia. "Não é o meu foco de negócios", resume.

O mercado de açúcar branco ganhou novos contornos no mercado internacional após a União Européia ter perdido em 2004 processo na Organização Mundial do Comércio (OMC), movido pelo Brasil, Austrália e Tailândia, que questionaram a política de subsídios do bloco ao açúcar. Com isso, a UE vai deixar de exportar de 3 a 4 milhões de toneladas de açúcar branco no mercado internacional, dando espaço a outros países.

Boa parte das refinarias de açúcar está sediada no Oriente Médio. Na Síria, a Crystalsev e a Cargill anunciaram um investimento em uma refinaria em parceria com produtores locais para refinar um milhão de toneladas de açúcar.

Segundo Al Ghurair, que participou da 7ª Conferência de Açúcar e Álcool da Datagro ontem, as refinarias do Oriente Médio têm capacidade para processar este ano 8 milhões de tonelada de açúcar e podem chegar a 11 milhões nos próximos anos.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Onibus a Etanol - Brasil dá outro passo em favor do meio-ambiente

Foi apresentado ontem em São Paulo o ônibus movido a etanol. Uma boa iniciativa na diminuição da poluição dos grandes centros urbanos e na geração de demanda para o nosso etanol. Na sequência, o texto completo da nota publicada no site da Unica:

Unica apóia lançamento do ônibus movido a etanol no país

O presidente da Unica, Marcos Sawaya Jank, e o consultor da entidade, Alfred Szwarc, estiveram presentes no lançamento do projeto BEST, responsável pelo ônibus movido a etanol. O evento, promovido pelo Cenbio (Centro Nacional de Referência em Biomassa) e pelo IEE (Instituto de Eletrotécnica e Energia), também foi acompanhado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; pela secretária de Energia do Estado de São Paulo, Dilma Seli Pena; e pelo presidente do Conselho Gerenciador do Cenbio e coordenador do BEST no Brasil, José Roberto Moreira; entre outros.

O projeto é uma iniciativa do Cenbio e dos parceiros: BAFF/SEKAB, Copersucar, EMTU/SP (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo), SPTrans, Marcopolo, Petrobras, Scania e Unica. De acordo com Moreira, o BEST tem como objetivo incentivar o uso do etanol, em substituição ao diesel, no transporte público urbano no Brasil e no mundo.

Durante o evento, após o abastecimento do veículo com etanol, procedeu-se uma volta de apresentação do ônibus, que foi acompanhada por profissionais da mídia e representantes de cidades de outros países que participam do projeto: Nanyang (China), La Spezia (Itália), Estocolmo (Suécia), Somerset (Reino Unido), Dublin (Irlanda), Rotterdam (Holanda), Madri e País Basco (Espanha). Na coletiva à imprensa, foram levantados temas como preços, rentabilidade do álcool em relação ao diesel e testes com o novo ônibus. Na ocasião, o presidente da Unica afirmou que a entidade está fornecendo o etanol necessário para o projeto e que o uso do biocombustível será benéfico para as cidades que sofrem com a poluição, como São Paulo, já que gera cerca de 80% menos gases poluentes. Jank explicou que, se mil ônibus movidos a diesel fossem substituídos pelos de etanol, o ar deixaria de receber, aproximadamente, 96 mil toneladas de CO2, o equivalente a 15 mil automóveis.

terça-feira, outubro 23, 2007

Agronegócio paulista tem saldo

Em reportagem do DCI de hoje, foi publicado que o Estado de São Paulo teve um superávit do agronegócio de US$ 7,8 bilhões, valor superior ao do ano passado em 6%. Este número ocorre mesmo com queda do valor do dólar e queda das exportações de açúcar e álcool, porém a cadeia da carne colaborou com este crescimento. Segue notícia na íntegra:

Agronegócio paulista tem saldo de US$ 7 bi

O agronegócio paulista fechou os nove primeiros meses deste ano com saldo na balança de US$ 7,76 bilhões, 6,2% a mais do que o mesmo período do ano passado.

As exportações aumentaram 11,9%, atingindo US$ 11,64 bilhões, enquanto as importações, também crescentes, fecharam em alta de 25,6%, somando cerca de US$ 3,88 bilhões.

As importações paulistas nos demais setores (inclusive os agronegócios) somaram US$ 30,77 bilhões; as exportações, US$ 26,18 bilhões. Isso gerou déficit externo de US$ 4,59 bilhões.

"Assim, conclui-se que os superávits do comércio exterior paulista continuam a depender do desempenho dos agronegócios estaduais", destacam os pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (IEA/SAA), responsáveis pela elaboração dos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Os cinco principais agregados de cadeias de produção nas exportações dos agronegócio paulista foram cana-de-açúcar e sacarídeas (US$ 3,55 bilhões), bovídeos-bovinos (US$ 2,42 bilhões), frutas (US$ 1,73 bilhão), produtos florestais (US$ 1,32 bilhão) e agronegócios especiais (US$ 578,51 milhões), que juntos perfizeram 82,4% das exportações setoriais paulistas.

Perdemos a liderança de custo no açúcar

Por causa da febre alcooleira e da cotação do dólar, perdemos para outros países a liderança de custo do açúcar. Veja abaixo a matéria do Valor Econômico que trata do assunto:

BRASIL DEIXA DE SER O MAIS COMPETITIVO NA PRODUÇÃO DE AÇÚCAR

O Brasil perdeu o posto de país mais competitivo no mundo na produção de açúcar. Os custos de produção das usinas do centro-sul do país estão em torno de US$ 250 por tonelada (Fob), segundo levantamento da JOB Economia e Planejamento. "Países como Guatemala e Austrália estão com os mesmos custos que o Brasil", afirma Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job.

O levantamento feito pela Job leva em conta apenas os novos projetos de usinas de açúcar em construção, cerca de 100 plantas em todo o país. Esses custos incluem despesas com a produção e depreciação de equipamentos.

Os custos de produção para o açúcar SIF (isto é, colocado no destino final) chegam a US$ 300 por tonelada no caso de sudeste asiático e Rússia, principais importadores do açúcar brasileiro. "Com esses valores (SIF), o Brasil concorre com a Tailândia, que atua naquela mesma região", diz Martins Borges.

Segundo ele, a alta dos preços dos equipamentos para usinas de açúcar e álcool e a desvalorização do dólar ante o real reduziram a competitividade do Brasil frente a outros importantes países produtores. "Os investimentos em usinas ficaram mais caros por conta da crescente demanda por novos projetos. Outro fator é a queda do dólar. Há dois anos, o dólar estava em torno de R$ 3. Hoje está em média R$ 1,85."

Mesmo com essa perda de competitividade, o Brasil continuará como principal foco dos investimentos, uma vez que tem terras disponíveis para expansão, sem afetar as outras culturas agrícolas. "Somente o Brasil tem condições de crescer em cana sem competir com os alimentos", diz.

A área plantada com cana no Brasil está em torno de 6,2 milhões de hectares e pode chegar a 14 milhões de hectares em 2030, segundo projeções do Ministério de Minas e Energia. A produção de cana no país deve ser de 470 milhões de toneladas nesta safra e deverá alcançar 1,14 bilhão de toneladas em 2030, segundo o ministério.

Dados atualizados da Datagro mostram que o preço ideal do açúcar para que as usinas não percam rentabilidade deveria ficar em 11,8 centavos de dólar por libra-peso. As cotações atuais na bolsa de Nova York estão entre 9,5 centavos a 10 centavos de dólar por libra-peso.

Segundo Plínio Nastari, presidente da Datagro - que promove a 7ª Conferência Internacional sobre Açúcar e Álcool, em São Paulo - os custos atuais de produção do álcool hidratado (usado como combustível) giram em torno de R$ 0,67 a R$ 0,72 por litro. Os preços no mercado hoje estão ao redor de R$ 0,58 por litro.

A expectativa do mercado é de que os preços do álcool combustível subam entre 25% e 30% na entressafra 2007/08. A elevação dos preços deve começar a partir da segunda quinzena de novembro, quando a colheita da cana entra em sua reta final, e vai até abril. Esse aumento de preços, diz Nastari, poderá reduzir o consumo de álcool no mercado interno. O consumo mensal no final da safra deve atingir 1,42 bilhão de litros, ante 1,1 bilhão no mesmo período do ano anterior.

Segundo a Datagro, a produção de álcool nesta safra, a 2007/08, deverá ficar em 20,4 bilhões de litros. O estoque de passagem para a safra 2008/09, a partir de maio, está estimado em 254 milhões de litros (Valor, 23/10/07)

segunda-feira, outubro 22, 2007

Commodities Agrícolas melhor investimento do que metais e energia

Segundo matéria publicada na Bloomberg no dia 17 de outubro, as commodities agrícolas serão melhores do que os metais e as commodities energéticas no próximo ano devido à problemas de escassez segundo Merril Lynch.

As causas desta escassez seriam problemas de clima relacionados ao aquecimento global e restrições na quantidade de água e terras que farão com que os preços se elevem. Associado a isso temos uma maior demanda por proteína animal que dependem de grãos para sua produção.

O artigo completo em inglês encontra-se aqui.

Biodiesel e agricultura familiar - Governo ainda não fez decolar

Apesar de todo esforço e desejo do Governo Federal em transformar a produção de biodiesel o paraíso para a agricultura familiar, ainda não existe parcela significativa deste setor na produção, conforme podemos ler em artigo publicado no Panorama Brasil:

AGRICULTURA FAMILIAR AINDA PARTICIPA POUCO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL

A agricultura familiar ainda não está participando como poderia da produção de biodiesel no país. A avaliação é do consultor do portal especializado Biodieselbr, Univaldo Vedana. Segundo ele, a agricultura familiar representa menos de 5% do total da produção de matéria-prima para o biodiesel.

Segundo Vedana, para mudar esse quadro é preciso, primeiramente, definir as culturas que a agricultura familiar possa trabalhar. “Há necessidade de pesquisar e chegar a um consenso para saber qual a melhor alternativa para cada região, e isso é complicado. São muitas as opções e algumas precisam ser estudadas”, avalia.

Ele também considera que é preciso atualizar o programa de biocombustíveis desenvolvido pelo governo e estender, por exemplo, os benefícios do Selo Combustível Social para usinas que utilizem óleo de cozinha usado. “Não temos pobres só no campo. Nós temos o pessoal da reciclagem das grandes cidades que também precisam de incentivo”, afirma.

O consultor argumenta também que a produção de oleaginosas pela agricultura familiar não é suficiente para atender às exigências do governo para a concessão do Selo Combustível Social.

“É difícil organizar milhares de produtores para que produzam determinado produto, não é tão simples assim. Falar é fácil, agora, ir lá no campo, convencer os pequenos produtores, dar condições para que eles produzam determinado produto para a empresa poder ter benefício é complicado”, diz.

Atualmente, para obter o selo, as indústrias devem comprar um mínimo de 10% de matéria-prima de agricultores familiares nas regiões Centro-Oeste e Norte, 30% no Sul e Sudeste e 50% no Nordeste.

Vedana defende que o incentivo seja dado para que a agricultura familiar participe da produção de biodiesel, mas por meio do plantio de culturas perenes, que tenham alta produção de óleo por hectare e que exijam alto emprego de mão-de-obra.

Segundo Vedana, a atual produção de biodiesel depende aproximadamente de 80% do óleo de soja, 15% de gordura animal e o restante de outros óleos vegetais. “O preço da soja é ditado pelo mercado internacional, e hoje está muito caro. Como se vai fazer biodiesel para ser competitivo com o diesel de petróleo, se a matéria prima já está mais cara que o diesel”, questiona.

Para ele, o governo precisa criar políticas agrícolas voltadas à produção de outros óleos que não tenham fins alimentares, que sejam específicos para o biodiesel. Vedana lembra que o Brasil tem terras e condições para isso. Há também um período de entressafra no qual 70% da área agrícola não é utilizada.

“Temos uma gama de culturas com tecnologias, com conhecimentos já dominados, faltando apenas incentivo para que o produtor plante, ou a garantia de compra da produção. É isso que está faltando para o biodiesel realmente deslanchar”, conclui Vedana.

quinta-feira, outubro 18, 2007

A inflação e a agricultura

No Valor Econômico de hoje saiu um editorial interessante sobre inflação e agricultura do José Roberto Mendonça de Barros. Segue texto:

UM VELHO TEMA: INFLAÇÃO E AGRICULTURA

José Roberto Mendonça de Barros

Está de volta um velho tema: está a agricultura gerando inflação? Se buscarmos a resposta nos índices de preços dos principais países do mundo, a resposta é não. Como se sabe, nestas regiões utiliza-se o conceito de núcleo da inflação, que resulta da retirada dos elementos voláteis, como energia e alimentos, dos cálculos globais. Na Europa, nos Estados Unidos e no Japão os núcleos de inflação estão estáveis ou em queda, ou seja, as altas recentes das cotações de vários preços agrícolas não contaminaram, pelo menos por hora, a inflação.

A questão a ser respondida a seguir é qual será a possível trajetória dos preços agrícolas para o ano próximo, ou seja, continuaremos a ter preços agrícolas mais elevados em 2008?

Para responder a esta pergunta temos antes que lembrar as causas que colocaram os preços, especialmente de grãos, onde estão hoje. Creio que haverá pouca discordância com relação à seguinte lista: aumento da demanda de alimentos por conta da elevação da renda; quebra de safra, especialmente importante no caso do trigo; elevação na demanda de milho, nos EUA, para a produção de etanol; elevação na demanda por biodiesel, estimulada pelos altos preços do petróleo; a desvalorização do dólar, que pressiona e corrige as cotações nas bolsas de mercadorias; e, finalmente, o contínuo crescimento dos volumes de recursos alocados nos fundos de "commodities".

Nosso argumento básico, após considerar a lista acima, é que os preços agrícolas não continuarão em trajetória ascendente no próximo ano, exceto por distúrbios climáticos que, hoje, não se pode prever. Antes de tudo temos que considerar a resposta da oferta agrícola: no caso do trigo, a safra quebrou de forma importante, no ano em curso, na Austrália, Rússia, Ucrânia e outros lugares, levando as cotações às alturas. É, pois, natural que o plantio cresça na próxima estação, trazendo os preços para patamares mais razoáveis. O próprio mercado futuro assim sinaliza, com as cotações de maio (quando entra o trigo de inverno americano) já muito mais baixas. O mesmo deverá ocorrer com o plantio de soja e milho, especialmente na América do Sul. Por outro lado, o salto na produção de etanol de milho levou a uma derrocada de preços nos EUA, que de quase US$ 4 por galão no ano passado vieram para US$ 1,6 nos dias de hoje, o que deverá reduzir a fúria no crescimento da demanda de milho. Como o Brasil já sabe, a construção de uma infra-estrutura de distribuição de etanol leva tempo e custa dinheiro. Da mesma forma, a altura atingida nos preços de óleos vegetais vai desestimular, em certa medida, a demanda de biodiesel. No caso do Brasil, o biodiesel está inviável, exceto para projetos destinados ao consumo no local de produção.

Em resumo, o processo de elevação da oferta e redução relativa na demanda está em pleno andamento, como é tradicional na agricultura. Ademais, é provável que dentro de poucos meses a desvalorização do dólar seja contida, em virtude do ajuste externo em andamento nos Estados Unidos. Restam, portanto, dos elementos altistas, a elevação da demanda de alimentos, que vai continuar, e a entrada de recursos nos fundos de "commodities". Como já coloquei várias vezes neste espaço, os fundos continuarão a ser elementos decisivos nos mercados futuros. Entretanto, estou convencido que eles nunca vão contra os fundamentos, mas ampliam as variações positivas ou negativas pelo tamanho de suas posições.

Em outras palavras, nenhum mercado será persistentemente altista contra os fundamentos. Por outro lado, é a atuação dos fundos que abre possibilidades maiores de "hedge" para os produtores.

Em conclusão, a elevação da demanda por produtos agrícolas deverá manter os preços em patamares relativamente elevados. Entretanto, em relação aos níveis atingidos neste ano, é muito mais provável uma correção negativa de certos produtos, como o trigo, e uma descompressão nos mercados de grãos como um todo. Ao longo do tempo, estou convicto que assistiremos, como muitas vezes no passado, a uma elevação do uso de tecnologia no campo, aumento da área cultivada em vários países do mundo (e no Brasil, em particular), reduzindo, senão eliminando, as chances de uma elevação da inflação mundial por conta da agricultura.

No caso do Brasil, a influência dos alimentos na inflação é muito maior, pois trabalhamos com os índices cheios. Mas, apenas a título de exercício, o núcleo do IPCA, sem alimentos e preços administrados, está em setembro subindo 2,7% no ano e 3,6% em 12 meses. No IPCA cheio os alimentos sobem 11,2% em 12 meses.

Para o Brasil tenho a mesma perspectiva acima exposta para os preços agrícolas: os preços estão num topo do qual deverão recuar. Em alguns casos, como o leite e o álcool isto já está acontecendo. Em outros, como os grãos, a elevação do plantio e a queda do dólar deverão levar a níveis menores em 2008, afetando positivamente o preço das carnes. Em resumo, não tenho preocupação quanto a uma eventual inflação agrícola, desde que o clima não atrapalhe. Tenho, entretanto, alguma preocupação com a inflação em 2008 por outras razões, que coloco a seguir.

Em primeiro lugar, a demanda interna está crescendo a taxas muito elevadas; as vendas ao varejo (que são apenas parte da demanda agregada) até julho estão crescendo 9,7% no ano e 8,7% em doze meses. Embora as importações estejam crescendo muito rapidamente, a produção destinada ao mercado interno também. É perceptível, nestas condições, uma recuperação cada vez mais generalizada de margens nas cadeias produtivas, como na automobilística e na construção civil (o INCC cresceu 4,62% no ano e a mão de obra 5,33%). Mesmo que as importações venham a crescer mais, isto leva tempo e ainda assim restará a questão dos não-comercializáveis. Com a alta do petróleo, os óleos combustíveis cresceram, até setembro 21,8%, a nafta 27%, o querosene 9,3% e o GNV 7,1%. A cadeia do plástico e os custos de energia serão pressionados. Finalmente, projetamos preços administrados maiores no ano que vem, da ordem de 3,8%.

Em conclusão, a inflação está em leve aceleração e deve ser maior no IPCA no ano que vem, algo como 4.3%. A inflação brasileira, ainda que baixa, não é mais sempre decrescente (José Roberto Mendonça de Barros é economista da MB Associados; Valor, 18/10/07

terça-feira, outubro 16, 2007

Bebida de Café - Coca e Illy

Deu na Folha de São Paulo de hoje que a Illy e a Coca se unirão na produção de bebida à base de café:

Illy e Coca-Cola vão produzir bebida fina à base de café

A Coca-Cola e a Illycaffè vão lançar uma bebida à base de café para bater de frente com a parceria que foi feita entre a Starbucks e a Pepsi. Até o final deste ano, a Coca-Cola espera concluir o acordo com a empresa italiana. A bebida, que deve ser lançada em 2008 na Itália, Alemanha e Grécia, usará como matéria-prima o café produzido pela Illycaffè, que é a segunda maior produtora de café da Itália, depois da Lavazza SpA.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Entrevista com Roberto Rodrigues no Terra Magazine

Em entrevista publicado no Terra Magazine, o ex-ministro da Agricultura e grande defensor dos biocombustíveis fala com os biocombustíveis podem ajudar a mudar o mundo e sobre o cenário atual da bioenergia no Brasil e Mundo

Biocombustíveis vão mudar o mundo, diz ex-ministro

15 de outubro de 2007, 08h58

Daniel Bramatti

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues fala do etanol como militante. Para ele, os biocombustíveis vão "mudar o mundo". "Quero mudar a civilização, sair da dependência de um produto fóssil, finito e mal distribuído para um produto renovável, ambientalmente mais correto e que qualquer um pode fazer."

Produtor de cana desde os anos 70, Rodrigues vê o desenvolvimento da agroenergia como uma forma de chacoalhar a geopolítica do planeta, criando "um fluxo de recursos de cima para baixo e um fluxo de combustíveis de baixo para cima".

Para o ex-ministro, os Estados Unidos vão desenvolver seu setor de álcool combustível "custe o que custar", em nome da segurança energética, apesar das limitações do etanol feito a partir do milho. Por causa dessa ênfase na produção interna norte-americana, ele vê na Ásia o mercado mais promissor para as exportações brasileiras.

Presidente do Conselho Superior de Agronegócios da Fiesp e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Rodrigues ajudou a criar recentemente o primeiro curso de mestrado em agroenergia.

Em entrevista a Terra Magazine, o ex-ministro falou sobre questões ambientais, tecnologia, eliminação do corte manual da cana e risco de desnacionalização da produção de etanol. Leia a seguir:

Recentemente, o jornal The New York Times relatou uma série de problemas no programa de etanol dos Estados Unidos, como excesso de produção, altos custos, baixa eficiência do milho como matéria prima e gargalos de logística. É um programa viável?

Quando terminou a segunda guerra mundial, a Europa tomou a decisão de montar uma política agrícola comunitária, a partir do que eles chamavam de segurança alimentar, com o conceito estratégico de nunca mais haver fome no continente, custasse o que custasse. E daí surgiu a Comunidade Econômica Européia. E até hoje 34% do PIB agrícola europeu é subsídio. Hoje, os países do mundo estão olhando a energia como a questão estratégica central. Não é mais a segurança alimentar a questão essencial, é a segurança energética. De novo, a coisa do custe o que custar faz parte do processo.

Se você pergunta se o projeto americano é sustentável, do ponto de vista meramente econômico, não é. Mas, do ponto de vista político, é. Não há como produzir energia, a curto prazo, que não venha da biomassa. Os Estados Unidos não têm um projeto com a premissa de produzir 100% do etanol que vão consumir. Em 2017, eles vão consumir 100 bilhões de litros, e hoje eles produzem 20 bilhões. Não vão produzir 100 milhões de litros com milho. O milho é uma etapa do processo, que vai evoluir para outras alternativas.

Com o protecionismo nos Estados Unidos, o melhor mercado para o Brasil é o Japão?

Sempre defendi a tese de que o grande mercado é a Ásia, não só o Japão. Lá há países com elevado grau de poluição e sem alternativas de produção, e que importam 100% do petróleo que consomem. Eles precisam de alternativas, e o biocombustível representa uma oportunidade no curto prazo.

O problema é que nenhum país quer ficar dependente de um único fornecedor. Todo nosso empenho hoje é trabalhar parcerias para produzir etanol no Caribe, na África, na Tailândia, no Vietnã. A criação de um mercado depende da existência de mais países produzindo e de legislações nacionais que tornem o uso do etanol obrigatório.

Na expectativa da expansão do mercado, os investimentos no Brasil deram um salto. Existe risco de excesso de oferta, baixa de preços e quebradeira?

Baixa de preços já aconteceu neste ano. Mas o mercado vai se ajustando. Nos Estados Unidos, o preço do milho ficou remunerador, e já estão plantando 15% a mais. Resultado, o preço caiu. Aqui no Brasil, a oferta de cana subiu 7%. Como não tem mercado para os 7% a mais, o preço caiu 35%. E gente pode sair do mercado, sim. Gente que vinha em busca de um resultado imediato muito grande passa a refazer as contas. Teremos um período de dois ou três anos de ajuste interno.

Há quem veja risco de desnacionalização do setor. Existe isso?

Não acho que seja um problema, por enquanto, mas é preciso ficar atento. Tenho defendido a tese de que temos de aproveitar essa oportunidade que o etanol oferece no Brasil e fazer um modelo de produção desconcentrador de renda.

Depois que o IAA Instituto do Açúcar e do Álcool foi extinto pelo Collor, em 1990, o setor foi se concentrando muito. Eu tenho defendido o seguinte: a indústria para o industrial, a terra para o agricultor. A terra não pode ser propriedade do investidor.

No lado oposto de quem fala em desnacionalização estão os que temem o poder excessivo da Petrobras no setor. Como o senhor vê o papel da estatal?

A Petrobras pode ser um agente importante para criar mercados em outros países. Mas não faz sentido uma legislação que se anuncia aí à boca pequena, de que a Petrobras ou a própria ANP seriam reguladoras do sistema, o que seria uma volta ao modelo de intervenção do Estado.

O que eu defendo é a criação de uma secretaria nacional de agroenergia. É preciso que a gente defina com clareza quanto álcool queremos produzir, quem vai cuidar de logística, estocagem, tecnologia, financiamento, recursos humanos, zoneamento agrícola, questões sociais, questões ambientais... São problemas que estão distribuídos por 11 ministérios, sem contar Embrapa, Petrobras, ANP, ANA, universidades...

E qual a receptividade à sua proposta no governo?

É dúbia. As pessoas entendem a mensagem e pensam nisso. Por outro lado, há quem não queira a criação de mais um ministério, há quem não queira perder o poder que tem.

Como o senhor vê o impacto dos biocombustíveis a longo prazo?

Temos uma chance de ajudar a mudar o mundo. Vejo os biocombustíveis como uma mudança da economia agrícola mundial. Isso muda a geopolítica. Onde vai se produzir cana-de-açúcar e biomassa? Nos países tropicais, América Latina, Ásia e África. E o consumo está ao norte. Então há um fluxo de recursos de cima para baixo e um fluxo de combustíveis de baixo para cima. Cria-se uma nova geopolítica mundial. É uma imensa responsabilidade para o único país que domina a tecnologia, que somos nós.

Não quero vender álcool, quero vender usina de álcool, carro flexível. Quero mudar a civilização, sair da dependência de um produto fóssil, finito e mal distribuído para um produto renovável, ambientalmente mais correto e que qualquer um pode fazer. Isso muda o mundo! Tenho pena de ter 65 anos de idade, queria estar começando agora...

Há uma polêmica sobre a possível produção de cana na Amazônia. O senhor é a favor?

Não sou a favor nem contra, mas acho que não precisa. Não acho que alguém vai derrubar árvore para plantar cana se há tanta terra melhor com mais condições de logística. A cana tem é de ocupar terras de pastagens. Nossa produtividade de carne por hectare está dobrando a cada dez anos. Já é visível que hoje há sobra de pasto.

Também há muito pasto degradado, onde pode entrar um cultivo muito mais rentável, como o da cana. E quando a cana entra em área de pasto, ela induz à produção de alimentos. É uma gramínea que permite a rotação com outras culturas. A cana não apenas não compete com os grãos como favorece o aumento da produção de grãos. Então não precisa ir para a Amazônia.

Outra questão polêmica é a social. Neste ano houve novos registros de mortes por exaustão. O senhor acha que as usinas estão fazendo tudo o que podem para melhorar as condições de trabalho?

É preciso ter cuidado com as generalizações. Não sei. As que eu conheço em São Paulo estão fazendo tudo o que podem. Mas vejo pela imprensa que nem todas estão. Aqui em São Paulo eu vejo duas correntes. Uma que defende a tese de que o trabalho no corte de cana é sub-humano. Há 500 anos se corta cana a mão no Brasil e isso nunca foi sub-humano, mas agora virou, porque certas coisas acabam radicalizando de um lado ou de outro. Então querem acabar com isso e promover a mecanização do corte. E tem gente, inclusive sindicatos de trabalhadores rurais, que são contra, porque isso gera desemprego no campo.

Acho que as duas correntes têm razões. O corte de cana é um trabalho bruto, não sub-humano. Sub-humano é o desemprego. Acho que deveríamos caminhar para a eliminação do corte, mas num processo. Fiz uma proposta aqui em São Paulo de eliminar aos poucos. Pelo menos 400 mil hectares plantados com cana não são mecanizáveis, por serem áreas muito inclinadas. Então aí poderíamos aí plantar fores, frutas, seringueiras, madeira. É preciso treinar paulatinamente a mão de obra da cana para trabalhar em outras áreas. Eliminar o corte manual sem provocar crise social.

Terra Magazine

domingo, outubro 14, 2007

Merril Lynch lança Índice de Biocombustíveis

A Merril Lynch lançou dois índices para acompanhamento por parte dos investidores do mercado mundial das commodities relacionadas aos biocombustíveis.

Este índice foi lançado no dia 02 de outubro e usará um período de 15 dias para analisar as operações de compra e venda de sete commodities relacionadas aos biocombustíveis: açúcar, milho, soja, cevada, colza (canola), óleo de canola e óleo de soja. A ponderação será realizada em função de seu poder energético e níveis de produção. Este índice será chamado de MLCX Biofuels Index.

Um outro índice derivado deste incluirá gasolina e óleo diesel ao índice anterior e será chamado de MLCX Biofuels Plus Index.

Em breve teremos valores deste índice, visto que os 15 dias inicias para o cálculo devem se expirar logo.

Um documentário sobre o milho

A produção de milho vem a cada dia chamando mais a atenção dos leigos à agricultura, principalmente devido ao seu uso energético e o infinito debate food vs fuel que muitos ainda levantam.

Um livro que estuda a cadeia do milho e suas aplicações na indústria de alimentos é o Dilema do Onívoro de Michael Pollan que acaba de ganhar uma versão em português. Espero em breve fazer um resumo dele quando acabar de ler a versão original.

Trilhando o mesmo caminho, foi lançado nos EUA o documentário King Corn onde dois amigos que vão até o meio-oeste americano e plantam um acre de milho e os acompanha até o processamento dos alimentos.

Não tenho a menor idéia de quando este filme chegará ao Brasil mas o site http://www.kingcorn.net tem informações oficiais sobre o filme e seu trailer.

Outro recall de alimentos nos EUA

Poucos dias após o recall de três fabricantes de alimentos nos EUA, fato noticiado por este blog, ocorreu um recall por parte da ConAgra em virtude de suspeitas com relação à contaminação de salmonela em suas tortas congeladas de marca Banquet em 139 casos em 30 estados diferentes. Além disso ela decidiu parar a produção da fábrica em Missouri onde elas foram produzidas.

Na verdade, a empresa pediu aos supermercados que parassem a venda destes produtos.

A reportagem em inglês está no site da CNN.

sábado, outubro 13, 2007

Interatividade interessante sobre biocombustível

Na edição deste mês da National Geographic tem na capa uma matéria sobre biocombustíveis com o seguinte título "Green Dreams" e além de uma matéria muito interessante existe uma interatividade sobre preços de varejo, emissões de CO2 e balanço energético do etanol de milho, cana e celulósico e biodiesel de grãos e de algas.

domingo, outubro 07, 2007

Subsídios americanos - 64 bilhões em 4 anos

A "festa" dos subsídios americanos aos seus produtores agrícolas transferiu cerca de US$ 64 bilhões no período de 2002 e 2005. Assim fica difícil competir!

A reportagem completa está abaixo e foi encontrada no Panorama Brasil:

SUBSÍDIOS AGRÍCOLAS DOS EUA, ENTRE 2002 E 2005, FORAM DE US$ 64 BILHÕES

O enviado especial dos Estados Unidos (EUA) à Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC), Joe Glauber, anunciou hoje (04) que os subsídios agrícolas estadunidenses foram, a partir de uma média estabelecida entre os anos 2002 e 2005, de US$ 16 bilhões por ano. No acumulado dos quatro anos, registra-se a quantia de US$ 64 bilhões.

As informações são do Departamento de Comércio dos EUA que, pela primeira vez, submeteu à OMC os valores referentes aos subsídios à agricultura dos anos compreendidos entre 2002 e 2005. O ano que apresentou o menor apoio aos agricultores foi 2003, quando foram destinados US$ 10,1 bilhões. Já, em 2005, foi registrada a maior ajuda, cerca de US$ 18,9 bilhões.

Glauber, ao apresentar os dados à imprensa em Genebra, esforçou-se em demonstrar a vontade do governo estadunidense em "trabalhar respeitando os valores propostos nas negociações da OMC". Crawford Falconer, presidente do grupo de negociações agrícolas no organismo multilateral, em julho deste ano, propôs um projeto de acordo que estabeleceria que os EUA reduziriam os subsídios agrícolas praticados no país para uma banda que variasse entre US$ 12,8 bilhões e US$ 16,2 bilhões.

Em setembro passado, os norte-americanos aceitaram, pela primeira vez, esta proposta como base para que seja possível uma negociação com os países emergentes, liderados por Brasil e Índia, que exigem a diminuição dos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos. "Até a margem mais alta da proposta de Falconer representará aos EUA um corte substancial", frisou Glauber, destacando a disposição estadunidense em fechar um acordo para liberalizar o comércio na Rodada de Doha.

Já, o secretário da Agricultura dos EUA, Chuck Conner, em comunicado, preferiu destacar que a divulgação dos valores referentes aos subsídios agrícolas americanos demonstra "a total compatibilidade deles com os compromissos assumidos na OMC". (PanoramaBrasil, 5/10/07)

Segurança alimentar no EUA. O que está acontecendo?

Tivemos nesta semana, três casos de problemas de contaminação em alimentos industrializados por grandes empresas nos EUA.

O primeiro foi divulgado no dia 4 de outubro. Foi o recall de chocolates da Kraft de marca Baker's Premium White Chocolate Baking Squares que estão contaminados pela bactéria Salmonela. A notícia completa está disponível em inglês no site da CNN.

O segundo e terceiro casos são relacionados à carne bovina e foram divulgados no mesmo dia (5 de outubro). O primeiro consiste em hamburguers congelados da marca Topps Meat Co. (maior fabricante) que foram contaminados pela bactéria Escherichia coli que causa problemas gastrointestinais em cerca de 30 pessoas em 8 diferentes estados americanos. A quantidade contaminada é de aproximadamente 10 mil toneladas e foram produzidos na unidade industrial de Elizabeth no estado de New Jersey durante um ano (25 de setembro de 2006 a 25 de setembro de 2007). Trata-se do segundo maior recall da indústria de alimentos nos EUA. Por causa dos impactos financeiros deste recall, a empresa anunciou sua saída do mercado.

No mesmo dia, o Sam's Club da rede Wal-Mart anunciou que estava retirando hamburgures congelado da marca American Chef's Selection Angus Beef da Cargill de suas prateleiras em todo o país devido à investigação por parte de autoridades sanitárias do Estado de Minnesota de contaminação de quatro crianças por E.coli.

A notícia com estes dois casos de contaminação de E.coli encontra-se no site da Newsweek e a do fechamento da Topps Meat no site da CNN.

O interessante é verificarmos o grau de exigência destes mercados com relação aos produtos agroindustriais do Brasil, enquanto no mercado interno ocorrem estes sérios problemas de contaminação.

terça-feira, outubro 02, 2007

O lado "perverso" do etanol de milho na tradição americana

A crescente utilização de milho para a produção de etanol está fazendo com que a tradicional fabricante de ketchup Heinz pense em excluir a utilização de adoçantes à base de milho em sua fórmula, como podemos ver na reportagem da BBC abaixo:

"EFEITO ETANOL" PODE OBRIGAR EMPRESA A TIRAR MILHO DE KETCHUP

Uma das marcas de katchup mais amadas pelos americanos poderá ter de mudar a sua fórmula. E a culpa é do etanol. A empresa Heinz, fabricante do ketchup de mesmo nome, já estuda criar uma fórmula que não utilize milho como adoçante.

Isso se deve à alta de preços que o cereal vem enfrentando no mercado americano, devido ao aumento da demanda por etanol. Nos Estados Unidos, o combustível é predominantemente feito a partir de milho.

’Se o preço do milho continuar a subir de forma dramática, como ocorreu no ano passado, devido ao etanol, teremos de buscar outros adoçantes’’, disse Michael Mullen, diretor de Assuntos Corporativos Globais da Heinz.

MESMO SABOR

Mas Mullen fez questão de frisar que uma eventual alteração da fórmula do ketchup não propiciaria uma mudança de sabor do produto.

"A Heinz jamais faria uma mudança em seu principal produto sem promover uma cuidadosa pesquisa com seus consumidores. Não faríamos uma mudança se isso fosse representar uma alteração do sabor. É algo que levamos muito a sério."

Assim como faz a Coca-Cola, por exemplo, a fórmula do katchup da Heinz é mantida em segredo. O xarope de milho usado como adoçante do codimento é apenas um dos componentes básicos do molho.
A fórmula do katchup fabricado pela Heinz nos Estados Unidos e no restante do mundo é distinta. Apenas o catchupe americano faz uso de xarope de milho como adoçante. Em outros países, o adoçante é açúcar.

"Estamos acompanhando de perto o que vai acontecer em relação aos preços do milho. Se a escalada de preços que vem desde o ano passado prosseguir, será preciso estudar outras opções", disse Mullen. Nos últimos seis meses, o preço do milho subiu em mais de US$4 por alqueire.

ADM de olho no etanol brasileiro?

Após Louis Dreyfuss, Cargill, Bunge, Odebrecht e outros fundos de investimentos com grande capacidade de investimento parece que a ADM está de olho na produção de etanol no Brasil.

Atualmente a ADM é a maior produtora mundial de etanol, que é produzido nos EUA a partir de milho. A produção anual é cerca de 4 bilhões de litros.

A reportagem abaixo foi encontrada no site BrasilAgro a partir de um relatório do Relatório Reservado:

ÁLCOOL DA ADM

A norteamericana ADM, que tem acumulado alguns dissabores no mercado brasileiro de soja, vai entrar na produção de etanol. Tem pronto um projeto para construir uma usina no interior de São Paulo (Relatório Reservado, 2/10/07)

Brasil superpotência agrícola segundo os EUA

Em notícia da BBC Brasil, o jornal New York Times comenta a grandeza de nossa agricultura e o destino em ultrapassar os EUA na produção agrícola. Abaixo segue a íntegra do texto:

Embrapa eleva Brasil a "superpotência agrícola", diz 'NYT'

O trabalho da Embrapa, a agência brasileira de pesquisas agrícolas, ajudou a transformar o Brasil no que o ex-secretário de Estado americano Colin Powell classificou como "superpotência agrícola", destinado a ultrapassar os Estados Unidos como líder na exportação mundial de alimentos, segundo afirma reportagem publicada nesta terça-feira pelo jornal The New York Times. Segundo o diário, os laboratórios da Embrapa em Planaltina, no Distrito Federal, se tornaram "uma parada obrigatória para qualquer líder do terceiro mundo em visita ao Brasil".

"Apesar de pouco conhecida na América do Norte, a Embrapa se tornou em três décadas uma líder mundial em pesquisas sobre agricultura tropical e está se movendo agressivamente para áreas como biotecnologia e bioenergia", diz a reportagem.

Segundo o jornal, a Embrapa "deve muito de sua reputação ao trabalho pioneiro no cerrado". "Considerada inutilizável por séculos, a região se transformou em menos de uma geração no cinturão verde brasileiro, graças à descoberta de que os solos podem se tornar férteis com a adição de fósforo e cal, cuja fórmula foi desenvolvida pelos cientistas da Embrapa", diz a reportagem.

O texto também relata que a Embrapa ajudou na disseminação do "principal cultivo da região" ao desenvolver 40 variedades tropicais de soja, por muito tempo considerada um cultivo de regiões temperadas.

"Como resultado, o Brasil é hoje o maior exportador mundial de soja e de carne e um crescente exportador de algodão", diz o jornal. Segundo a reportagem, "sob a nova definição ampliada de agricultura da Embrapa, nada parece fora do limite, de um novo tipo de suíno tropical que tem menos gordura e colesterol à extração de bio-polímeros de aranhas". "Conseguir financiamento adequado é sempre um problema para qualquer instituição de pesquisas no Brasil. Há dois anos, porém, o Congresso brasileiro aprovou uma lei que permite à Embrapa lucrar com suas pesquisas e ampliou a habilidade da agência de conseguir parcerias", relata a reportagem.

O jornal comenta ainda que além das parcerias privadas, a Embrapa também conta com o apoio de organismos multilaterais de crédito e de desenvolvimento, como o Banco Mundial, para se tornar mais conhecida no exterior.

"Apesar de ter há tempos programas de intercâmbio que trouxeram cientistas da América Latina, da África e da Ásia para trabalhar em seus laboratórios, só recentemente a Embrapa abriu seu primeiro escritório no exterior, em Gana, sede do Fórum para Pesquisas Agrícolas na África", diz o jornal.

A reportagem conclui afirmando que "assim como a fabricante de aviões Embraer, que encontrou um nicho lucrativo vendendo jatos de pequeno porte, a Embrapa parece disposta a se concentrar em comercializar o know-how que desenvolveu em cultivos e produtos comumente ignorados pelas pesquisas das instituições dos países industrializados do Hemisfério Norte".